sábado, 29 de novembro de 2008

GENIUS SECULI


por Edu Zambetti

Tanto para as versões oficiais como para as “teorias da conspiração”, a verdade é que quaisquer fatos ou relatos nunca devem ser engolidos como se fossem aspirinas. O questionamento, o estudo preciso e a busca de informações coerentes em direção da realidade sobre importantes assuntos de nossa história, sem dúvida, são os melhores colírios.



Zeitgeist – The Movie (2007)
Filme produzido por Peter Joseph que apresenta uma série de teorias da conspiração relacionadas ao Cristianismo, ataques de 11 de setembro e a Reserva Federal dos Estados Unidos da América.

Filmes Correlatos:

Mind Control Made Easy or How to Become a Cult Leader
http://zinismo.blogspot.com/2008/11/controle-da-mente_2406.html

O Deus Que Não Estava Lá:
http://www.guba.com/watch/3000084804

Ataque ao Pentágono:
http://www.archive.org/details/Pfilosofia-ataque_ao_pentagono645

Torres Gêmeas:
http://video.google.com/videoplay?docid=-7672112338550693256&hl=en

A Onda (experiência nazi)
http://www.guba.com/watch/3000082444

Espionagem:
http://www.archive.org/details/Pfilosofia-espionagem656

O Caminho para a Tirania:
http://www.archive.org/details/Pfilosofia-o_caminho_para_a_tirania_1462

Nós Pousamos na Lua:
http://www.archive.org/details/Pfilosofia-nos_pousamos_na_lua115

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

SINTONIA DE IDÉIAS


Por Marcelo Viegas

Prólogo

Coincidências existem. O que não existe é o destino. Acreditar que as coisas estão pré-determinadas é discurso de vagabundo: equivale a “largar mão”, afinal que diferença faz? Se há o destino, nada do que fazemos mudará o que está escrito. É cuspir em tudo que construímos até hoje, a tal da história da humanidade. As coisas são como são, é o que dizem. Óbvio, mas são como são porque nos mexemos para que assim seja e porque para algum lugar elas deveriam ir. O contrário é que seria assustador. Na pequenez do nosso dia-a-dia, nos pequenos atos que parecem desconectados da grandeza desse mundo, acrescentamos nossa sagrada contribuição para que as coisas continuem indo para algum lugar. Mesmo que nós não tenhamos a menor idéia pra onde seja.

Rumo a Lanzarote

Tenho o costume de ler antes de dormir. Bom, eu e outros milhões de pessoas no planeta, mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que, em alguma noite de 2008 (e se minha memória não me engana deve ter sido em algum momento do primeiro semestre), peguei o Cadernos de Lanzarote, de José Saramago, e mergulhei naquela meia hora de leitura pré-sono. A leitura transcorria agradável, e lembro que pensei na importância do escritor português. Fixei-me na idéia de que ele é talvez o último gênio vivo da literatura. E que lê-lo em vida, portanto, é um privilégio. Recordei Jorge Amado, Paulo Freire, José Chasin, Darcy Ribeiro, Jacob Gorender e tantos outros, hoje finados, mas que tive o prazer de ler enquanto respiravam o mesmo ar que eu. Não digo que fossem gênios como Saramago, mas isso não tirava a satisfação de compartilhar de suas idéias com eles por aí, ainda a tê-las.

Naquele momento de divagação e com essas abobrinhas na telha, tive um insight: “Nesse exato momento em que estou lendo seu livro, o que será que passa pela cabeça de José Saramago?” Não obtive resposta. E decidi continuar a leitura.

Transcrevo exatamente o parágrafo seguinte com o qual me deparei:

Ray-Güde informa-me de que recebeu da Polônia resenhas acerca do Evangelho e que este se encontra na lista de obras de maior venda. Lamenta não ser capaz de me traduzir as opiniões da imprensa polaca, mas vai adiantando que o escritor Andrczej Sczcipiorski, o mais importante dos autores polacos publicados pela mesma editora, gostou muito do livro... Ouvindo isto, ponho-me a imaginar o que mais gostaria de fazer nesta altura da vida (sem ter de perder nada do que tenho, claro está), e simplesmente descubro que seria perfeito poder reunir em um só lugar, sem diferença de países, de raças, de credos e de línguas, todos quantos me lêem, e passar o resto dos meus dias a conversar com eles

Travei na hora. Uma sensação de plena felicidade chegou como uma onda, e deixei que ela me arrastasse. Fui pra bem longe do meu quarto, viajei pras Ilhas Canárias, mais exatamente pra mais oriental das ilhas desse arquipélago: Lanzarote. Parei na casa de muro branco - que possui curiosamente o nome de A Casa -, abri a porta, brinquei com os cães e dei a mão ao mestre Saramago.

O parágrafo acima é – claro está, como ele mesmo gosta de dizer – fruto da minha imaginação, mas todo o resto é verdadeiro. Esse humilde ateu aqui, e o ateu famoso autor do Memorial do Convento, juntos numa coincidência que muitos não perderiam a chance de classificar como “a prova irrefutável de que o destino existe”. Penso diferente: foi apenas uma grande e deliciosa coincidência. E tenho certeza que o Saramago diria o mesmo.

Epílogo

Acabei de chegar em casa. Estive com Saramago. Não, não fui a Lanzarote. Saramago é que veio até nós, para o lançamento mundial do seu novo livro, A Viagem do Elefante. Debilitado pela doença, mas lúcido, absolutamente lúcido. Feliz por estar vivo. Aproveitando cada momento, cada instante. E querendo mais. “Tempo”, disse ele. “Vida”. Desnecessário dizer que esse é o voto generalizado: que ele tenha muito tempo e vida pela frente, para continuar escrevendo e, dessa forma, dando mais sentido ao nosso tempo e a nossa vida. Essa é a coincidência que encerra. No dia do meu post, “coincidentemente” sobre o Saramago, tive a honra de encontrá-lo. Um brinde ao mestre! Um brinde ao imponderável!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

FRUTAS FRESCAS E VEGETAIS PODRES



Por Ricardo Idéia

Confesso que tremi quando foi decidido o tema dessa semana. “Coincidência... ou não?” pode dar belos contos como os do Grão e do Zambetti, mas contos definitivamente não é o meu forte.
Pensei em algo mais parecido com a reflexão do Eterno, até porque aconteceram fatos, digamos, intrigantes desde que o tema foi decidido.
Primeiro o Zambetti postou por aqui um texto sobre softwares para produção musical caseira, exatamente no mesmo dia que meu “Vuze” (programinha similar ao SoulSeek, Kazaa, etc, mas destinado a baixar arquivos em torrents, geralmente gigantescos!) bufava com downloads de vários softwares para produção musical.
Dias depois disso enquanto eu e o Zambetti falávamos um monte sobre tais softwares, o Sapo Banjo banda do Zambetti fez um show aqui em Pira, bem perto de casa, mais que coincidência, nesse caso, conveniência!
Pra fechar o ciclo, mandei um rascunho da primeira brincadeirinha que fiz com os softwares que havia baixado no mesmo dia em que o Zambetti subiu um texto sobre o Subsapiens, projeto de Eden Silveira que também é voltado a música eletrônica assim como o meu.

Mas esse monte de acontecimentos envolvendo eu e o Zambetti não seria o suficiente para um post. Não aqui no Zinismo. Assim, apesar de maltratar meus neurônios durante anos a fio, foram eles que me socorreram nesse post.

Final da década de oitenta. No bairro do Ipiranga em São Paulo uma enorme molecada acompanhava a cena punk rock e metal e dividia tudo que podia (menos os punks xixi extremistas e os true metals de direita!). Dessa forma, discos eram emprestados e quase nunca devolvidos, mas no geral eles rodavam na mão de todos aqueles garotos afoitos por música.
Com um álbum específico criou-se até uma tradição. Aquele que uma vez teve o “Fresh Fruits for Rotting Vegetables” do Dead Kennedys, o adquiriu “surrupiando” seja na loja da velhinha ali no Sacomã, seja tomando o disco de outro “amigo” da galera.
Eu até tenho a teoria que existiam apenas três exemplares do vinilzão branco do DK no Ipiranga, mas esses três foram de umas quarenta pessoas!
É claro que eu mesmo tive um desses por um tempo. Numa das inúmeras festas que rolavam na minha casa, o vinil foi esquecido. Não marquei bobeira e logo fiz uns desenhos e escrevi “idéia” no rótulo com uma esperança ingênua de que com esses sinais ninguém iria roubá-lo mais de mim. Também não posso reclamar, o disco ficou um bom tempo em casa, e eu teria sido egoísta se “quebrasse a corrente”! Inevitavelmente o disco acabou sendo furtado de minha casa. Beleza! Havia cumprido minha parte na tradição do “Fresh Fruits...”
Alguns meses se passaram e de repente me bateu uma saudade daquele vinil, precisava arrumar um jeito (um trouxa) pra roubar o disco de novo. Fiquei sabendo que o Ratão, um playboy que morava duas ruas atrás da minha e que eu não ia muito com a cara, estava com um Fresh Fruits na mão. Passei umas três semanas amaciando o playboy na conversa. Foi difícil e quanto mais ele negava, mais decidido eu ficava que teria o disco de novo. Dei mole quando deixei roubar o meu. Porra! Tinha até identificação, meu nome no rótulo, que vacilo! A persistência foi grande e por fim o Ratão cedeu. Fiquei no portão da casa dele esperando enquanto o otário, quer dizer, o Ratão buscava o disco que eu nunca mais iria devolver. Catei o LP e nem dei muita idéia, já fui saindo, só queria saber de chegar em casa, fazer novos desenhos e escrever “idéia” no rótulo de novo. Corri na descida da Rua Bamboré pra chegar em casa, em frente a pracinha reparei que a capa estava toda danificada, rasgada, gasta e faltava uns pedaços, mas não tinha problema, o disco estava lá. Se não desse pra eu fazer uns desenhos no pouco espaço que sobrou da capa, o nome no rótulo já seria suficiente. Cheguei em casa, corri pro quarto, já estava com o canetão na mão, tirei o disco de dentro do resto da capa, aquele vinil branco, lindo, saindo do papelão estragado. Apreciei cada milímetro que aparecia até chegar o rótulo onde se via escrito “idéia”!
Foi roubando exatamente o mesmo “Fresh Fruits...” duas vezes que eu desenvolvi a teoria que no Ipiranga só existiram três cópias do Fresh Fruits for Rotting Vegetables!
E, só pra saber: Alguém aí tem o Fresh Fruits pra me emprestar?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

HELLO KILL ou O CHINELO PIRATA

Baseado em Fatos Reais



por Edu Zambetti


11 de outubro - 16 horas

Marta só se lembrava do primeiro nome da rua.

- Moço, você conhece alguma Rua Humberto por aqui?

- Vixi dona, daqui até a outra avenida todas as ruas começam com o nome Humberto ou Umberto. Tem alguma outra referência?

- Como é que é moço?

- Dona, ali é a Rua Umberto Eco, a outra é Humberto Elias, a vielinha é Humberto de Alencar...

- Já entendi, entendi...você sabe em qual delas tem uma lojinha de calçados?

- Olha, tem um primo meu que vende uns chinelos importados logo ali naquela barraquinha. Olha lá, aquele de cabelo black. Qualquer coisa meu nome é Josué.

Marta avistou um chinelo rosa da Hello Kitty pendurado na barraca, era tudo o que sua sobrinha precisava e, por coincidência, era o que ela iria comprar naquela loja de adolescente mimada que ficava na Rua Humberto sei lá o que... Iria pagar uns 85 mangos...Estacionou o carro e foi até ao camelô altamente indicado pelo transeunte simpático.

- Pra Madame tem desconto especial... Tem chinelinho e chinelão...

Ele falava e arriscava uns passos de dança.

- Escuta garoto, quanto custa este chinelo rosa aqui?

-Qual? Este da Rélouquil? 15 conto.

Dona Marta nem sabia como iria pagar as prestações de seu carro zero, mas já tinha deixado passar o aniversário da sobrinha e não poderia furar no dia das crianças. Neste caso, um chinelo pirata “com” a Hello Kitty por 15, seria melhor do que um chinelo original “da” Hello Kitty por 85 mangos.

- Tem número 38?

A sobrinha era uma daquelas gordinhas de 13 anos com um pé maior do que deveria e humor em lento desenvolvimento.

- Por acaso só tem este mesmo. Vou confirmar o número pra senhora. Nossa! É 38 mesmo!

- Faz por 10, garoto?

- Por 13, dona. Quer uma sacolinha?


13 de outubro – Antes do Almoço

- Atende a campanhia Cristina. Pare com esta preguiça!

- Tá bom...Pois não?

- Tem alguma coisa pra dar? Um saco de açúcar, uma moeda...Estou até descalço. Olha só.

- Mãe. Vou doar pro mendigo esta porcaria de chinelo que a tia me deu...O que fez ela pensar que eu gostaria de um chinelo da Hello Kitty? Ela poderia me presentear em dinheiro os 85 que custa o original. Ainda por cima é rosa! Sou loira, mas sou gótica mãe...Gótica!

- Moço, tem este chinelo aqui, serve?

O cidadão parado na porta da casa era mais nóia do que mendigo e, rapidamente, calculou que aquele chinelo poderia lhe render uma pedra pelo menos. Isto não ocorreu...

- Deus lhe pague menina, deus lhe pague.


13 de outubro – Hora do Almoço

A morena ficou assustada ao ver aquele mendigo parado e tremendo horrores na sua frente, mas, ilusoriamente, se tranqüilizou quando viu que ele calçava um chinelo rosa bem menor do que seu pé.

- Passa o emepêtreispleier e passa a carteira...tá pensando que é brincadeira? Vai, vai, vai!

Ela, que estava atrasada para o almoço, tirou calmamente da carteira os seus três reais e, sem nenhuma sensação de perda, entregou junto com o Mp3 player para o nóinha da vila... Mas já estava cansada. Denunciaria todo mundo pela internet, pelo 109, para a guarda civil, militar, municipal e até enviaria um e-mail para o presidente. Encheria o saco das autoridades e convenceria todo mundo a fazer o mesmo. De fato, virou mania no bairro e qualquer suspeito que aparecia, mesmo que só pedindo esmolas, era denunciado na mesma hora...Carros de polícia viviam rondando o bairro. Cada dia mais...o delegado que o diga.


16 de outubro – Após o Vidro do Carro ser Quebrado

- Vou fazer igual ao que a mocinha falou. Vou denunciar já! Alô... Quebraram o vidro do meu carro. Levaram todas as compras, uma blusa da minha senhora e meus óculos escuros. Olha, aqui é perto da favela da Malagueta. Isto, perto do cadeião. Olha, estamos cansados disto, fica cheio de marginalzinho passando na rua. Aqui é bairro de gente honesta... Meu endereço? Anota aí.


20 de outubro – Plantão Noturno

- Alencário, chama o Elifas e mais uns dois e vai lá na favela da Malagueta. Quero que vocês prendam alguém! Não agüento mais receber reclamação dos moradores da vizinhança. Olha, prende uns três ou quatro lá e tudo bem. Entre num barraco, dê uns tapas, apreenda alguma coisa! Mas tem que sair no jornal, liga lá pro repórter do Diário, ok?

Os guardas saíram da delegacia com a adrenalina esquentando o corpo, iriam pegar uns pregos de surpresa, seria tranquilo e ainda sairiam no jornal...Mole, mole.

- Elifas, olha aquele barraco, tem um black power dançando lá dentro! Opa, tem umas garotas também... e saca só o baseado rolando lá. Liga pro cara do Diário. Liga lá que nós vamos entrando.

Dentro do barraco estava o camelô Panteronça dançando e sua sobrinha Georgina, de 13 aninhos, assitindo TV...Havia também umas oito garotas largadas e abraçadas ao traficante (procurado) Augusto de Jesus Grelhande: O Grelhão.
Quase 70 kilos de cocaína e várias pedras de crack brilhavam no canto direito da sala além dos vários produtos de origem suspeita, entre eles, chinelos falsificados, principalmente os da Hello Kitty...Os policiais não sabiam destes detalhes.

- Já chegou o repórter! Alencário, entra lá e desce a lenha em todo mundo...

No outro dia, a manchete foi bem clara e direta:

Traficante é Preso com Drogas e Produtos Contrabandeados.

Depois do depoimento, todos, com exceção do traficante e do Panteronça ,morto em confronto, foram liberados sem grandes complicações. Apenas Georgina, menor de idade, seria encaminhada para o conselho tutelar.


21 de outubro – No Cadeião

- Mandei matar!!! Quero todos estes nóias tombados hoje, hoje... Quero pelo menos cinco com a cara no chão e a alma no lixo entenderam?

De dentro da cela saíam os gritos do Grelhão. Dava as ordens como se estivesse na sala de estar de sua casa...

- Vai direto no bar do Fornica. Quero dedo mole, sem dó! Mata todo mundo que estiver lá na frente. Hoje! Aqueles moleques ficam roubando o pessoal dos bairros vizinhos e, de tanta denúncia, tiveram que prender alguém... Eu sei que não foi sua culpa Alencário, o repórter estava lá...Mas desta vez fui eu que rodei...Foi azar, mas não vai ser só meu...Entendeu né? Hoje! Vai sem farda! Não vacila. Na madruga. E liga pro repórter do Diário na seqüência.


22 de outubro – Madrugada do Dia 21 para 22

De dentro de seu barraco, cinco disparos seguidos de mais três foram ouvidos pelo rapaz com insônia e sua mãe.

Horas depois, cinco corpos deram entrada no IML, foram todos assassinados com tiros certeiros na cabeça, entre eles, um garoto chamou atenção de Josué por calçar um chinelo rosa. Antes de preparar os corpos para autópsia, ele tirou cuidadosamente os chinelos da Hello Kitty do cadáver, ensacou discretamente e enviou para a creche de sempre.

Dois dias depois, Georgina, que estava no conselho tutelar mas (por medida de segurança) teve que ser encaminhada para a creche da Vila Malagueta, receberia o chinelo rosa igual ao que seu tio vendia lá na rua Humberto sei lá o que...Seria uma maneira de sempre lembrar dele... do seu cabelo estranho... da sua dança...
Tem chinelinho e chinelão...

Guardou aquele par surrado pelo resto da vida.

JÚLIO E O PARADOXO DO PASSADO



Por ter encontrado e se casado com Marília, Júlio se considerava um cara de sorte.
Ele: um simples segurança, bruto e rústico. Ela: professora de crianças, mulher bonita e inteligente. Mas a frase feita existe para ser usada: os opostos se atraem.

Era segunda feira, Júlio olhava Marília servindo a comida e lembrava-se da dura batalha para conquistá-la. Mais de um ano de gracejos, bombons e flores. Na época ela acabara de chegar da capital, lugar do qual não gostava nem de ouvir o nome:
-Detesto aquele lugar, detesto.
-Por que?
-Não interessa. Júlio, eu tenho um passado e se quiser ficar comigo tem que aceitar ele morto e enterrado.

Então que fosse, Júlio se condicionou a não se importar. O passado era tempo gasto e inútil. O presente era trabalho e o futuro deveria ser construído agora. O que importava realmente era no que as pessoas tinham se tornado e o passado – ferramenta que participou dessa construção- deveria ficar guardada em gavetas invioláveis. Aliás ele também tinha seu passado de pequenos delitos quando menino pobre e depois teve o tempo como segurança de boate.

Como sabemos, Balneário Fantasma era um lugar onde a consciência de classe se aprendia desde a educação infantil. E isso provocava situações no mínimo, dignas de análise. Uma dessas situações ocorreu quando as indústrias eletroeletrônicas quiseram modernizar os formatos midiáticos. A substituição de LPs por CDs foi difícil. E a de fitas VHS por DVDs nunca ocorreu a contento. Uma campanha que começou nos jornais e terminou na câmara dos vereadores baniu os DVDs como “estratégia capitalista de transformação mercadológica da arte em produto”. Assim, Balneário Fantasma até hoje utiliza os lendários videocassetes. Todos os dias caminhões chegam com suas caçambas abarrotadas das obsoletas fitas de VHS provindas de várias cidades do país. Essas fitas são disputadas avidamente pelos vendedores que as revendem em pequenas bancas no centro. Há também o fenômeno e o mercado de DVDs novos que são convertidos em VHS. Coisas de Balneário Fantasma.

A única mácula na pretensa honestidade de Júlio tinha a ver com isso.

Desde criança e durante a adolescência Júlio consumia regularmente pornografia. Era seu vício. Se antes ele escondia revistas mofadas e coladas embaixo do colchão, hoje ele colecionava fitas VHS pornográficas.

Comprava essas fitas ao menos uma vez por semana e as trancava no guarda-roupa, junto com suas ferramentas de trabalho “tem que manter trancado Marília, senão o Júnior pode pegar minhas armas e já viu”.
Para assistir as fitas Júlio desenvolveu uma técnica astuta. Como ainda não havia “tirado” o ensino médio prestava provas do governo todo final do ano para eliminar matérias. Deixava então exposta uma pequena coleção de fitas de “tele-curso” como pretexto para poder se trancar no quarto e exercer seu pequeno vício sem que fosse incomodado: “Estou estudando, preciso de concentração”.

Quem julga Júlio por este pequeno vício tem uma perspectiva simplória da história. Ele tinha consciência que essas fitas eram em parte responsáveis pela sua fidelidade à Marília e pela longevidade de seu casamento que iria completar 12 anos no próximo dia 20. Júlio utilizava um mecanismo de projeção mental e transferia o que assistia nas fitas para seus momentos de maior intimidade e isso mantinha acesa a “chama do amor”.

É claro que Marília desconfiava de seus momentos trancados no quarto, mas afinal, sabia que Júlio era um homem bom e principalmente: nunca questionara sobre seu passado.

Na terça feira ao voltar do trabalho (como de costume) Júlio parou em frente à banquinha de VHS do seu fornecedor de confiança:
-E aí David! Como estamos hoje? Alguma novidade?
-Tem sim patrão, tem uma que você vai gostar. Converti para fitinha uma raridade do cinema nacional... deixa ver...
E assim Júlio levou consigo a fita “Loucuras tropicais do Brasil volume 7”.

Chegou em casa, beijou a mulher, olhou o menino fazendo a lição e foi direto para o quarto.
-Marília, vou estudar! Peguei uma fita de matemática, você sabe que eu tenho uma dificuldade lascada com os números!
-Tá Júlio, ainda vou colocar o arroz no fogo...

Júlio adentrou o quarto e eufórico fechou a porta.
Tirou a fita da mochila e colocou no vídeo-cassete.

A fita começou com uma trama óbvia. Uma festa universitária que descambava para a orgia.
A princípio não reparou, não quis reparar. Mas algo lhe incomodava naquela fita, um olhar de uma personagem ao fundo das cenas, com um drinque na mão.
O incômodo passou a fazer sentido. Aquele olhar... Era Marília, sem dúvida! Mais jovem e loira, mas era Marília. Ficou tenso. Pensou em tirar a fita e pisar em cima. Mas será... Talvez ela fosse somente uma coadjuvante do filme. Não era.
E a festa universitária seguiu seu rumo com a participação ativa de Marília em poses, posses e tudo que seu cachê permitira. E era tudo o que o inconsciente de Júlio mais temia ver.

A fita acabou. Júlio ficou olhando pela janela do apartamento. Era um por do sol bonito. “Então era esse era o tal segredo de Marília...”
Ejetou a fita do vídeo-cassete. Abriu o armário e colocou ao lado do revólver. Olhou para cada um dos objetos poderosos como se estivessem cada um em prato de uma balança.
Não sabia qual dos dois escolher.

-Vem Júlio, a janta está servida, vai esfriar! Marília batia na porta.
Aquela janta foi dotada de um silêncio constrangedor rompido regularmente pelos incômodos barulhos dos talheres na porcelana dos pratos.
-Tudo bem Júlio?
-Problemas no trabalho - justificou cabisbaixo.

O silêncio acompanhou-os até o quarto. Mais tarde na cama uma cena da novela fez com que Júlio e Marília cruzassem seus olhares. Um beijo e o apetite sexual (temporariamente contido) de Júlio voltava à tona. O ato em si foi memorável para aquele casamento já desgastado. As cenas da festa universitária se repetiam com uma tortura na mente de Júlio que em contrapartida possuía sua esposa com um sentimento de não pertencimento que lhe era extremamente prazeroso.

Nesse dia Júlio aprendeu forçosamente a rimar (como na mais vulgar das músicas bregas) as palavras antíteses dor e amor.
Na quarta feira Júlio se desfez de toda sua coleção de fitas VHS pornôs e creiam: nunca mais precisou delas.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

COINCIDÊNCIA OU NÃO!

Inicia-se hoje a seguinte Semana Temática: Coincidência OU Não?
A cada dia um dos colaboradores do zinismo irá ”zinar” sobre esse assunto, então aqui vou eu:

Coincidência OU Não?

Parte 1: Sábado uma triste "coincidência” aconteceu com parentes meio próximos da minha família, uma vida deixou nosso querido mundo. Foi numa cidade que não tem nem shopping, nem supermercado e Banco do Brasil, mas tem uma esquina, e lá dois carros se chocaram e uma jovem de 26 anos se foi. Viver aqui na Terra e colidir em uma esquina com apenas 26 anos, em uma cidade onde nem existe farol, guarda, faixas, é mera coincidência? Dois carros estavam no mesmo ponto e na mesma hora por coisa do destino? Coincidência OU Não?

Parte 2: Tirei meus dois dentes do siso na sexta-feira passada, e com a agonia pulsante na boca que me perseguiu pelo final de semana inteiro, parei para refletir sobre dor. Como deve ser a sensação mais forte do que a dor de pedra no rim (que já me pegou mais de três vezes)? Como a extração dos dentes, como aquela asma que eu tinha com 13 anos? A dor seria uma coincidência, ou foi criada com propósito? Ela é muito útil, pois serve de alerta para algum tilt no nosso corpo. Por que eu tive pedra no rim, asma e dente torto e você não? Coincidência OU Não?

Parte 3: Deixando a religião de lado, mas a ciência também... É difícil entender por quê existe um milionário com câncer no cú e um favelado de 80 anos jogando futebol. Por que Ronaldinho virou fenômeno e não um cobrador de busão? A mulher melancia é mera coincidência? Dificil... Destino!

Conclusão: Minha humilde opinião não acredita na coincidência das coisas, mas sim no destino. Naquele destino programado por um cara maior e com mais poder que Silvio Santos. Se nada tivesse rumo, também não faria sentido algum estar aqui.

Me desculpe não ter tempo pra ir mais afundo no assunto, mas não ando muito bem. Como viram no texto, estou um tanto down/emo/gótico/tristonho/doloridinho, mas tentei colocar o Silvio Santos aí no final, com a mesma intenção que ele aparece pra gente na TV no final de cada semana difícil.

Até a próxima pessoal e boa semana temática aqui no Ziniiissmooo.

Felipe Eterno

Desenho que fiz pensando em você:

domingo, 23 de novembro de 2008

SOBRE A COINCIDÊNCIA...

Coincidência:
Tem gente que chama de afinidade, outros de aplicação da lei do karma, destino, fortuna...

De qualquer forma não é a primeira vez que assisto a uma propaganda na televisão e a trilha sonora me lembra outra música com características semelhantes.

Nesse caso outras palavras podem ser aplicadas: influência inconsciente, grande sacada, economia de verbas...

Assista aos videos e comece a pensar a respeito.



COINCIDÊNCIA... OU NÃO?






SEGUNDA SEMANA TEMÁTICA ZINISMO - DE 22 à 28 DE NOVEMBRO DE 2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

BBKID USA TOUR 2008


Por Marcelo Viegas

Incansável. Assim é Boom Boom Kid. Sempre em tour, pensando na próxima tour. Era assim na época do Fun People, e assim continua até hoje, na sua “carreira solo”. Na semana passada chegou ao fim mais uma tour pelos EUA, talvez a mais extensa que ele já fez. Horas antes de subir no palco para um dos últimos shows dessa tour, BBKID conversou com o Zinismo, com exclusividade.

ZINISMO: Quantos shows você fez nessa USA Tour 2008?


BBKID: Com um donut na boca eu te digo que foram 35 ou 36 shows, quase todos os dias. Dei uma volta quase completa pelos EUA, fazendo um círculo. Claro que não toquei em Miami, como costumam fazer as bandas argentinas. Foi uma pena, porque tenho grandes amigos lá... Além do excelente café e dos peixes-boi soltos pelos canais. Mas tocamos em Washington, Boston, New York, San Francisco, Berkeley (no Gilman Street Project), San Diego, Chicago, Los Angeles… Voltarei para os EUA em Abril de 2009.

ZINISMO: Qual diferença dessa tour para as anteriores?
BBKID: Dessa vez a minha banda de apoio foi Los Martinellis, e não o Los Gummy Bears, como nos últimos três anos que toquei nos EUA. Teve um dia de manhã, lá pelas nove horas, que me arrisquei numa piscina em Santa Cruz: passei uma pomada, mas minhas pernas operadas não permitiram mais que uns 15 minutos de skate. Fuck! Queria ter andado mais... Bom, skate a parte, tocamos quase todos os dias, em lugares sempre muito distantes uns dos outros. Então não tive tempo nem sequer para comprar discos nas lojas. O que mais? Ah, notei que mais pessoas compareceram aos shows. Gringos e latinos cantavam minhas canções...




ZINISMO: Você estava nos EUA durante as eleições presidenciais. Como foi?
BBKID: O dia da eleição foi muito tranqüilo aqui, não tivemos show. Foi bem no final da tour. Por sorte eu estava numa cidade pequena e passei o dia assistindo filmes, como um documentário de surf (“Surfwise”) e um filme muito divertido chamado “Ladies and Gentlemen, The Fabulous Stains”.


ZINISMO: Sentiu algo diferente nesse dia?
BBKID: O que senti? Que o primeiro presidente negro que os EUA necessitavam chamava-se Martin Luther King! Mas isso há muito tempo... Na verdade, um dos grandes problemas da humanidade é que nós sempre necessitamos ser governados por alguém, o que é um erro. O que necessitamos é ser, e não que alguém seja por nós.

ZINISMO: Quando sai disco novo do Boom Boom Kid?
BBKID: Já tenho material novo. Saiu só em vinil (transparente), 1000 cópias, chama-se “Benjui Jamboree”. São cinco novas músicas, gravadas aqui mesmo nos EUA. Em Abril lançarei um álbum novo, com o material que venho gravando em diferentes lugares do planeta terra (risos). Agora mesmo estou procurando um selo para lançá-lo aqui nos EUA.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

HELMET EM SÃO PAULO - URGENTE



Vários fãs de música alternativa em São Paulo estavam se sentido preteridos. Razão?
A banda americana HELMET, depois de mais de dez anos volta ao Brasil para tocar no Goiânia Noise Festival e não tinha data em São Paulo. Leiam bem... NÃO TINHA DATA EM SÃO PAULO.

A assessoria de imprensa da versão paulista do festival (SP NOISE FESTIVAL) acaba de divulgar que a banda tocará sábado em São Paulo após o cancelamento do show que faria em Brasília.

Além deles e entre outra bandas destaco também os Escoceses do VASELINES que também tocarão no sábado com uma formação mista dos antigos membros da banda e alguns músicos de seus conterrâneos do Belle & Sebastian.

Segue o comunicado na integra:

HELMET NO SP NOISE FESTIVAL

Banda americana é a última atração confirmada do festival que acontece neste fim de semana em São Paulo


A banda americana Helmet cancela apresentação em Brasília e toca no segundo dia (22/11) do SP Noise Festival, que acontece nos dias 21 e 22 de novembro no Eazy, Barra Funda. Ícone do rock dos anos 90, o Helmet foi formado em Nova York e é considerado uma das primeiras bandas de post hardcore, apresentando um eletrizante novo tipo de metal e cruzando todas as barreiras da música tradicional. Responsável pela ligação entre o indie-rock e o metal, o grupo mostra agressão e força com os riffs de Page Hamilton, que chegou a influenciar grupos como Nine Inch Nails, Korn e Limp Bizkit, entre outros. Recentemente a banda lançou o álbum Monochrome e sua formação atual conta com Page Hamilton (vocais e guitarra), Dan Beeman (guitarra), Kyle Stevenson (bateria) e Jon Fuller (baixo).

PROGRAMAÇÃO

SEXTA 21/11

Black Mountain (Canadá)(Palco 1)

Flaming Sideburns (Finlândia)(Palco 2)

Motek (Belgica)(Palco 1)

Os Ambervisions (SC)(Palco 2)

The Tormentos (Argentina)(Palco 1)

Black Drawing Chalks (GO)(Palco 2)

SÁBADO 22/11

Vaselines (Escócia)(Palco 1)

Helmet (EUA) (Palco 1)

Black Lips (USA)(Palco 2)

The Ganjas (Chile)(Palco 1)

Do Amor (RJ)(Palco 2)

Calumet-Hecla (USA)(Palco 1)

Homiepie (SP)(Palco 2)

SERVIÇO:

SP Noise Festival

21 e 22 de novembro

Eazy - Av. Marquês de São Vicente, 1767, Barra Funda - São Paulo - SP.

Tel: (11) 3611-3121.

Ingressos:

21/11 (sexta-feira): R$55,00 (antecipado) e R$65,00 (no dia)

22/11 (sábado): R$65,00 (antecipado) e R$80,00 (no dia)

*/On-Line/*

Dissenso

*/Postos de Venda/*

*Sensorial Discos* - Rua 24 de Maio 116 (Rua Alta) - Centro
(Visa/Mastercard/Dinheiro)

*Dissenso *- Rua dos Pinheiros, 747 - Pinheiros (Visa/Mastercard/Dinheiro)
Tel: (11) 3061-9842

*Eazy* - Av. Marquês de São Vicente, 1767 - Barra Funda
(Visa/Mastercard/Dinheiro)

*Banca de Camisetas* - Shopping Pátio Higienópolis - Piso Buenos Aires
(Dinheiro)
Tel: (11) 3823-2990

*Banca de Camisetas *- Shopping Villa Lobos - Espaço Básico (Dinheiro)
Tel: (11) 3024-4210

*Banca de Camisetas* - Rua Harmonia, 322 - Vila Madalena (Dinheiro)
Tel: (11) 3817-5281

*Banca de Camisetas* - Alameda Franca, 1104 - Jardins (Dinheiro)
Tel: (11) 3081-5210

*Banca de Camisetas *- Morumbi Shopping - Piso Térreo (Dinheiro)
Tel: (11) 5189-4530


Censura: 16 anos

Abertura da casa às 18:00 na sexta e às 17:00 no sábado

PALAVRA DO DIA: ALTERIDADE



Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.


Bertold Brecht

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

SUBSAPIENS


Vídeo: Plastic Robots - Subsapiens

por Edu Zambetti

Subsapiens não é uma raça futurista de humanóides ou alguma raça extinta de primatas, é um complexo sonoro produzido por um único ser. As influências vão de Kraftwerk e Devo até as novas tendências da música eletrônica, resultando em curiosas batidas quebradas dentro de um electro experimental, tenso e mecanicista. A mente e a ação por traz deste trabalho responde pelo nome de Eden Silveira, músico de raiz punk, vocalista e contrabaixista das bandas Síndrome de Down e Slush Gods.
Criado a partir do uso de intrumentos reais e softwares seqüenciadores e editores de áudio, o trabalho do Subsapiens parece apontar para um futurismo retrógrado, algo como uma crítica ao indivíduo e à sociedade contemporânea, tudo traduzido em linguagem musical.
Para entender, só ouvindo mesmo.

http://tramavirtual.uol.com.br/galeriaArtista.jsp?id=751051


http://fiberonline.uol.com.br/artista.php?id=1221

terça-feira, 18 de novembro de 2008

SKATE OBSESSION



O projeto Skate Obsession começou com uma exposição que teve curadoria da Grafiteria e ocorreu em março e abril de 2008 na Maze Skate Shop em São Paulo.

A idéia era fomentar a cena artística ligada ao skate, já que “Viver o skate é, em muitos aspectos, parecido com o viver fazendo arte urbana. Andar pelas ruas, interagir com a cidade, fazer uso dos mobiliários urbanos de forma diferenciada, e neles, questionar.”

Depois da exposição o projeto seguiu e tornou-se um livro dividido em duas partes: a primeira com o registro de algumas obras da exposição e a segunda com perfis e fotos dos treze artistas convidados (Apo, Chivitz, Crespo, Dev, High Graff, Jey, Marcelo Cidade, Tim Tchais, Paulo Ito, Prozak, Pifo, Tinho e Titi Freak).

Foi encarregado para a redação do livro Douglas Pietro e para as fotos de skate e retratos Alexandre Vianna (respectivamente colaborador/articulista e editor da revista CemporcentoSkate).

Os artistas convidados proporcionam um panorama eclético com o que ocorre na arte urbana de São Paulo, transitando do grafite mais visceral, pela pintura em tela e chegando até a trabalhos mais conceituais (como o de Marcelo Cidade). Os textos biográficos que apresentam os artistas somados às fotos das obras e dos próprios, ajudam a entender as escolhas, estilos, técnicas, motivos e até cores de cada um deles.

O livro recebeu apoio da Adidas e tem tiragem limitada o que acaba por resultar em uma distribuição restrita a um pequeno circulo de pessoas, uma pena! Fica a dica para uma segunda edição com distribuição nas bancas ou livrarias desse valoroso material.


Tinho


Alguns trabalhos (como esse do Jey) utilizam como plataforma o próprio skate


Apoena


Titi Freak


Dev clicado em ação por Alexandre Vianna

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

PARTEUM VASCULHA SUA MEMÓRIA


O lançamento da terceira edição da Brasil Custom Series, da Nike SB, vem acompanhado por temas instrumentais para cada um dos skatistas profissionais da equipe: Fabio Cristiano, Cezar Gordo e Rodrigo Gerdal. Os temas foram desenvolvidos pelo músico e produtor Parteum, que é amigo de longa data dos três skatistas. Os tênis chegam às lojas hoje, dia 17 de novembro, e as músicas estão disponíveis para download no site www.playcustomseries3.com.br. Com exclusividade para o Zinismo, Parteum relembra como conheceu cada um deles.


Zinismo: Você lembra como conheceu cada um deles (Fabio, Gordo e Gerdal)?

Parteum: Vamos por ordem cronológica, shall we? O Fabio, que odeia o apelido Chupeta, eu conheci na ZN (extinta pista da zona norte paulistana). Ele e o Reco eram da Aerial, mas só passamos a andar juntos nos tempos em que o Toshihiro expandiu as operações da Sessions e passou a trazer a equipe para SP. São Caetano era a pista mais frequentada nessa época, e por termos amigos em comum (Chaves, Gustavo Pig...) acabávamos nos encontrando nos campeonatos do Tosha. Ele passou para a categoria Pro três anos antes, mas costumávamos andar juntos na ZN, no centro, num posto de gasolina ali na Vila Mariana. Eu estou lembrando de rolês de 91, 92, 93... Eu passei pra Pro em 93, e em 95, por insistência do Fabio, fui pra California pela primeira vez. Eu ainda escrevo um filme sobre isso. Switch tailslide na parte alta da lateral da escada da Corte, nunca mais!
O Gordo eu conheci com o Chaves, num rolê de solo, se me lembro bem. Estavam Chaves e Gordo puxando pela Torrance Boulevard. Tinha um manual na saída do Sportmart, na época eu morava na Maricopa (Fala Jasus!) e costumava andar ali nos fins de tarde. Eu passei horas zoando e falando o quanto ele parecia com o Pig de Araraquara, acho que ele não pegou bem com isso.
O Gerdal eu conheci no Anhangabaú. Estavam ele e Seu Alexandre (Tizil) correndo pra terminar um desenho da Hideout, eu acho. Pegar fotolito sei lá com quem... Lembro que as roupas dele eram gigantes, mais do que a norma da época até. Lembro também do Duda (Chiclé) chegando pra gravá-lo ali mesmo no Vale, enquanto o Alexandre resolvia os negócios num orelhão próximo. Sempre me lembro dos nollies do Gerdal, acho que foi a primeira manobra que ele mandou na sessão. Pop de gente grande.


[A CemporcentoSKATE #129, já nas bancas, traz a entrevista completa com Parteum]

foto: Renato Custódio


domingo, 16 de novembro de 2008

CONTROLE DA MENTE

Quer se transformar num líder religioso?
Desde a morte de Deus, há uma vaga aberta.
Você pode preencher essa lacuna.
Veja como:

Mind Control Made Easy or How to Become a Cult Leader - Parte 01




Mind Control Made Easy or How to Become a Cult Leader - Parte 02




Mind Control Made Easy or How to Become a Cult Leader (2000)
Carey Burtt
Evil Films
Baseado nos Estudos de Solomon Asch

É claro que a mensagem serve para líderes de todo o tipo e para as mais diversas entidades espalhadas pelo mundo.

SPAM ANOS NOVENTA



Um clássico do fanzinato nacional. Esse post vai para o Tibiu, Márcio Sno, Junior (White Frogs) e outros tantos obstinados batalhadores que viveram intensamente os anos noventa. Ah, e para o Fernando e o Mutz, é claro: fundadores da sHort Records.

sábado, 15 de novembro de 2008

PARA ASSISTIR



Video que vem sendo exibido no Discovery Channel do biólogo Ian Tchagra.
Vale a pena assistir e pensar um pouco.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

ENVAZADO EM SÃO PAULO



Tudo começou de modo inocente com os jornaizinhos que são distribuídos nos semáforos matutinos de São Paulo.

Foi com eles que comecei a perceber que as duas ou três horas que passo por dia no trânsito de São Paulo poderiam ser utilizadas de uma forma mais produtiva.
Depois descobri um caderninho simpático jogado no meio das minhas coisas no carro, acompanhado (vejam só) de uma boa caneta preta.

O resto foi natural. Em um dos faróis de uma das avenidas engarrafadas de São Paulo, vi o caderninho, a caneta... E surgiu o desenho. Assim criei meu “sketch book do trânsito”, nova modalidade de arte que mistura adrenalina, desenho e ousadia.

Desculpem-me se o desenho está meio tremido, mas é que ele foi feito literalmente nas coxas.Entre um farol fechado e outro com o risco iminente de ser flagrado por um “marronzinho”.

E não se esqueça: seu carro pode ter sido fabricado pela FIAT, FORD, VOLKS ou até pela MERCEDEZ BENS... Mas ele foi envazado em São Paulo.

Moça esperando ônibus na avenida Santo Amaro (o semáforo abriu rápido)

A chuva sempre ajuda no trânsito

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

UM, DOIS, TRÊS...GRAVANDO!!!


Por Edu Zambetti

Quem toca em uma banda e tem que fazer uma pré-produção, gravar uma Demo ou o próprio CD contendo seu trabalho, pode, no mais comum dos casos, entrar num estúdio qualquer e gravar o que o suado dinheiro puder pagar. No final do processo resta aquela torcida para que a mixagem e a masterização fiquem boas...Nunca agrada a todo o mundo, isto é certeza.
Outra opção é a banda investir num equipamento para home studio, gastar uma grana razoável e produzir seu próprio trabalho...
Há ainda a forma um pouco mais “punk” de se realizar este trabalho. Basta instalar alguns programas de gravação e edição de áudio no micro de um dos integrantes da banda, dar uma fuçada, testar, arriscar e conseguir a mais criativa e diferenciada gravação de todos os tempos...Hummmmmmmmm...Tudo bem...Exagerei um pouco...Mas que tal tentar?
De qualquer forma, a pior coisa que uma banda pode querer é soar como outra...Soar igual aquela que toca no rádio...Isto é triste mesmo...O legal é buscar o seu próprio som!
Abaixo tem uma lista de alguns softwares grátis (existem muitos outros por aí, fora os piratas e os comerciais) que cumprem esta função de maneira suficiente...
Só não faz quem não quer.

Gravador, Editor de Áudio:

Audacity
http://audacity.sourceforge.net/?lang=pt

Kristal Audio Engine
http://kristal-audio-engine.softonic.com.br/

Power Sound Editor Free
http://www.free-sound-editor.com/

Wavosaur
http://www.wavosaur.com/

Sequenciador /Bateria Virtual:


Studio Factory
http://syntiac.com/studiofactory.html

Drumbox
http://www.ordrumbox.com/

Blackhole
http://www.blackholeprojector.com/

Manual em Português:

Audacity:
http://www.musicaudio.net/gratis/audacity/intro.html

Kristal Audio Engine
http://www.musicaudio.net/gratis/kristal/recording.htm

Páginas Sobre Áudio:


http://www.musicaudio.net/

http://audiolist.org/

http://rafael6strings.blogspot.com

Gravadores analógicos K7:

http://www.tascam.com/products/414mkii;9,17,7,16.html

http://www.fostexusa.com/index.php?file=products/analog/x12

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

OS MENINOS E AS PEDRAS

por Flávio Grão



Como todos sabem Balneário Fantasma está situada entre a maior cidade do país e o litoral do estado. A maioria das pessoas a conhecem apenas através das placas das rodovias que passam por ela.
As indústrias foram embora e o povo teve que se virar com novas atividades. A identidade antes construída pelos operários em torno das fábricas e suas lutas sindicalistas não faziam mais sentido na nova realidade – um povo inteiro a vagar procurando um novo motivo para suas existências - muitas vezes a encontrando em uma garrafa de Dieselina: o tradicional destilado local feito com sobras de óleo diesel e raspas de chocolate.

Como alternativa econômica, os políticos e a sociedade civil começaram a reestruturar o entorno do antigo Lago da Neblina como possível ponto de atração para o turismo.

Duas grandes rodovias cruzam Balneário Fantasma. Em suas margens pequeninos pólos econômicos foram criados: borracheiros, pesqueiros, botecos, restaurantes, motéis e boates decadentes.
Esse era o caso do pobre vilarejo do Preá atropelado que contava com no máximo setenta habitantes já no alto da serra e antes da descida para o litoral.

No Vilarejo do Preá atropelado vivia a família de Lucas.
Lucas e seus amigos foram criados na margem da rodovia e desde pequenos um de seus passatempos preferidos era ficar sentados no acostamento olhando os carros: bólidos velozes que passavam pela rodovia com seus interiores hermeticamente lacrados repleto de pessoas brancas como ceras ignorando tudo o que tivesse às margens – inclusive e principalmente eles.

Volta e meia um carro furava o pneu e parava a contragosto. Era sempre um momento rico para Lucas e seus amigos, pois no vilarejo não havia veículos (a não ser a Kombi onde morava o Sr. Galdêncio que dizem que já andou um dia). Nessas situações havia uma regra: nunca se aproximar. Descobriram isso certa vez quando foram oferecer ajuda a um senhor de bigode branco e ele os ameaçou com uma chave de roda.

Lucas e seus amigos descobriram a brincadeira voltando da escola pela margem da rodovia em uma sexta feira.
Naquele dia Lucas tinha tomado um sermão do professor (por ser o único da classe a tirar média D) e seus amigos o cercavam aos gritos com a intenção de irritá-lo:
-Burro! –Burro!
Lucas (que tinha o pavio curto) apelou e começou a atirar pedras neles.
Uma dessas pedras atingiu em cheio o vidro de um carro que trincou de imediato.

O carro brecou e seu motorista desceu aos gritos:
-Seus filhos da...
Antes que ele pudesse acabar o xingamento Lucas e seus amigos já se embrenhavam na mata. Correram até chegar em uma clareira onde desabaram a rir.
Aquele riso cúmplice tinha um significado especial e todos entenderam aquilo no momento em que o veículo parou. Era a descoberta de algo mágico: Mais que um modo de interação com aqueles seres intocáveis era um meio de diálogo com um mundo que teimava em ignorá-los.

Naquele final de semana começaram as travessuras. O local preferido era em uma parte da estrada cavada no meio de um morro de onde poderiam atingir os carros sem serem vistos.
-Este cinza é o meu!
-Aquele grande é meu! Meu!
-Eu quero esse preto!

Com o passar do tempo adquiriram a técnica precisa de atirar as pedras de modo que o vidro dos carros apenas trincasse. Sabiam que se fosse uma pedra muito grande o vidro arrebentaria, como da vez em que a caminhonete derrapou e quase bateu de frente com o ônibus que vinha no sentido contrário. Em seus pensamentos simples sabiam que só queriam atenção. Machucar alguém era errado.

E os carros pertenciam-lhes a partir do momento em que paravam com seus vidros quebrados e seus motoristas tinham reações desencadeadas por suas ações. Adoravam a sensação de controle.

De cima de uma árvore, atrás de uma pedra ou dentro de uma moita, o ápice era ouvir os xingos ou resmungos dos motoristas. Entreolhavam-se e tapavam as bocas sufocando suas gargalhadas cúmplices que só podiam eclodir depois que os carros retomassem seus cursos.

Os meninos colecionavam como figurinhas as diversas reações aos vidros trincados: loucos que desciam do carro e pulavam xingando; mulheres que desciam e xingavam mais ainda; jovens que olhavam incrédulos seu bem danificado. Nenhuma reação era exatamente igual à outra e os meninos comparavam orgulhosos seus feitos:
-O seu carro cinza não foi nada... Legal foi o vermelho que eu acertei... O velho até chorou!
-Legal mesmo foi quando aquele homem do carro amarelo chutou o farol do carro...

Com o passar do tempo a novidade foi diminuindo e o simples trincar dos vidros dos carros já não despertava prazer algum nos meninos.
Foi aí que Lucas matutou em casa uma idéia que julgou ser excepcional.

Uma outra regra que todos eles conheciam é a de que não se devia mexer com os caminhões.
Os caminhoneiros que transitavam naquela região eram vistos como motoristas particularmente perigosos por suas ações insanas como fechar ou pressionar os carros pequenos, brigar nos botecos e não pagar as garotas das boates. Tinham um apetite incomum para confusões e viviam bêbados de Dieselina.

Mas Lucas pensou que envolver os caminhões na brincadeira seria um passo natural e foi o que resolveu fazer naquela tarde de sexta feira.
-Tá doido Lucas?
-Eu sei o que estou fazendo, vamos esconder.
O grande caminhão surgiu no meio da neblina e parecia vir vagarosamente como se trouxesse em sua carga o destino de todos.
O clima era tenso e Lucas tentou relaxar os amigos:
-Esse caminhão preto é meu.

O caminhão se aproximou e a pedra foi arremessada causando uma decepcionante fissura no pára-brisa para alivio de todos.
-Que merda! – Não fez nada!
-Que droga, prefiro atacar nos carros, pelo menos racham!

O caminhão ao invés de uma brecada brusca, parou delicadamente.
Lucas e seus amigos ficaram esperando o motorista descer enfurecido, mas ninguém desceu.

Minutos passaram-se e nada.
De repente a porta abriu-se. Mas ainda assim ninguém desceu.
Lucas ficou intrigado. Tudo acontecera de uma forma totalmente inversa ao que havia previsto.
Mas ele se surpreendeu mesmo quando seus amigos começaram a descer lentamente, um trás do outro pelo barranco e se dirigiram pela estrada ao caminhão que ainda estava parado no acostamento.

Lucas sabia em seu íntimo que não havia o que fazer. Ficou passivamente do alto do barranco acompanhando com os olhos o modo como cada um dos meninos caminhava humildemente arrastando seus chinelos gastos até subir no caminhão.

O último, antes de subir, olhou para trás: um olhar sem foco e sem direção para além de Lucas. Seu rosto não tinha remorso, não tinha nada. Era apenas um rosto cumprindo sua sina. A porta do caminhão se fechou. O motor ligou e ele retomou seu caminho suavemente até que lentamente foi engolido pela neblina no horizonte da serra.

Ninguém nunca mais viu os amigos de Lucas.

Dizem que eles aparecem às vezes em dia de neblina intensa na beira da represa, brincando na areia, correndo e atacando pedras:

...Este cinza é o meu...
...Aquele grande é meu! Meu...
...Eu quero esse preto...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A FOTOGRAFIA NO UNDERGROUND

Xilipi (Felipe Eterno, colaborador desse blog) entrevistou para o site da Ideal Shop seis fotógrafos atuantes na cena do rock alternativo brasileiro: Jozzu, Cesar Ovalle, Mauricio Santana, Daigo, Luringa e Caio Paifer.

Os entrevistados falam sobre suas origens,influências, inspirações, carreiras, planos e também sobre o já clássico dilema dos fotógrafos contemporâneos: câmera analógica ou digital?

Além de serem fotógrafos, os seis têm em comum viver de fotografia no Brasil - o que é digno de nota.

Vale a pena conferir !


DJ Primo por Jozzu

PANAIR DO BRASIL



PANAIR DO BRASIL – Uma história de Glamour e Conspiração
Um filme de Marco Altberg
Narração de Paulo Betti
Com música de Milton Nascimento e Fernando Brant, na voz de Elis Regina

Panair do Brasil é um documentário de longa-metragem que resgata a história da empresa pioneira na aviação comercial brasileira, símbolo de modernidade e eficiência.
A empresa viveu o seu auge na era JK. Ao tomar o poder, o regime militar passou a perseguir a Panair do Brasil e seus dirigentes resultando na cassação de suas linhas aéreas em 1965. O filme mostra como a Panair do Brasil sobrevive ainda hoje no coração e na esperança da chamada Família Panair, composta por antigos funcionários e seus descendentes, que sonham com a volta de seus aviões aos céus brasileiros.

O filme que estreou na última sexta feira retrata com fidelidade histórica uma época do nosso País e a vida de um símbolo da aviação brasileira.

Há a intenção de lançar em DVD, todavia isso vai depender do resultado da exibição no circuito comercial.
Consulte salas de exibição e dê uma força para a memória nacional!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

THE LEMONHEADS & THE FUTUREHEADS

Por Marcelo Viegas

É um privilégio ver um show em Paris. Um privilégio ainda maior assistir um show do Lemonheads. Para abrir, nada menos que The Futureheads, uma banda inglesa das mais interessantes. Um clube pequeno, La Maroquinerie, foi o palco dessas apresentações, no dia 18 de setembro de 2008.

Com casa cheia o Futureheads subiu no palco. Um esporro do começo ao fim, sem trégua. Competentes ao extremo, os ingleses desfilaram um set baseado – majoritariamente – no seu disco novo, “This is not the World”. Mas também tocaram coisas do antecessor, “News and Tributes”, como “fallout” e a ótima “skip to the end”, acompanhada com palmas e cantoria pelo público. Quem já era fã da banda saiu rindo à toa, e quem não era foi visto comprando o disco no final do show. Agora era esperar pelo Lemonheads...

Sem firulas ou ego, Evan Dando entrou no palco como quem entra na sala de casa. Foi tão anti-star que muitos acharam que era um roadie. Apenas uns poucos quilinhos acima do peso, Evan é o mesmo relaxado de sempre, a começar pelo cabelo, idêntico aos áureos tempos da banda. Camiseta do Iron Maiden, calça jeans rasgada e um All Star branco, velho e surrado, completavam o visual do ex (ex?) símbolo sexual do rock alternativo.


Com uma nova formação (uma pena, daquelas bem lastimáveis, o fato de Karl Alvarez e Bill Stevenson, do Descendents/ALL, não estarem mais ao seu lado), o Lemonheads presenteou os fãs com um set list saudosista. Abriram com “rockin stroll” e tocaram o clássico álbum “It´s a Shame About Ray” na ordem e inteiro. Isso mesmo, na ordem do disco e de ponta a ponta, com exceção do cover de “mrs robinson”, que ficou de fora. Ainda bem.

A platéia, mezzo atônita (“cadê as músicas novas?”), mezzo realizada, entrava num túnel do tempo surreal, de volta a 1992. Evan estava doidão? Claro que estava, mas esse é o seu modus operandi há vinte anos. Talvez por isso, reflexo dos abusos, sua voz não seja mais a mesma. Aliás, na primeira metade do show estava sofrível. Ele colocou a culpa no ar condicionado do avião (“desculpem pela minha voz de avião”), e de fato sua voz foi esquentando e melhorando no decorrer do show.


Outras pérolas do set: “it´s about time”, “hospital”, “if I could talk i´d tell you” e “the great big no”. Por duas vezes a banda saiu do palco, e Evan encarou os parisienses sozinho. Por sorte, sua voz já estava recuperada nessa altura do campeonato. “Into your arms” foi apresentada assim, acústica e linda. De arrepiar. A única música do álbum mais recente (auto-intitulado) foi justamente a última do set, no bis, fechando esse show histórico: a fantástica “no backbone”, cantada em coro por um brasileiro que assistia o show bem em frente ao palco.

Evan sorriu. Talvez tenha pensado: “Ufa, alguém conhece as novas”. Disse adeus, virou as costas e deixou o palco, com a mesma simplicidade com que havia entrado. Ele sabe que não precisa provar mais nada pra ninguém. Ele já fez história, e às vezes pode brincar de visitá-la, como nesse show, numa fria noite em Paris.





Fotos: Oliver Peel e Anjali Knebworth

domingo, 9 de novembro de 2008

FANZINES DE PAPEL – MÁRCIO SNO

Por Flávio Grão




Para começar bem a semana que tal uma leitura agradável para te acompanhar em qualquer canto?


Em 2005, Márcio Sno (jornalista, educador e fanzineiro) foi convidado para dar uma oficina sobre Fanzines no SESC Barra Mansa e teve a idéia de montar uma cartilha para os participantes. Foi aí que surgiu o manual "Fanzines de papel – O estranho sentimento que movia os fanzineiros do século passado".

O autor publicou e participou de vários fanzines na década de 90 e tem propriedade no que escreve. O "Fanzine de papel" aborda de forma apaixonada vários aspectos deste veículo de comunicação - dos mais simples até análises complexas, passando pela sua origem, etapas de produção, distribuição, temas etc.

É um prato cheio que agradará e informará desde aqueles que nunca leram um fanzine até as pessoas que já publicaram ou participaram ativamente de algum deles.

A estética do "Fanzines de papel" lembra os fanzines antigos, com fonte do tipo datilografada e uma diagramação saudosista. Essa é uma opção intencional que só acrescenta valor ao material. Material caprichado, diga-se de passagem: traz notas de rodapé e possui um apêndice delicioso com referências de publicações e sites sobre o assunto.

O mais legal é que esse trabalho está disponível para download no blog do Márcio Sno em formato PDF.

Aproveite também e visite a divertida coleção de flyers que ele produziu e agora disponibiliza no seu blog.

sábado, 8 de novembro de 2008

E AGORA, MOZ?


2004. Na faixa “America is not the World”, que abre o álbum “you are the Quarry”, Morrissey canta: “America / the land of the free, they said / and of opportunity / in a just and a truthful way / but where the President is never black, female or gay / and until that day / you´ve got nothing to say to me”.

E agora, Moz?

Ps. Agradeçam o Márcio, do Alternar Zine, por lembrar dessa letra…

SE TIVÉSSEMOS QUE VOTAR...

Por Marcelo Viegas

Ao invés de postar uma reflexão pós-eleição, preferi resgatar um textinho que fiz em Julho desse ano. Não escapo da euforia generalizada por ver o primeiro presidente negro dos EUA, nem tampouco por ver o mundo livre de Bush, mas mesmo assim... Bom, eis o que escrevi, poucos meses atrás:

Levando em consideração tudo o que li até agora sobre Barack Obama (não que eu tenha lido um mundaréu de coisas, mas li algumas), creio que não é errado dizer que ele é o melhor candidato para o mundo, e o pior para o Brasil.

Absurdo? Em termos gerais sim, mas não em termos específicos. Obama é defensor da manutenção das tarifas sobre o etanol brasileiro, de modo a fomentar a produção e o mercado do etanol americano. Dizem até que é favorável a sobretaxas. Bush, por sua vez, queria deixar o etanol brasileiro entrar nos EUA.

Assim, nesse recorte específico e egoísta, a afirmação se justifica: Obama – melhor pro mundo, pior pro Brasil.

Curioso, não?

Tão curioso que conversei sobre isso com algumas pessoas. Fernando Steler, amigo e aprendiz, discorda. Pra ele, o que é bom pro mundo, é bom pro Brasil. Douglas Prieto, colega de trabalho e articulista do skate, tem suas dúvidas, mas afirma: “se eu fosse americano, votaria no Obama”. Lauro Larsen, ex-cunhado e colecionador, concorda. Ele não entende como o mundo todo pode achá-lo tão legal.

Eu também não entendo. Por não entender, suspeito. Sabe como é, criado em Marx, filosofia da suspeita, algumas coisas estão inseridas no nosso DNA. Melhor suspeitar, sempre.


sexta-feira, 7 de novembro de 2008

ROCK PRIMITIVO EM SP


Zinismo também é agenda. Ainda mais quando o programa vale a pena. Nessa sexta (07/11), por exemplo, a noite paulistana ficará mais quente e primitiva, com o show dos ingleses do Black Mekon, tendo na abertura um duelo inusitado de one man bands.

Marco Butcher, também conhecido como Uncle Butcher, visita sua terra natal (o rapaz vive com o pé na areia em Floripa, há um bom tempo) para participar desse duelo de monobandas. De um lado The Fabulous Go-Go Boy From Alabama, e do outro Uncle Butcher and his Oneman Band. O estrago deve ser grande...

E na seqüência o power trio de Birmingham (UK), desfilando seu blues punk de primeira linha. Dizem por aí, e as fontes são confiáveis, que eles são capazes de transformar sua festa de formatura em pura catarse boogie, pra dançar e cair na bebida.

Serviço
Black Mekon (UK) + Duelo One Man Bands
Sexta, 07/11, 22h
CB – Casa Belfiore
Rua Brigadeiro Galvão, 871
Barra Funda
São Paulo (SP)