sábado, 3 de dezembro de 2011

CELTON - LACARMÉLIO CIDADÃO HONORÁRIO DE BELO HORIZONTE



Um dos posts que mais gerou repercussão nestes mais de três anos de ZINISMO foi o de Celton, um herói brasileiro. O post contava a história do mineiro Lacarmélio Alfêo de Araújo que no maior exemplo do-it-yourself, desenhava, publicava e vendia suas histórias em quadrinhos nas ruas de Belo Horizonte e outras cidades brasileiras.

Gostamos tanto da entrevista que também a publicamos no ZINISMO impresso, edição comemorativa de dois anos.

Eis que, há uma ou duas semanas, recebo de Lacarmélio um e-mail com o seguinte recado:

"Oi Flavio,

Espero que esteja tudo bem com você.

Ganhei o título de Cidadão Honorário de Belo Horizonte e estou escrevendo para te convidar à solenidade de entrega, que será uma festa muito legal."


Ficamos muito felizes com a justa homenagem da cidade de Belo Horizonte ao incansável herói brasileiro, lembrando que Lacarmélio utiliza como cenário das histórias de Celton justamente a sua cidade natal.

Parabéns Lacarmélio, você é um exemplo de luta, empreendedorismo e perseverança para nós, independentes.



Abaixo reproduzo a entrevista originalmente publicada em maio de 2009.

O trânsito de São Paulo já gerou oportunidade para muita gente: vendedores de amendoins, limpadores de vidro e até os famosos faquinhas. Mas, por mais incrível que pareça, ele ainda pode oferecer surpresas. Vestido em um impecável terno amarelo, com uma placa com letras garrafais, Lacarmélio Alfêo de Araújo anuncia: "Leia Celton — Estou vendendo revistas em quadrinhos que eu mesmo fiz. R$ 2,00 - 32 páginas. Neste número: O Caçador de Emprego".

O marketing funciona, uma buzina basta e Lacarmélio corre por entre os carros vendendo o gibi de seu personagem Celton.

Celton não usa capa nem cueca por cima da calça. É um herói brasileiro que vive suas aventuras nas ruas de Belo Horizonte. Dotado de uma força física acima do comum, capaz de correr mais rápido que um automóvel e até mesmo de levantá-lo (poderes que praticamente não usa porque é discreto como todo bom mineiro), aliada a fortes princípios morais e éticos, ajuda as pessoas a melhorarem suas vidas entre um conserto de moto e outro em sua oficina.

A história de Lacarmélio também tem muito de heróico e parece com a de muitos brasileiros. Nascido numa pequena cidade mineira, já foi engraxate, vendeu picolé, trabalhou como auxiliar de escritório, escriturário, desenhista de publicidade (em Belo Horizonte) e tentou a vida em Nova York cantando Beatles no metrô. Criou o personagem “Homem Felino” – identidade secreta de Celton - e a partir de 1975 fez várias viagens a editoras em São Paulo e no Rio de Janeiro para tentar vender seus projetos (uma dessas, de bicicleta a São Paulo, durou quatro dias).

Cansado de receber “nãos” resolveu apelar para o “do-it-yourself”: fez um empréstimo bancário e lançou Celton (feito em off set) por conta própria. Nas bancas foi um fracasso de venda. Passou a vender a revista pessoalmente nas ruas de Belo Horizonte e então conseguiu êxito. Já deu entrevista no Jô Soares, participou da Bienal do Livro e fez trabalhos para empresas como a Skol e Petrobrás.

Agora Celton (ou Lacarmélio) chegou a São Paulo onde pretende continuar sua grande aventura: viver de sua arte.


Confira a entrevista que Lacarmélio cedeu exclusivamente para o ZINISMO:

ZINISMO: Para você, quais são os fatores que levam Celton a fazer sucesso?
LACARMÉLIO: Difícil de responder. Só posso dizer que a minha dedicação à revista, tanto na produção (roteiro, desenhos, pesquisas, produção gráfica, etc) quanto na venda é total. Estou sempre ligado em assuntos populares, que possam atrair a atenção dos leitores. Ao ter a idéia de um roteiro, eu só parto para sua produção (ter uma idéia é muito diferente de produzir uma revista) se eu sentir que ela é simples e talvez possa agradar. Sei que não estou escrevendo para mim, mas para os leitores. Em resumo: dedicação, trabalho e um "feeling" que não sei explicar.

Você vive de seus gibis? Qual é a tiragem? E a periodicidade?
Financeiramente, sim. Tiragem inicial 10 mil exemplares. Não há periodicidade, alguns números são mais difíceis do que outros. Só quando começo a produção é que percebo o grau de dificuldade de cada um. Já houve revistas que fiz em um mês, e a mais demorada levou um ano.

E por que São Paulo? Qual tem sido a reação do público?
Estou aqui por dois motivos principais: 1) os engarrafamentos são maiores do que os de BH e 2) agora eu tenho um filho de 6 anos, não posso mais fazer revista só por idealismo (o que na verdade ainda é), mas também porque fazer revista é a minha profissão e eu tenho que cuidar da segurança do meu filho. Se você não tiver filho, não entenderá esta resposta.

Quais suas inspirações para a criação do personagem?

Os assuntos populares e o que os leitores comentam dos números já publicados.

E os leitores paulistanos, onde podem procurar Celton?
De momento, comigo nos engarrafamentos, exatamente como em Belo Horizonte. São Paulo é uma cidade ainda misteriosa para mim: excitante, convidativa ao trabalho, às oportunidades...

Imagino que já deve ter passado por poucas e boas no seu ofício de vendedor de gibis, poderia contar algumas dessas aventuras?
É difícil lembrar, assim de supetão. Mas positivamente falando, todas fazem parte da história da revista, todas enriquecedoras. Mesmo as experiências chatas contribuíram para o enriquecimento da história da revista.

Um recado para seus leitores:
Não desistam nunca. A revista Celton só vem conseguindo algum resultado significativo por causa da insistência. Eu só venho aprendendo a escrever roteiros simples que agradam aos leitores, depois de muitos anos escrevendo para o povo. Eu só consigo viver hoje financeiramente da revista porque com os anos eu aprendi a vendê-la. As dores no corpo, principalmente nas pernas, ao final de um dia no meio do trânsito, só eu que sei como são terríveis, assim como os calos nas mãos segurando por horas aquela placa. A saudade do meu filho de 6 anos lá em BH às vezes me leva à loucura. Ainda bem que a mãe dele é a melhor mãe do mundo e está segurando a onda na minha ausência, pois ela sabe o quanto é importante as vendas em São Paulo. Tudo nesta vida tem seu preço. Se você não pagar o preço da vitória, não queira esperar por ela.


Universo HQ.

Solenidade de entrega do título de Cidadão Honorário de Belo Horizonte à Lacarmélio Alfêo de Araújo.
Câmara dos Vereadores (Palácio Francisco Bicalho).
Avenida dos Andradas, 3100 — Sta. Efigênia - Belo Horizonte - Minas Gerais
Data: 09 de dezembro/2011, sexta-feira - às 18:00 horas.

2 comentários:

  1. Muito bom!! Foi ótimo a entrega de um diploma de cidadão honorário, palmas pro Lacarmélio!!
    http://celtonquadrinhos.blogspot.com

    ResponderExcluir

Andarilhos do Underground: ZINAI-VOS!!!