Joacy Jamys era um cara hiperativo. Sempre
estava produzindo alguma coisa: seja na sua banda Estrago, nos seus zines
Sociedade dos Mutilados, Não Sistema!, Grito?, subindo alguma coisa em seu
site, organizando o grupo SingularPlural (anteriormente chamado de Grupo de Risco), manifestando-se contra o sistema, ou
mesmo fazendo alguma ilustração para alguma banda ou zine. Nas horas vagas até
dava aulas de histórias em quadrinhos.
Ele deve ter colaborado para 90% dos zines
dos anos de 1990, sempre tinha uma tira ou HQ sua (geralmente a mesma em
diversos zines diferentes). Nos meus zines coloquei diversas delas. Nenhuma exclusiva, exceto a lindíssima capa do Aaah!!
#5.
Na época em que fez essa capa, ele me
mandou a ilustração original, a qual guardei por muito tempo em minhas coisas.
Mais de dez anos depois, já conversando com ele via e-mail, comentou que estava
montando uma coletânea que possivelmente sairia em formato de livro e estava
recolhendo materiais que produziu. Comentei com ele sobre o original e ele
gentilmente me pediu e eu prontamente enviei. Dois meses depois, recebo a
notícia de que ele foi acometido por um AVC que o levou para o além. Fiquei
anos batendo a cabeça para saber do que se fez com esse material, mas até hoje
não obtive uma resposta sobre.
Anos mais tarde (mês passado) recebo em
minha casa a primeira edição da publicação Monstros do Fanzine, lançado pela editora independente AtomicBooks, que é inteiramente dedicada a Joacy Jamys! E não é uma publicação
qualquer: são 136 páginas dedicadas ao artista radicado em São Luis/MA, com
tratamento de imagens, papel especial e impressão magnífica.
Capa da primeira edição da série Monstros dos Fanzines dedicada a Joacy Jamys |
Ilustração para a banda The Power of The Bira |
A publicação lançada em setembro de 2013 apresenta diversas fases e
estilos de Jamys: desde quando ainda estava engatinhando nos rabiscos, passando
pelos traços mais sujos, chegando até um estilo mais maduro, o qual lhe rendeu
o título de “Moebius brasileiro”. Além das diversas tiras, HQs, capas de
demo-tapes e zines, logotipos e charges, ainda tem um artigo de Gazy Andraus,
uma entrevista de 2004 e a apresentação de Henrique Magalhães.
O editor Marcos Freitas acertou em cheio em
inaugurar essa publicação com um artista tão eclético e polêmico que, além de
ser um artista underground ímpar, era uma grande pessoa, conectada com tudo que
acontecia ao seu redor e no mundo e sempre disposta a ajudar de alguma forma.
Um importante registro feito de forma
bastante profissional (mais que merecido) e que serve para os velhos
relembrarem a arte desse artista que não teve o reconhecimento do “grande público”
na sua época e para os mais novos se inspirarem num trabalho que não foi
agraciado por mesas digitais ou programas de aperfeiçoamento de imagens.
Mestre Jamys merece este trabalho magnífico feito pelo Marcos Freitas. Parabéns pela resenha!
ResponderExcluirMuito boa a resenha, a edição é mesmo magnífica!
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