sábado, 29 de dezembro de 2012

METAMAUS




Ter um relacionamento próximo com o próprio pai, não é a coisa mais comum quando um homem chega à fase adulta. Por vários motivos. Um deles é termos maturidade e convivência suficientes para sacar que aquele espelho tem lá seus inúmeros defeitos e, quase sempre, não é mais possível engolir tudo que vem do velho. Aí surgem os conflitos e, consequentemente, o afastamento. Quando o pai já caminha para a “reta final” da vida, a necessidade da reaproximação por parte do filho é quase sempre latente. Nem sempre dá tempo de recuperar esse tempo. Mas às vezes dá.

Allan Sieber fez isso em Ninguém me convidou, no qual conta a história de seu pai, com o roteiro do filho e desenhado por Jouralbo Sieber. Duas décadas antes, Art Spiegelman contou a história de seu pai em Maus – A história de um sobrevivente.

A história de vida de Valdek se passou no holocausto e, com os relatos do protagonista, é possível observar a história de dentro dos campos de concentração, câmaras de gás e fornos onde eram queimados os judeus mortos. Além de mostrar o sofrimento do pai nesse período  vergonhoso da história da humanidade (entre eles, a perda de sua então esposa Anja), Art também opta em mostrar a figura parterna além de Auschwitz, explicitando o quanto era ranzinza, mesquinho e preconceituoso.

Como as entrevista que fez com o pai foram repletas de momentos tensos, Art aparece como personagem da história. Mas isso é muito pouco diante da audácia do autor para dar sua versão ao holocausto: retratou os judeus como ratos, os nazistas como gatos e os poloneses como porcos. É lógico que isso iria lhe trazer problemas (e de fato deu), mas independente de qualquer repercussão ou manifestação que se fez com o lançamento desse livro, Maus se tornou uma das mais importantes graphic novels de todos os tempos.


Décadas depois do lançamento, Spiegelman ainda tinha que responder a perguntas do tipo: “por que HQ?”, “por que rato?”, “por que o holocausto?”. Para dar um basta definitivo nisso, surge então em 2011, via Pantheon Books, o MetaMaus.

O livro é conduzido por uma entrevista (ou conversa) cedida a Hillary Chute,  dividida em capítulos que têm como títulos as mesmas perguntas sempre fitas ao autor.

É um material completo que, além de rascunhos, reproduções de anotações e estudos em sketch books, fotos, transcrição da entrevista com pai, entrevista com a esposa e filhos do autor, também vem um DVD com os dois volumes de Maus digitalizados do original, com recursos multimídia que mostram os estudos de cada quadro, áudio com comentários Art e trechos da entrevista com Vladek. Coisa fina.

Tem uma porção de curiosidades, como as dúzias de rascunho que fez de um único quadro, as cartas das editoras que recusaram publicar o livro, o relato dos três casamentos com a mesma mulher (sendo que no último contou com a banda de Robert Crumb), os conflitos com a imprensa e protestos que enfrentou em diversos lugares, as crises que teve (e tem) em relação a tudo isso.
Enfim, os próximos repórteres terão que se desdobrar para entrevistá-lo a partir de agora!



Essa publicação é algo bem além de um livro para fãs de Maus, é um documento muito interessante que ajuda a entender melhor as técnicas de desenho, as soluções para encaixar determinado quadro em tal lugar e para obter mais conhecimento sobre o holocausto.

Ainda não tem previsão de uma edição brasileira, mas vale a pena gastar uns dolarezinhos pra conferir esse material incrível. Também é possível achar em algumas livrarias nacionais a um preço "quase honesto", porém, vale cada centavo gasto.

Abaixo, um clipe para atiçar as suas lombrigas!

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