domingo, 8 de fevereiro de 2009
OS ANOS ZERO-ZERO
Os homens costumam dividir suas vidas em ciclos.
Segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, bimestres, trimestres, quadrimestres, semestres, anos, biênios, triênios, quadriênios, décadas.
Cada década é definida pela indústria cultural e midiática como tendo elementos estéticos, políticos, ideológicos típicos que a caracterizam, sejam eles o grunge, o hippie, punk, beatnik, o tropicalista, a pop arte, o grafite, a mussarela de búfala com rúcula, a maconha, o crack, a queda do muro de Berlim...
Vejam só:
Quando se fala da década de 80, sou condicionado a pensar em: cores neon, new wave e ombreiras. Essas são as primeiras palavras que vêm à cabeça de muita gente.
Fica a pergunta: Como será definida no futuro a década atual, já conhecida como os "anos zero-zero”?
Para analisarmos alguns conceitos estéticos, tomaremos como base uma propaganda de refrigerante:
Alguns amigos sacodem uma garrafa de coca-cola que provoca uma explosão.
Essa explosão provoca uma onda que transforma tudo pelo que passa.
As ruas da cidade são tomadas por cores psicodélicas.
Um cientista tem seu monótono laboratório transformado em uma danceteria brega dos anos setenta.
Um guarda atingido vira super-herói com visual clássico dos gibis da década de cinqüenta.
Prédios infláveis brotam do chão e as pessoas têm suas vestes transformadas com cores típicas dos anos 80 e uma árvore vira um pé de fones “Ipod” (contemporâneo).
Do chão brotam blocos coloridos semelhantes aos dos jogos também dos anos 80 e uma Kombi com cores típicas dos vídeos clipes dos anos 90 leva jovens que dançam a trilha do comercial, uma versão punk rock de uma música de um jazzista (Louis Armstrong).
O fim do mundo, que foi iniciado pelo estopim de uma garrafa de coca-cola acelera o aquecimento global e começa a nevar. Praticantes de snow-board surgem de não sabe onde arrepiando com manobras radicais.
De algum lugar, bem do alto, vemos a destruição do planeta com um cogumelo atômico de Coca-cola.
XXX
Foi longa a discussão no blog parceiro CHIVETA sobre o uso abusivo de uma música de Joey Ramone em um comercial da Coca-cola, um dos símbolos capitalistas. Bem, eu acho que eles poderiam ter usado outra música, mais especificamente uma do REM: Is The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine)”.
Mas o uso deste comercial pretende ilustrar um outro fato: a minha teoria de como serão lembrados os anos zero-zero em termos estéticos gerais em um futuro que permita o distanciamento necessário.
Não duvido que as linhas sobre nossa época presente sejam mais ou menos assim:
“...A estética cultural dos anos zero-zero pode ser caracterizada pelo deslumbre tecnológico e o conseqüente excesso de misturas e simbioses de fontes e releituras mais diversas e por vezes contraditórias, influenciada pelo barateamento e maior acesso à tecnologia representadas pelos softwares de produção , gravação e edição musical, ou de criação e manipulação de imagens e vídeos.”
E a linha de raciocínio continua... E o que vem depois? Tenho duas suspeitas que poderemos discutir depois:
a) Um vórtice de fontes e referências caóticas, cada vez mais velozes.
b) Um retorno total ao Low-fi, ao Hand-Made e às tecnologias tidas como obsoletas, humanas e não alienantes (opa, alguém aí falou que prefere gravar sua banda em analógico????)
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dá até medo de imaginar como serão lembrados os ânus 00, mas acho que "deslumbre tecnológico e o excesso de misturas" farão parte, sem dúvida!!!
ResponderExcluirdepois do post vi a propaganda com outros olhos, é que sempre ficava tão triste com o finado Joey que sempre mudava de canal...
destrua seu protools e compre uma Taskan de 4 canais!
ResponderExcluirAcho que a nossa época será lembrada como a "era da morte das ideologias". Na verdade as ideologias morreram antes, nos anos noventa, mas a ausência plena de ideologias só é sentida agora. A onda que quebra, vem se aproximando da areia e morre na praia, de modo triste, melancólico.
ResponderExcluirEssa é a primeira vez na história da humanidade que vemos um mundo desprovido do ideário revolucionário. Não se fala mais em revolução, mas em reforma. A possibilidade de um mundo para além do capital foi varrida do mapa.
Pense na juventude dos anos sessenta, por exemplo. Eles deram suas vidas por algo maior, por um mundo melhor, por um "sonho distante". Eles tinham uma razão para viver.
Vivemos uma era vazia de sentido, pois é desprovida de uma razão para viver.
Sou pessimista sim, como Saramago, um dos poucos que ainda mantém viva a tradição revolucionária do gênero humano.
Só o pessimismo constrói.
Esta crise mundial vai forçar os homens do poder a apontarem o nariz para outro sentido, ainda que seja por razões financeiras.
ResponderExcluirQto a juventude? Ainda temos o Rap e o Skate resistindo fortemente aos encantos do glamour.
www.tribunow.org
os anos 80 tmb foram considerados como uma épodca sem ideologias qnto estavam naquela década... é difícil ver de dentro, mas muitos estudiosos (gosto muito do Jameson, do Featherstone e do Stuart Hall) que pensam sobre a pós-modernidade e a globalização (embora para eles ela tenha começado já nos anos 90) falam da contemporaneidade como uma época plural, onde montamos nossos "estilos de vida" com fragmentos - pedacinhos de personalidades que encontramos principalmente pelas práticas de consumo - e tentamos controlar para fortalecer uma individualidade pautada pela diferenciação...
ResponderExcluire desculpe o realismo, mas o rap e o skate não resistem aos encantos do glamour... acho que não preciso citar exemplos, mas basta uma volta na Oscar Freire ou uma ida ao Tim Festival
ResponderExcluircorrigindo: para os estudiosos a pós-modernidade começou nos anos 60..fui gente! adoro os debates daqui!
ResponderExcluirAproveite e de uma esticada ao Morro do Querozene e até Paraisópolis leia Ferrez ou ainda a matéria mão na massa da Tribo de março.
ResponderExcluirFale a pena tbém conhecer o projeto Cooperifa de sarau de rimadores.
o/ how!
Excelente e construtivo! Parabéns!
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