segunda-feira, 27 de junho de 2011

ENTREVISTA SHED 2002

Navegando pela net e consultando o Oráculo, encontrei uma entrevista que fiz com o Shed em 2002. Juro: não lembrava dessa entrevista. Ela foi feita na minha antiga loja na Galeria do Rock e foi publicada no site Zona Punk. E agora, quase 10 anos depois, resolvi publicá-la aqui também, na sua versão integral. Segue o bate-papo, com a intro original da época...


Num dia qualquer de Abril de 2002, me reuni com metade do Shed para um divertido bate-papo ao som de Closure e Smalls. Para os não-iniciados, o Shed é uma ótima banda paulistana de "róqui", ou neo-grunge como alguns preferem. O que importa realmente é a aposta numa sonoridade pouco usual e, talvez por isso mesmo, tão agradável aos ouvidos cansados da mesmice musical da cena alternativa tupiniquim. A banda é formada por Zé (guitarra e vocal), Fernando (guitarra e backing vocal), Gabriel (baixo) e a lenda Hugo (bateria e baladas na Riviera São Lourenço). Eles lançaram há pouco tempo o seu segundo álbum "Now Available In Stereo" (primeiro pelo selo Highlight) e têm mostrado nas suas performances ao vivo toda a força e qualidade da sua música. O essencial já foi dito, para maiores detalhes e ocasionais gargalhadas leia a entrevista logo abaixo... Senhoras e senhores, é com imenso prazer que lhes apresento o sensacional Shed!!

Viegas: Como, quando e por quê o Shed iniciou suas atividades?
Zé: Começamos em 98, a fim de tocar só, foi isso...
Hugo: Eu tinha outra banda antes, aí o Zé entrou pra cantar, aí a banda começou a fazer as paradas em português, nós saímos fora e montamos o Shed.

Viegas: Por quê? Só porquê era em português?
Hugo: É, a gente não gostava de português na época... tava muito igual Legião Urbana e como eu odeio Legião Urbana preferi sair fora.

Viegas: Já que entramos na polêmica do idioma, eu gostaria de saber qual o principal motivo que levou o Shed a optar pelo inglês: foi pelo fato do Zé ser americano, por causa da sonoridade em si ou para atingir um público para além das fronteiras do Brasa?
Zé e Hugo juntos: Pelas 3 coisas!
Zé: A gente acha que o rock devia ser em inglês.
Hugo: Não, não é que a gente acha isso, é que é foda fazer em português, tem que ser muito bom para ser bom, é difícil...

Viegas: Qual banda faz bem em português?
Hugo:
Prot(o).

Viegas: Só o Prot(o)?
Hugo:
Não, deixa eu ver outra banda... (pensando)

Viegas: E a Legião Urbana?
Hugo:
Não, Legião é uma bosta! Aperta o pause aí...

Viegas: Não!
Hugo (perguntando p/ o Zé):
Qual banda eu gosto em português mesmo?
Zé: Prot(o) e Ludovic. (risos).

Viegas: Expliquem o que é Ludovic...
Zé:
Ludovic é rockão meu!! (risos)

Viegas: Quem toca no Ludovic?
Hugo:
Eu, o Jair que era do Okotô, o Pepê que ninguém conhece e um outro guitarrista que eu não sei o nome porque ele nunca ensaiou comigo, só fiz um show com ele e não sei o nome dele, esqueci... (mais risos)

Viegas: Ainda na polêmica do idioma... Zé, como anda o inglês dos vocalistas tupiniquins?
Zé:
A maioria das bandas são ruins de sotaque, eu acho péssimo, mas isso é normal porque é muito difícil ter o sotaque certo para cantar...

Viegas: E quem faz bem em inglês, com um sotaque bacana, uma gramática correta?
Hugo (enfático novamente e se metendo na conversa):
Diesel.

Viegas: Só o Prot(o), só o Diesel, você é radical, hein?
Hugo:
Não, tem mais bandas...
Zé: Tem o Hateen, o Pin Ups também era bom...

Viegas: Existe um certo paradigma, apontado até mesmo por vocês, que diz respeito ao fato do Shed ter "problemas" com público. Explico: A molecada hardcore parece não entender a proposta neo-grunge do Shed, e isso meio que incomoda vocês, não é? Qual a saída: mudar a mentalidade dos guris ou tentar atingir um outro público?
Zé:
Acho que mudar a mentalidade mesmo...

Viegas: Não é a saída mais difícil?
Zé:
Só tocando e tocando e tocando pra entrar na cabeça das pessoas...
Hugo: Porque a gente não é uma banda grunge na verdade, a gente é uma banda de rock! E nem todos os moleques são preconceituosos, sempre tem uns 3 ou 4 que acabam gostando... e de 3 em 3 um dia a gente chega nos 10, 11... (risos) E como a gente toca muito com banda de hardcore, porque colocam a gente pra tocar, quem deveria conhecer nosso som acaba não conhecendo... mas foda-se também se é hardcore ou heavy, a gente quer tocar!

Viegas: Há quem diga que com o fim do Pin Ups, o Shed ficou orfão, pois o Pin Ups era tipo "padrinho" do Shed, sempre deu uma puta força pra vocês, colocando vocês pra abrir os shows deles, inclusive o do Superchunk na Broadway...
Hugo:
Quando a gente tocava com o Pin Ups era foda porque o público do Pin Ups era a galera que gostava do nosso som, ou que pelo menos poderia gostar... aí o Pin Ups acabou e nós começamos a tocar com o Crush Hi-Fi, que também acabou, aí começamos a tocar com o Echoplex que aparentemente também acabou... aí não tem mais banda pra tocar, quer dizer, tem banda pra tocar mas não como a gente, não com o mesmo som... mas tem o lado bom, pois show com banda tudo igual é uma merda, eu não aguento, principalmente se for tudo banda de hardcore.

Viegas: Vocês enfrentam um problema semelhante com o Pin Ups circa 93, na fase do "Scrabby!": eles eram pesados demais para o público guitar/indie e, em contrapartida, pop demais para a galera que ouvia música mais "pesada" (punk/hc). O Shed também vive nesse vácuo de público?
Hugo:
Nossa maior influência é punk rock, apesar do som não parecer punk, ou seja, só porque nossa influência é punk rock não quer dizer que vamos fazer um som igual punk rock... a gente faz um som nosso!

Viegas: Mas essa atitude meio passiva do público, meio fria, incomoda vocês?
Hugo:
Só em São Paulo temos esse problema, eu não sei o que acontece... quando a gente toca em outros estados junto com bandas de hardcore, muitas vezes em festivais de hardcore, o pessoal dança normal, curte o som, bate palmas (risos)... 30 ou 40 pessoas vem falar com a gente ao invés dos 3 ou 4 de São Paulo, então não sei, todas as bandas falam que estão perdendo o tesão de tocar aqui em São Paulo.

Viegas: E por falar em shows com bandas de hardcore, vocês poderiam aproveitar pra fazer um panorama geral de como transcorreu a tour com o Flatcat...
Zé:
A turnê com o Flatcat teve seus pontos bons e seus pontos péssimos... o pessoal do Flatcat é bem legal, do Reffer também, a gente se divertiu bastante na viagem, foi legal mas não tem muito o que dizer...

Viegas: E o problema com o velho TAD (ônibus da banda, de 1958!), o que rolou?
Hugo:
O busão quebrou e não tínhamos como pagar, aí o Gabriel pagou do bolso dele, depois quebrou novamente, também não tinha como pagar, aí tivemos que voltar com um busão normal, depois o Gabriel voltou pra arrumar. Aí nós tomamos um prejuízo, por isso que vai rolar um show beneficente (Nota do Editor: na verdade já rolou, foi no Hangar e tocaram, além do Shed é claro, Polara, Reffer, Fuleragem e Marshmallow Pies), espero que todo mundo compareça pra ajudar o velho TAD pois um dia você pode andar nele (risos).

Viegas: Vamos falar um pouco sobre o disco novo, "Now Available in Stereo"... O resultado foi aquilo que vocês imaginavam?
Hugo:
Não agradou porque nós não conseguimos fazer o que a gente sempre quis, até porque ainda não achamos a pessoa certa pra gravar a gente...

Viegas: Mas será que essa pessoa existe no Brasil?
Hugo:
Não.

Viegas: E o que vocês vão fazer?
Hugo:
O próximo disco a gente vai gravar fora do país.

Viegas: E o disco está vendendo legal?
Hugo:
Cara, um exemplo: na turnê com o Flatcat, enquanto as outras bandas vendiam 10 cds por show a gente vendia 1. Então na turnê inteira nós vendemos uns 10 cds, teve só um show que a gente vendeu 2 cds, na maioria a gente vendia 1 porque sempre tinha algum amigo nosso de longa data e ele comprava... hahaha... E aqui em SP a última notícia que eu tive é que tinha vendido uns 350 cds...
Zé: Mas a gente precisa tocar mais, porque só tocando é que vai vender cd, não tem jeito.

Viegas: Qual o episódio de viagem mais hilário já vivenciado pelo Shed?
Hugo:
Foi aqui em SP mesmo, a gente foi tocar com uma banda no Sub Jazz, aí o ultra-master-mega-plus batera do grupo levou a bateria dele de 7 bumbos ultra-mega-plus dourada (risos), aí o cara fez o ultra-mega-show dele com explosão e tudo, aí simplesmente no final ele retirou a bateria dele e ainda quase bateu no Gabriel...

Viegas: E vocês ainda tocaram?
Hugo: Tocamos com um tom, um surdo, uma caixa e um prato.

Viegas: E vocês já se falaram depois disso, ele pediu desculpas ou algo do gênero?
Hugo:
A gente nunca mais toca com eles enquanto ele estiver nessa banda, porque isso não é atitude digna de um cara que toca rock no Brasil, sendo que a banda dele é tão tosca e bosta quanto a nossa em termos de público, não estou falando de som é claro. Sei lá meu, o cara faz academia e tal, é descolado...

Viegas: Falem sobre o clip de "It’s Today".
Hugo:
Estava rolando a gravação de um comercial de um celular do Sul, mas aqui em SP, e estavam participando uns atores da Globo, famosos tipo ultra-mega-master-plus-hiper, tipo o batera do grupo que falamos anteriormente, e de "resvalo" eles viram a gente gravando e decidiram nos ajudar. E ficou fudido...

Viegas: E tipo caiu do céu, foi de graça mesmo?
Hugo:
É, só pagamos o material que usamos e o George que é uma lenda do videoclip...

Viegas: Vocês foram abençoados pra ter uma sorte assim?
Hugo:
Cara, a gente só entra em roubada, uma vez a gente tem que dar sorte em alguma coisa, porque a gente só se fode! Ou os caras roubam a gente no show, ou o busão quebra, a gente vai tocar e as minas não vem atrás da gente... hahahaha... É brincadeira.

Viegas: O que vocês têm escutado ultimamente?
Zé: Sense Field, a melhor banda do mundo!
Hugo: Ultimamente eu tenho escutado bastante Kiss, bastante mesmo, e agora eu voltei a ouvir bastante Hüsker Dü que eu tinha parado um pouco, Mudhoney e Fu Manchu.

Viegas: E existe algum referencial coletivo pro Shed, algo que unifique as preferências de cada um de vocês, sei lá, por exemplo o próprio Hüsker Dü?
Hugo:
Não. Seria uma banda new wave tipo Stray Cats (???). (risos)

Viegas: Pra finalizar eu queria que o Zé me respondesse uma coisa: É verdade que o Hugo é débil mental?
Zé:
É.

...

Um comentário:

  1. pô, eu li essa entrevista no Zona Punk. há séculos! muito legal, saudades do Shedão! :)

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