quarta-feira, 14 de abril de 2010

RIP DANIEL GARCIA: UM RELATO PESSOAL


Por Marcelo Viegas

Minha relação com a banda sergipana Snooze é notória. Conheço esses cabras há pelo menos 15 anos, desde a época da primeira demo-tape, aquela dos olhos cansados. Escrevi sobre eles em zines e revistas, coloquei músicas deles nas coletâneas 100trifuga e 100% Stereo, lancei dois discos (“waking up...waking down” e “let my head blow up”) pela sHort, organizei a primeira tour em SP, etc. Parceria forte. Eles sempre fizeram por merecer.

De entusiasta passei a amigo. Foi em dezembro de 1997, depois de uma longa viagem de ônibus, que finalmente conheci pessoalmente meu brother Rafael Jr, que me esperava na rodoviária da cidade. Tive o privilégio de assistir um show do Snooze pela primeira vez em Aracaju, terra natal dos caras. Foi a primeira de muitas visitas à capital sergipana. Sempre fui recebido de braços abertos, assim como meus amigos que viajaram comigo. Fiz muitos amigos por lá, e essas amizades permanecem até hoje.

Daniel Garcia, o guitarrista da formação original, sempre se mostrou o mais “na dele” dos três. Inclusive mais reservado do que o tímido Fabinho. Seu jeito tranquilo também o acompanhava no palco. Sem firulas ou exibicionismo, Daniel deixava que a música falasse mais alto. E ela falava. Suas guitarras ora limpas, ora no limite da distorção, estão eternizadas no primeiro álbum da banda. Tenho muito orgulho de ter lançado esse disco.

O primeiro show do Snooze em SP, no extinto Planeta Rock, em SBC, aconteceu numa fria noite de outubro de 1998. Era o lançamento do “Waking Up...Waking Down” no Sul maravilha. Acostumado com o calor do Sergipe, Daniel cometeu o erro de vir à Sampa sem uma blusa na mala. Batendo os dentes, me pediu uma emprestada. É com essa blusa que ele aparece nas fotos p&b desse show, feitas pelo então principiante Marcelo Ribeiro.

Algum tempo depois, Daniel mudou para Campinas (SP) para estudar e, assim, encerrou sua história como guitarrista do Snooze. Mas sua voz, guitarra e letras estão lá, nos primeiros registros da banda, ad infinitum.

Por conta desse meu histórico com o Snooze, foi com muita tristeza que recebi a notícia do seu falecimento. Não consigo evitar a lembrança que, em menos de um ano, Daniel é o terceiro nome da cena independente dos anos 90 que nos deixa. Em maio de 2009 morreu Fábio L., do Second Come, e em junho de 2009 faleceu Carlos Véio, do Concreteness.

Nossa geração, que sedimentou o terreno da cena indie nacional, começa a perder alguns nomes que participaram desse processo. Assim, aqui fica a minha lembrança e homenagem, para que essas pessoas e histórias não caiam no esquecimento.

RIP, Daniel Snoozer!



“You should overcome your past / leaving bad memories / you must lift your head / after all, you´re still alive here

[trecho da música “overcoming (bad memories)”, letra de Daniel Garcia)

...

8 comentários:

  1. Nossa, meu, que triste, sou fã do Snooze desde o tempo dos flyers zom os dois olhinhos em preto e branco, até que um tempo atrás consegui reatar contato através do orkut, depois de receber uma coletânea com música deles.

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  2. acabei de chegar do enterro..
    muitos amigos, saindo de vários cantos do brasil.
    um irmão muito querido e amado por todos.
    eu e rafael falamos à mãe de daniel, d. leônia, como ele tem sido lembrado no meio rocker. tá todo mundo muito chocado, mas por aqui temos certeza de que ele está muito bem, pois sua luz é grande, uma grandeza que não acaba em um corpo.

    paz e bem
    fabinho

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  3. Porra, linda homenagem ao guitarrista de uma das bandas mais fodas do Brasil!
    Jovem pra caramba!
    Faça barulho, meu caro!
    Parabéns pelo texto, Viegas.

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  4. Aeh Fabinho

    Muita força aí para você e para o Rafael e valeu por transmitir nossos sentimentos à família de Daniel.
    Acho que a frase do próprio roga para siguemos em frente, por isso, pelo Daniel, SIGAM!

    Meus sentimentos...

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