Por Luiz Cesar Pimentel
The Boys é uma das maiores e menores bandas do punk rock do áureo e simbólico 1977. Maiores porque quem ouve dificilmente escapa de virar fã. Menores porque sempre tiveram um obstáculo a alçá-los à (merecida) posição de Clash ou Sex Pistols. Mas a boa nova é que o grupo segue na ativa, na base de cinco ou seis shows por ano. E notícia melhor ainda é que virão ao Brasil pela primeira vez em abril. O líder do grupo, Matt Dangerfield, fala sobre isso e sobre tudo o que foi resumido nas linhas anteriores.
(Obs: Esta entrevista é livre de direitos autorais. Portanto, você pode e deve reproduzi-la, passá-la adiante, dar CTRL+C e CTRL+V no seu blog, site, zine, onde for. O único pedido é que não tire frases do contexto original para não haver interpretação errada.)
Você estava no olho do furacão do movimento punk de 77. Quais são suas melhores e piores lembranças da época?
A melhor coisa: curtir o Roxy Club enquanto durou (cerca de 100 dias pelo que lembro; não muito mais que três meses). Era uma segunda casa pra mim e era incrível ver as gravadoras atrás de todo mundo para assinarem contratos com as bandas quando perceberam que a cena seria grande.
Pior coisa: Fugir dos cuspes porque as pessoas leram em algum jornal musical estúpido que era isso que o público tinha que fazer em um show punk.
The Boys tem uma longa história. Por favor, torne-a curta para os leitores.
Eu tocava em uma banda chamada London SS com Mick Jones (The Clash) e Tony James (Generation X e Sigue Sigue Sputnik). Deixei esse grupo e me juntei ao Andrew Matheson e Cassino Steel que tocavam no Hollywood Brats e haviam gravado um disco tão brilhante quanto pouco ouvido. Andrew voltou para casa, no Canadá, para passar o Natal e nunca mais retornou (à Inglaterra). Casino e eu decidimos continuar, convocamos Honest John e mais tarde Duncan e Jack. Casino e eu começamos a compor e trouxemos Ken Mewis (ex-empresário do Brats) para cuidar dos negócios.
Fomos a primeira banda punk a assinar com uma gravadora (NEMS, por cinco anos). Após dois discos com a NEMS e muitas dificuldades com eles, The Boys entrou em greve e se recusou a fazer qualquer coisa. Aí a gravadora permitiu o rompimento do contrato. The Boys então voltou à ativa na Noruega para gravar o terceiro disco, “To Hell with The Boys”, lançado pela Safari Records. Gravamos também o quarto álbum, “Boys Only”, também pela Safari. Em 1981 o contrato acabou, e a partir daí cada integrante começou a fazer suas próprias coisas. Muitos anos depois nos reunimos para alguns shows no Japão. O sucesso foi tão grande que desde então estamos fazendo cinco ou seis apresentações por ano. Em abril vamos tocar no Brasil e na Argentina, e para o final do ano estamos preparando shows na Espanha, Canadá e Japão.
Como eram a relação e a rivalidade entre os membros das bandas como The Boys, Clash, Sex Pistols, Damned...?
Existia uma rivalidade amigável no começo conforme íamos nos conhecendo, mas depois, quando estávamos todos ocupados com as turnês e gravações de discos, nossos caminhos não se cruzavam com muita freqüência.
Conte sobre o estúdio que você teve no seu porão e algumas histórias que viveu por lá com Mick Jones e The Clash, Billy Idol e Generation X, Sex Pistols.
Era basicamente um depósito antigo de carvão no porão de um prédio que eu dividia com Barry Jones, também fundador do Roxy Club. Era bem pequeno – mais ou menos nove metros quadrados – mas era possível encaixar ali um kit de bateria e um par de amplificadores. Ensaiava lá com Mick Jones e Tony James quando éramos do London SS e todo o material do The Boys foi antes ensaiado lá. The Damned também tocou por lá, assim como Billy Idol, quando ainda não cantava e era apenas um guitarrista em Chelsea. Ele não tinha começado a tocar guitarra há muito tempo, mas pegou o jeito bem rápido. Me lembro dele imaginando que seria um ótimo guitarrista. Aquele espaço foi uma central do punk por um tempo para todos nós, de Sid e Nancy, a Johnny Thunders e Chrissie Hynde, até Midge Ure e Glen Matlock que apareciam com freqüência.
Qual é/foi seu sentimento sobre Elvis, já que sua morte causou uma série de problemas quando The Boys lançou o primeiro single?
Eu amo o Elvis! Ele não tem culpa de ter morrido quando morreu. Nosso primeiro álbum tinha sido lançado e estava vendendo bem. Tinha até entrado nas paradas em 40º lugar. Mas infelizmente nosso álbum estava sendo distribuído pela RCA, e quando o Elvis morreu, todas suas fábricas começaram a prensar gravações do Elvis. Então, nossa vendagem que tinha ido da estaca zero para o 40º lugar, simplesmente retornou para o nada em uma semana.
O que vocês se consideram? Power pop, rock ou punk?
Punk rock.
Como foi a turnê com o Ramones?
Essa turnê foi fantástica e os Ramones foram ótimos para nós. Nós não convivemos muito com eles porque todos estavam em um rigoroso regime sem drogas ou álcool. Ou seja: iam direto para a cama logo após os shows.
Quem é seu favorito (amigo ou personalidade) no punk/na música? E o pior? Por quê?
Favorito: Campino, vocalista da banda alemã Die Toten Hosen. Ele é fã de longa data do The Boys, uma pessoa fantástica e tem nos ajudado muito.
Pior: ninguém em particular, mas qualquer um na música que é arrogante está fora de ter chances de se realizar. A música é um grande nivelador porque qualquer um pode fazer aquilo que realmente deseja. Eu conheci muitos músicos famosos ao longo dos anos, e geralmente os mais bem sucedidos são os mais simpáticos.
(na foto acima: The Boys no Japão)
Vocês estiveram parados por 17 anos. Como foi quando recomeçaram a tocar com uma banda?
Ao longo dos anos eu fui acumulando vários pedidos para que o The Boys se reformulasse e voltasse a tocar em festivais punks etc, e sempre recusei. Mas aí uma grande banda japonesa chamada Thee Michelle Gun Elepanht fez alguns covers de músicas nossas e de repente começamos a vender muitos discos por lá. Fomos convidados para dois shows em Tóquio. Como o The Boys nunca tinha ido para o Japão, a proposta foi tentadora demais para ser recusada. Tivemos uma ótima temporada por lá e desde então estamos fazendo vários shows ao redor do mundo.
Luiz Cesar Pimentel trabalha no portal R7, como editor-executivo de Entretenimento. Antes foi diretor de conteúdo do Virgula e MySpace - trabalhou em Los Angeles na criação da versão brasileira do último. Na carreira, trabalhou também em alguns dos principais veículos do país, como Folha de S. Paulo, Editora Abril, revista Trip, os portais UOL, Starmedia e Zip.net, além de ser colaborador de Caros Amigos, Carta Capital, Playboy, Revista da Folha, Rolling Stone, Sexy, Jornal da Tarde, Elle e Superinteressante.
Zinismo agradece: Luiz Cesar Pimentel, pela colaboração, e Rodrigo Lima, pela ponte que tornou possível a colaboração.
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