“A maldição de Omulu é Gangrena Gasosa no
seu cu”. Com esse slogan nada convencional, qual esperança que uma banda
independente carioca teria para conquistar um Prêmio Multishow ou mesmo ser a
banda do ano da revista Bizz? Nenhuma.
Mas esse talvez nunca foi o objetivo da Gangrena Gasosa. Imprensa pra eles era o seu fanzine Amputação. O que eles queriam mesmo era incomodar, fazer merda, falar besteira,
zoar o barraco. Resumindo: ser desagradável.
Ninguém acreditava, mas a primeira e única
banda de saravá metal do mundo completou duas décadas de existência! Nesse
meio-tempo muita coisa aconteceu. Milhares de integrantes entraram e saíram
(alguns voltaram), foram perseguidos pela fogueira de Israel da Igreja
Universal, estragaram casas de shows, foram jurados de morte, apanharam,
bateram, fugiram de skinheads na Alemanha, enfim, plantaram o terror. Sim,
foram desagradáveis.
Independente de todas essas desgraças, é
inegável que a Gangrena é uma das bandas mais criativas que surgiram no cenário de
rock alternativo dos anos de 1990. Sua evolução foi percebida em praça pública,
desde as primeiras demo-tapes, passando pelo LP “Welcome to terreiro”, chegando
até o já clássico “Se deus é 10, satanás é 666”, seu último lançamento
fonográfico. Passaram de uma banda tosca, se enveredaram pelo extremo hardcore até incorporar a percussão em sua formação.
Com letras sempre fazendo ligação com
universo da umbanda e candomblé, com uma caprichada dose de humor e no sense
(até um tanto de crítica), não costumam pegar leve com ninguém, mesmo correndo
o risco eminente de ser amaldiçoado por alguma entidade do além.
Motivos de sobra para documentar isso tudo,
né? Foi isso que o vocalista Angelo Arede (no palco, conhecido como Zé
Pelintra) e o documentarista Fernando Rick pensaram quando inciaram esse
projeto que teve parte da produção financiada por meio de crowdfunding.
Rick foi um dos produtores do documentário
“Guidable – A verdadeira história do Ratos de Porão” e não poupou qualidade
técnica para esse registro que soma mais de três horas de entretenimento.
Foram entrevistadas diversas personalidades
do submundo, como João Gordo e Jão do RDP, Jello Biafra, Marcelo D2, BNegão, Rafael
Ramos, Xan Braz, Fábio do Garage, e ainda membros e ex-membros da banda,
contando os fatos mais incríveis e inacreditáveis (porém, verdadeiros) capazes
de levar a gargalhadas brutais em diversos momentos do documentário.
Tem as histórias protagonizadas por Paulão,
que quase morreu apanhando, a outra que ele fez amor com uma mulher misteriosa
que sumiu depois que quase foi morto por um trem; o tênis podre do Cid, que era lar de uma barata; o Fábio que pegou uma maldição por abrigar shows da banda no Garage; as aventuras no programa do
Jô Soares e ainda muitas aventuras da banda pelo Brasil e na tour que fizeram
na Europa, em 2001.
No CD bônus tem a gravação do show
“Gangrena Gasosa no Inferno”, o documentário “Saravá Metal” e o clipe de
“Cambonos from hell”. No show, os maiores clássicos da banda, a participação do
Pai Jão, fechando com uma cena muito bizarra e assustadora.
Os paulistas tiveram a grande oportunidade
de no mesmo dia ser lançado o DVD, puderam conferir o show da banda, com
direito a muitas participações especiais.
Um registro de alta qualidade e honestidade
que, além de contar a saga da Gangrena, ainda registra um pouco da história do
rock carioca de sua época.
Recomendo que
confira esse material. Há muitas provas das urucubacas causadas em quem duvidou
dos poderes de bando de malucos. A maldição de Omulu deve doer.
Rock como em tudo tem umas facetas legais outras não.
ResponderExcluirSou fã da Gangrena. Vi o documentário umas 4 vezes, sempre rindo muito. Muito feliz que tenham feito esse registro classe A de uma das bandas mais fodonas do Brasa.
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