Novamente o Zinismo recebe um belo texto da jornalista Juliana Sassi. Desta vez faz uma resenha do Manufatura #2, livreto/zine do nosso amigo Flávio Grão.
MANUFATURA #2 | INTEMPÉRIE
por Juliana Sassi
Em meio ao vazio da chamada arte conceitual, o trabalho do artista Flávio Grão é sem dúvida um contraponto revigorante. Desenhando com nanquim sobre couchê, traços leves e marcantes,dá forma de arte à inquietação presente em seus pensamentos.
Grão trata da problemática do rebaixamento e da fragmentação dos indivíduos, causados pela divisão social do trabalho na sociedade industrial, e o homem em acentuado processo de desumanização.
Neste fanzine pictórico, mostra o homem que produz sua existência sem controle, seguindo o curso pretensamente natural da vida, que se perde na reprodução da existência cotidiana.
Por entre seus personagens surgem escadas, prédios, e outros objetos que se mesclam e se refazem. Objetos criados pelo homem, mas que se confundem com ele pela característica comum de ambos serem mercadorias. Criador e criatura em conflito em um mundo que aparece invertido.
Entretanto, a necessidade humana de reconfigurar o mundo e a si parece dar ânimo aos personagens de madeira, que rumam agora ao desconhecido. Em uma das imagens, o abismo com o qual se deparam ilustra o abismo que separa o homem do que ele é e o que pode vir a ser.
E essa é a razão que os fazem seguir para além das intempéries em direção a sua
auto efetivação.
terça-feira, 15 de março de 2011
MANUFATURA # 2
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Uma análise à la Ernst Fischer do Manufatura! Algo raro numa época que a análise da arte raramente esbarra no aspecto social da mesma. Cool!
ResponderExcluirNão conheço muito a arte de Flávio Grão, mas com esta análise compraria até um quadro!
ResponderExcluirÉ meu caro Viegas 93...
ResponderExcluirPara conseguir ser um artista, é necessário dominar, controlar e transformar a experiência em memória, a memória em expressão, a matéria em forma. A emoção para um artista não é tudo; ele precisa também saber tratá-la, transmiti-la, precisa conhecer todas as regras, técnicas, recursos, forma e convenções com que a natureza – esta provocadora – pode ser dominada e sujeitada à concentração da arte. A paixão que consome o diletante, serve ao verdadeiro artista; o artista não é possuído pela besta fera, mas doma-a; (ERNST FICHER)
Valeu Juliana pela resenha!
ResponderExcluirInteressante ver uma análise de meus desenhos sob um ponto de vista mais social e critico. Como meus desenhos são produtos (à priori) de meus sentimentos dificilmente consigo analisá-los com este distanciamento... E o mais incrível que encontro uma verdade sobre a qual não tinha pensado e que se relacionam com a origem dos sentimentos que me fizeram produzir.
Classe!
Fiquei instigado a conhecer melhor sua obra Grão, tive somente contato com alguns texto do Zinismo impresso - muito bons por sinal -, e como coloca muito bem a Juliana, de fato toda arte que se aproxime do humano, em tempos de desumanização generalizada, merece de nós não somente atenção, mas o continuo trabalho de sociabilização.
ResponderExcluirParabéns a todos os envolvidos no Zinismo!
Realmente é muito interessante essa capacidade da arte de promover tanto em quem produz quanto em quem frui consciência de si e do mundo. Um certo Lukács falou tempos atrás que a arte é a autoconsciência da humanidade, acho é bem por ai...
ResponderExcluirÉ sempre bom retornar ao zinismo.
Um abraço a todos.