terça-feira, 3 de março de 2009

WATCHMEN X ALAN MOORE


Para quem gosta de música vale a comparação: o roteirista Alan Moore está para as adaptações de quadrinhos para cinema assim como a banda Fugazi está para as grandes gravadoras.

Podemos afirmar que há 20 anos atrás os quadrinhos de heróis atingiu seu auge. Nesta época foram publicados muitos dos gibis considerados clássicos absolutos do gênero. O cavaleiro das trevas (Frank Miller), Electra Assassina (Miller e Bill Sienkewicz), Batman Ano Um e A queda de Murdock (Miller e David Mazzuchelli), A piada Mortal (Alan Moore e Brian Bolland) e Watchmen (Alan Moore e Dave Gibbons).

Eram outros tempos. Os quadrinhos de heróis tinham uma cultura própria e Hollywood não tinha descoberto ainda o potencial da nona arte. As adaptações de quadrinhos para cinema na época deixavam muito a desejar. Tudo mudou com o primeiro filme do X-MEN, sucesso estrondoso que deu origem à redescoberta dos maravilhosos roteiros empoeirados dos gibis clássicos.

Em uma observação atenta aos nomes acima, dois se repetem: Frank Miller e Alan Moore. Na cabeça de qualquer nerd com mais de trinta anos estes nomes não são surpresa. São dois dos melhores escritores de quadrinhos de todos os tempos. Ambos foram adotados por Hollywood, cada um à sua maneira. Frank Miller tem uma relação amigável com a indústria do cinema. Várias obras suas foram adaptadas, Batman Begins foi baseada em Batman Ano I, 300 de Esparta em sua série homônima, Sin City em outro gibi seu. Todas são adaptações muito dignas e fiéis aos originais.

Já Alan Moore, embora tenha feito trabalhos para grandes editoras de super-heróis há algumas décadas, se especializou na produção de histórias em quadrinhos mais politicas e complexas (quem assistiu ou leu V de vingança sabe disso). Muitas destas histórias foram adaptadas para o cinema contra sua vontade. Entre outras adaptações de histórias suas, temos: Do inferno, A liga Extraordinária, Constantine (personagem criado em uma história do Monstro do Pântano), V de vingança e agora a esperada estréia de Watchmen.

Ao contrário de Frank Miller, a postura de Alan Moore com relação à indústria de Hollywood sempre foi de enfrentamento. Uma atitude de revolta (similar a alguns punks) porque entende que além da indústria do cinema sempre fazer transformações em seus roteiros (seja para agilizar a história, seja para comercializá-la), crê nas histórias em quadrinhos como um veículo de comunicação legitimo, poderoso e subversivo. O escritor se recusa a participar das adaptações de suas histórias para o cinema e dá justificativas do tipo: "Acho que o cinema na sua forma atual é muito prepotente. Ele nos dá comida na boca, o que dilui nossa imaginação cultural coletiva. É como se fôssemos passarinhos recém-saídos dos ovos olhando pra cima, com nossas bocas bem abertas, esperando que Hollywood nos alimente com um vômito de vermes. O filme de Watchmen parece mais vômito de vermes. Eu, pelo menos, cansei de vermes" (trecho retirado do blog omelete).

Polêmicas à parte, nesta sexta-feira (dia 06 de março) estréia nos cinemas a adaptação de Watchmen, considerado por muitos nerds o melhor gibi já feito e eleito por críticos da revista Time um dos cem melhores livros em língua inglesa do século passado. Fica a dica, mas não se contente com o filme e tente ler o gibi, são duas horas e meia de filme contra mais de quatrocentas páginas desenhadas e escritas com muito esmero.

Watchmen: veja o filme ( e leia o livro )

Para aqueles que não tiveram a oportunidade de ler a história em quadrinhos, está sendo lançada pela editora Panini a edição definitiva de Watchmen encadernada em único volume. A editora também relançou na semana passada A Piada Mortal, uma das melhores histórias do(why so serious?) Coringa, que “por acaso” também foi escrita por Alan Moore.


A piada mortal: história e ilustrações clássicas.

Agora para quem quer se aventurar mesmo pelo mundo do bruxo (fumador de haxixe) Alan Moore, eu recomendo a leitura de seu livro “A voz do fogo” que conta histórias de sua cidade natal (Northampton) durante um período de cinco mil anos.
Outra leitura recomendada é dos raríssimos gibis do Monstro do Pântano, personagem que ele recriou (em histórias repletas de psicodelia, terror e magia negra) no início da década de noventa e que foram publicados pela Editora Abril nesta época.

Monstro do Pântano: não empresto, não alugo nem vendo.

11 comentários:

  1. 20 anos atrás... Sandman não conta?
    Mais: viu no blog do Gaiman, post de 25/02, uma matéria feita pelo próprio com o Moore em 1986?
    Leia o livro, veja o filme: claaaaaro que vou ter que conferir Watchmen, mas, tenho medo do que fizeram...

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  2. Sabe que eu pensei um pouco sobre isso depois que eu escrevi o texto.
    Claro que o Neil Gaiman conta. Mas eu não o coloquei na discussão porque ele não teve esse envolvimento com os ditos "super-heróis" . Gosto muito do Neil Gaiman, ele criou um universo próprio de lendas e personagen comparável ao de poucos autores.

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  3. Very nice! Desde o início do Zinismo eu aguardo um texto seu sobre HQ's. Esperou a hora certa e começou em grande estilo!

    Espero que novos posts sobre esse tema, que vc domina como poucos, voltem a aparecer por aqui.

    ps. tb tenho medo de adaptações, mas óbvio que irei ao cinema conferir...

    ps.(2) A Voz do Fogo é uma prova de paciência: quem vencer as primeiras 60 páginas terá uma recompensa valiosa. E hoje, depois de uns 4 meses da leitura, são exatamente essas 60 páginas que me trazem recordações mais fortes sobre esse livro... weird!

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  4. Em termos de HQ's é claro que Sandman conta, mas concordo com o Grão.
    Agora, por mais que eu tenha medo do filme de Watchmen, o que eu tenho visto de trailers e teasers por aí parece ser bem fiel ao HQ. Sabe o que mais me preocupa: O Gibi de Pirata" que o moleque fica lendo todo dia do lado da banca. Uma vez que a história do gibi parece criar um paradoxo com a história do Watchmen (que é o gibi que VOCÊ está lendo), ainda tem o fato do roteirista da história estar envolvido com os planos de Ozymandias.
    O que eu achava mais foda no Watchmen (E olha que os meus não não encardenados, quase morria esperando sair a próxima edição!! Era pior que Lost!!!) era que no final do gibi sempre tinha algo relevante a história, mas completamente fora dela. Tipo a entrevista do Ozymandias e a piadinha com cocaína, A história do roteirista e do desenhista do "Gibi de Pirata" (Tales of Black Freighter - tive os dom de conferir no gibi!), a ficha policial e médica do Rorschach, as edições do News Frontier. e vai ser treta eles enfiarem essas informações soltas no filme.
    Outra coisa que a gente perde é a arte das capas. Nas edições normais, na contracapa, o sanguem que ia escorrendo pelo relógio gradativamente a cada número!

    Bom, mesmo assim, sexta feira eu to lá! Na primeira sessão!
    Já comprei até o ingresso!

    ps: no número três do meu Watchmen tem uma propaganda de 300 de Esparta!

    ps2: Nerd com mais de trinta foi foda! hauhauhauhauha!

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  5. Realmente, Watchmen é um ícone dos HQs pelo menos pra mim, pois foi o divisor de águas quando tudo que eu tinha acesso se resumia aos universos Marvel/DC. Veio com uma proposta muito mais adulta, real e caótica, proporcionando uma série de seguidores e autores inspirados em Alan Moore. Quando pensamos no cinema, realmente dá um enorme frio na barriga pois, assim como nas HQs, temos o lado convencional e o menos ortodoxo. Resta saber de que tipo de filme estamos falando. Se considerarmos X-Men, Hulk, Batman e outros personagens que foram tão banalizados, a expectativa é negativa. Mas se olharmos para Sin City, Anti-Herói Americano ou Persepolis, o mundo se torna um lugar melhor.

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  6. muito bom , gostei da ultima frase , não empresto e não vendo, porque tenho uam coleção boas de gibis , também e alguns classicos destes citados ai no texto, abraços ai do rato

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  7. Mandou bem Maurício. Anti-herói Americano foi maravilhoso, Persépolis então, nem se fala...
    Refleti um pouco mais e entendi uma coisa. As adaptações de Frank Miller são mais fiéis porque geralmente ele participa ativamente dos projetos, como co-produtor ou como algo que o valha. Já Alan Moore não deixaria de fazer quadrinhos para trabalhar no cinema, logo acontece o que acontece...

    Quanto ao "Contos do Cargueiro Negro"... Bem... teremos que esperar a versão do diretor em DVD... é bem provável que essa história saia em animação... na real eu já vi algumas imagens dela...hehehe
    E parece-me que foram produzidas mais de seis horas de animação, espécies de storyboards do Dave Gibbons sobre o Watchmen que talvez saia também.
    Mas o Contos do Cargueiro Negro é quase certo...
    Abraz!

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  8. só sei q watchman marcou minha vida de leitora! outro dia vi os seis gibis em um sebo, mas qndo voltei pra comprar já era... quero ver essa publicação nova aeh

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  9. Vocês viram o trailer dos Contos no YouTube? Tem link no Omelete também, mas, na minha máquina não funcionou...

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  10. eu vi umas imagens, mas não animação... Mas no Omelete também tem o pacote de DVD que vai sair na gringa com os bônus...
    Muito Nerd essa conversa...hehe

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  11. o trailer é da animação, voz de Gerard Butler...
    a pergunta que não quer calar: há vida inteligente além dos nerds?
    hahaha

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