Por Marcelo Viegas
Primeiro veio o Fireside, em 1994. Conheci no auge daquela febre das bandas Revelation, Doghouse e afins. Na busca por coisas novas, esbarrei na banda sueca recém-formada, que acabara de lançar seu debut, “Fantastic Four” (relançado pela Crank! em 98). O tempo passou, o Fireside continuou lançando seus discos, mas sinceramente não acompanhei.
Então, em 1999, quando fazíamos a produção da coletânea 100% Stereo, iniciamos umas conversas com o selo sueco Startracks. Tínhamos interesse (leia-se Playstereo) em licenciar o material da banda Starmarket, que havia lançado o excelente “Four Hours Light”. No pacote enviado pelo selo, além do Starmarket, havia outros títulos, entre eles o debut (“Go, Went, Gone”) de um tal de Kristofer Åström, de 1998.
Fuçando nos encartes veio a resposta: o tal Kristofer era o vocalista e guitarrista do Fireside. Porém, a sonoridade da sua carreira solo era muito mais suave e melancólica. Não colocamos nenhuma música dele no 100% Stereo, mas guardei o CD. Eis que, no ano passado, depois de algumas conversas com a Fernanda (Punknet), conheci o álbum “Rainaway Town”, e gostei.
Através do Myspace, entrei em contato com o Kristofer, que imediatamente topou responder algumas perguntas para o Zinismo. Assim, em sua primeira entrevista para o Brasil, Kristofer Åström, que acaba de lançar seu novo álbum, “Sinkadus”.
ZINISMO: Quem é mais popular na Suécia: sua carreira solo ou Fireside?
KRISTOFER: Como o Fireside não produziu nada nos últimos anos, nesse momento a minha carreira solo tem mais projeção. Mas eu continuo recebendo perguntas sobre o Fireside. As pessoas ainda se lembram de nós.
ZINISMO: Em meados dos anos noventa, quando o Fireside começou, a cena sueca era dominada pelo hardcore melódico, com bandas como Millencolin, Satanic Surfers e No Fun At All. Chegava a ser um problema pra vocês? Afinal vocês faziam um tipo bem distinto de “hardcore”...
KRISTOFER: Na verdade, nós começamos como uma banda de hardcore melódico. O nome da banda era Superdong e nossas maiores influências eram Bad Religion e NOFX. Mas, como você mesmo disse, quando começamos o Fireside nós tocávamos um tipo de música que as pessoas nunca tinham escutado antes... Pelo menos não na Suécia! As pessoas tinham muita dificuldade em encaixar nosso som em um certo gênero musical. Até nós mesmos tínhamos dificuldade. Não era punk, não era metal e tampouco skate punk. Era algo que tinha um pouco disso tudo, e isso confundia as pessoas. Então, respondendo sua pergunta, gerou um pouco de problema sim, mas muito mais pras outras pessoas do que pra nós.
ZINISMO: Lá se vão seis anos desde o último álbum do Fireside, “Get Shot”. O que a banda tem feito?
KRISTOFER: No momento, quase nada. Todos da banda estão fazendo outras coisas nesse momento. Coisas que acreditamos ser mais importantes e divertidas, pelo menos agora. Mas não estamos fechando a porta completamente. Nós poderemos fazer algo no futuro, se acharmos que é a hora certa.
ZINISMO: Em 2008, você celebrou uma década da sua carreira solo. Como foi isso?
KRISTOFER: Eu estava justamente pensando nisso alguns dias atrás. Ainda não tinha caído a ficha que eram dez anos. Mas não sinto como se fosse tanto tempo assim. Eu sinto que estou apenas começando...
ZINISMO: E o mais incrível disso: dez anos no mesmo selo! Como é sua relação com a Startracks?
KRISTOFER: É uma relação de amor e ódio. Brincadeira! Mas, conhecer alguém tão bem quanto nos conhecemos, é algo que certamente tem seu lado bom e ruim. Nós passamos por muita coisa nesses dez anos. Tanto em termos de negócios quanto em coisas pessoais. Com certeza houve momentos em que pensei em trocar a Startracks por algum outro selo. Mas creio que nenhum outro selo sueco me ofereceria melhores condições. Eu sempre tive uma visão de vida com projetos em longo prazo. Talvez leve mais dez anos para que eu alcance meus objetivos, e talvez isso nunca aconteça. Mas, se acontecer, eu quero alcançá-los ao lado do Fredrik, dono da Startracks.
ZINISMO: No Brasil, as pessoas que admiram seu trabalho são basicamente os fãs daquele emocore dos anos noventa. Você sabia disso?
KRISTOFER: Eu não fazia a menor idéia que alguém no Brasil já tivesse ouvido falar de mim. Isso é incrível!
ZINISMO: Você vem tocando esse tipo de som há muito tempo. Muito antes do alt-country, muito antes do novo hype do folk. Enfim, como você se sente quando alguém te rotula como isso ou aquilo?
KRISTOFER: Parafraseando Bob Dylan, “eu costumava me importar, mas as coisas mudaram”. Eu creio que, se eu continuar verdadeiro em relação à minha música, sem comprometê-la ou seguir novas modas (a não ser, é claro, que eu queira segui-las), então não me incomoda nem um pouco como as pessoas vão chamar minha música. Ela continua sendo a mesma música.
ZINISMO: No seu disco anterior (“Rainaway Town”) havia mais elementos de música country. Era por influência da sua banda nova ou foi algo relacionado à sua evolução musical?
KRISTOFER: Quando eu escrevi as músicas para “Rainaway Town”, eu tinha em mente criar o melhor disco de alt-country já feito na Suécia. Eu não sei se consegui, mas naquele disco há certamente mais elementos de música country. Eu acabei de lançar um novo álbum (“Sinkadus”) que não traz tanta influência de música country. Foi apenas algo que eu quis fazer naquela época...
ZINISMO: Antes você era acompanhado pela banda Hidden Truck e agora você tem uma nova banda. O seu próprio selo afirmou que “Rainaway Town” soava mais como um “álbum de banda”. Como você vê isso?
KRISTOFER: Eu acho que o fato desse disco ter sido gravado ao vivo em estúdio fez com que soasse dessa maneira. Mas o fato é que eu não conhecia metade da banda antes da gravação começar...
ZINISMO: A canção “the dark”, do álbum “Rainaway Town”, parece uma faixa perdida do Elliott Smith. Ele é uma de suas influências?
KRISTOFER: Elliott Smith sempre foi uma das minhas grandes influências, desde a primeira vez que o ouvi, em 1996. É engraçado você ter dito isso, porque eu quase não gravei esse som. Eu estava um pouco preocupado, porque parecia muito com Elliott Smith. Mas aí eu pensei: “Que se dane, ainda assim é uma boa música”. E então a gravei.
ZINISMO: Você conhece alguma coisa de música brasileira?
KRISTOFER: Eu sinceramente não conheço nada. Essa é uma das coisas ruins da Suécia: só conhecemos a música norteamericana e inglesa. Então é muito difícil ouvir música produzida em outros países. Por exemplo, os alemães parecem conhecer mais sobre a música de outros países, e não apenas dos EUA e UK. As pessoas na Suécia têm a cabeça fechada em relação à música. Mas, em compensação, eu conheço um pouco sobre antigos bonecos do Star Wars feitos no Brasil! (risos) Tanto os bonecos feitos pela Glasslite quanto a incrível série feita pela Model Trem.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
ENTREVISTA: KRISTOFER ÅSTRÖM
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EXCLUSIVO!
ResponderExcluirEXCLUSIVO!
Bela entrevista!
Perguntas e respostas que fogem ao banal! Ótimo!
ele dalou Glasslite??
ResponderExcluirque massa, virei fã!
bem bom o som do cara, parabéns!
abraços,
mark