
- Lembra daquelas caixas de zines que eu disse que ia te dar? Então, preciso desocupar o espaço da casa do meu pai. Pode ser domingo? Me liga.
Essa foi a intimação final de Carlos Rodrigues Costa no meu Facebook.
Uma vez, quando visitei a sua extinta loja Sensorial Discos, ele disse que as caixas eram minhas. Enrolei por uns bons meses até receber essa última ameaça.
Tinha que pensar rápido: como explicar a chegada de três caixas de zines velhos na minha minúscula casa, numa época em que a ordem é o desapego e a desocupação de espécimes? Já sei: não explicar. Pronto.
Alguns e-mails, SMS e telefonemas depois, me vejo em um domingo, sete da manhã (pra calhar, bem no dia que começou o horário de verão, ou seja, acordei às seis!), chovendo como um tradicional janeiro paulista. Rodovia Castelo Branco, com direito a passagem ida e volta.
Em menos de uma hora lá estava eu em Itapevi ao lado das cinco caixas de fanzines. Cinco caixas??? Sim, duas a mais!
Uma olhada por cima e por dentro das caixas, já via que teria em mãos muitas coisas raras do submundo (não vou citar o quê, pra não causar furor!).
- Tem certeza mesmo que quer me dar isso? – perguntei por mais de dez vezes e obtive um “sim” em todas elas. OK, eu levo.
Voltei feliz, mesmo com a chuva castigando e deixando toda a vista esbranquiçada.
Não houve reclamações em casa. Estranho. Até hoje não reclamaram. Mais estranho.
Demorei uma semana até abrir a primeira caixa. Passei a folhear. Não, isso não ia dar certo. Não ia render nada ficar procurando datas e nome do editor. Só dá mesmo, por enquanto, pra separar por tamanho!
De repente, me dei conta de algo: diversos fanzines estavam carimbados com meu nome e endereço. Eu tinha o hábito de marcar coisas de “minha propriedade”.
Em 1994 fui com o Carlos para Mariana/MG participar de um evento de cultura alternativa organizado pelos alunos de História da Universidade Federal de Ouro Preto. Levamos na bagagem bolsas e bolsas de zines para uma exposição (nunca me esqueço a sensação de estar com bolsas pesadíssimas no metrô em horário de pico!). Na volta, com certeza, um trouxe zines do outro. E o ditado piscando em luzes de neon: “o bom filho a casa torna”. Bons meninos.
Dias depois retorno à peregrinação. E descobri que aquelas caixas me preparavam mais surpresas: edições de fanzines que tive, mas que perdi em enchentes e empréstimos que nunca mais voltaram. E lá estavam em casa os irmãos gêmeos do Papakapika, O Cabrunco, Bizarre Inc., Maria Overdrive, Escarro Napalm e até um zine que participei – e nunca havia visto – sobre a banda Soutien Xiita. Sorrisão no rosto.
Já era tarde. Ainda tinha uma caixa. Minha rinite perturbando. Olhei para a caixa. Ameacei fuçar o que tinha. Decidi que não.
Vou deixar um pouco de felicidade para outro dia. Até lá, a rinite sossegou e haverá um motivo especial para sorrir feito um menino bobo que ganhou um boneco Falcon após inúmeros pedidos pro pai.
Quanta felicidade encaixotada! Belo texto, camarada.
ResponderExcluirCheers
Viegas.
Sensação boa que a gente até sente junto rs...
ResponderExcluirtexto lindo!
viciados em ácaros...hehe
ResponderExcluirQual Falcon ? sem barba ou olhos de águia ? kkkkk
ResponderExcluirMuito bom. Eu ficava assim quando ganhava caixas de discos.
E algumas 'caixinhas' de zines a mais não vão ocupar tanto espaço assim...rsss
abraços.
márcio
ResponderExcluirsei q na tua mão terão bom destino, rs.
p.s.: aquela viagem para Mariana foi muito legal, mas não lembrava sobre os zines, desculpe! rs
cara, Q texto otimo, emocionei-me!
ResponderExcluirabz
Sentiu falta de reclamações em casa né? Não teve! Pois bem, hoje conversaremos a respeito desse monte de caixas!!
ResponderExcluirBeijinhos
Joelma
Vixi... A caixa, ops, a casa caiu!!! Dona da casa na área!!!
ResponderExcluirCarlos, achei muito louco encontrar esses zines nas caixas! Nunca pensei que fosse acontecer isso!
Mikhail, eu queria o Falcon de barba com olhos de águia, mas nunca ganhei!