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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

AMOR AOS PEDAÇOS


- Lembra daquelas caixas de zines que eu disse que ia te dar? Então, preciso desocupar o espaço da casa do meu pai. Pode ser domingo? Me liga.

Essa foi a intimação final de Carlos Rodrigues Costa no meu Facebook.

Uma vez, quando visitei a sua extinta loja Sensorial Discos, ele disse que as caixas eram minhas. Enrolei por uns bons meses até receber essa última ameaça.

Tinha que pensar rápido: como explicar a chegada de três caixas de zines velhos na minha minúscula casa, numa época em que a ordem é o desapego e a desocupação de espécimes? Já sei: não explicar. Pronto.

Alguns e-mails, SMS e telefonemas depois, me vejo em um domingo, sete da manhã (pra calhar, bem no dia que começou o horário de verão, ou seja, acordei às seis!), chovendo como um tradicional janeiro paulista. Rodovia Castelo Branco, com direito a passagem ida e volta.

Em menos de uma hora lá estava eu em Itapevi ao lado das cinco caixas de fanzines. Cinco caixas??? Sim, duas a mais!

Uma olhada por cima e por dentro das caixas, já via que teria em mãos muitas coisas raras do submundo (não vou citar o quê, pra não causar furor!).

- Tem certeza mesmo que quer me dar isso? – perguntei por mais de dez vezes e obtive um “sim” em todas elas. OK, eu levo.

Voltei feliz, mesmo com a chuva castigando e deixando toda a vista esbranquiçada.

Não houve reclamações em casa. Estranho. Até hoje não reclamaram. Mais estranho.

Demorei uma semana até abrir a primeira caixa. Passei a folhear. Não, isso não ia dar certo. Não ia render nada ficar procurando datas e nome do editor. Só dá mesmo, por enquanto, pra separar por tamanho!

De repente, me dei conta de algo: diversos fanzines estavam carimbados com meu nome e endereço. Eu tinha o hábito de marcar coisas de “minha propriedade”.

Em 1994 fui com o Carlos para Mariana/MG participar de um evento de cultura alternativa organizado pelos alunos de História da Universidade Federal de Ouro Preto. Levamos na bagagem bolsas e bolsas de zines para uma exposição (nunca me esqueço a sensação de estar com bolsas pesadíssimas no metrô em horário de pico!). Na volta, com certeza, um trouxe zines do outro. E o ditado piscando em luzes de neon: “o bom filho a casa torna”. Bons meninos.

Dias depois retorno à peregrinação. E descobri que aquelas caixas me preparavam mais surpresas: edições de fanzines que tive, mas que perdi em enchentes e empréstimos que nunca mais voltaram. E lá estavam em casa os irmãos gêmeos do Papakapika, O Cabrunco, Bizarre Inc., Maria Overdrive, Escarro Napalm e até um zine que participei – e nunca havia visto – sobre a banda Soutien Xiita. Sorrisão no rosto.

Já era tarde. Ainda tinha uma caixa. Minha rinite perturbando. Olhei para a caixa. Ameacei fuçar o que tinha. Decidi que não.

Vou deixar um pouco de felicidade para outro dia. Até lá, a rinite sossegou e haverá um motivo especial para sorrir feito um menino bobo que ganhou um boneco Falcon após inúmeros pedidos pro pai.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

MEMÓRIAS DE FANZINE - AAAH - # 1 e 2

Costumo dizer que as redes sociais são como qualquer ferramenta, sua finalidade pode ser boa ou ruim, dependendo da intenção do usuário.

Estes dias me deparei no facebook com alguns textos interessantes do fanzineiro Márcio Sno. São reflexões ou memórias pessoais sobre sua experiência com os fanzines. Vale a pena a leitura, dá para sentir (ou relembrar) um pouco da época (anos 90) e também acompanhar a trajetória do zineiro, suas expectivas, desafios, resultados...

Percebi que era um documento interessante demais para ficar restrito ao facebook e cá está ele, compartilhado com os leitores do ZINISMO.

Neste primeiro capítulo, os zines AAAH # 1 e 2!

ZINISMO RECOMENDA!


Aaah!! n°1 - 1993


Lembro-me como se fosse hoje: estava eu no ônibus indo trabalhar, cochilando (estilo a MC Creide: eu cochilo, mas sempre de olho aberto!) e pensando no que fazer da minha vida. E veio uma ideia na minha cabeça que me fez abrir os olhos quando o ônibus, na 23 de Maio passava ao lado do Centro Cultural Vergueiro.
"Vou fazer um zine!" E essa ideia me perseguiu sem que eu pudesse evitar.
Na escola, à noite, passei a desenhar um rato pelado gritando. Pronto. O nome e a capa do meu primeiro fanzine estava esboçado na última página do meu caderno. Ainda tenho esse desenho original.
Essa capa, aliás, deu um trabalhão pra dar esse efeito de palha no fundo. Mas deu um certo prazer quando terminei. Mais tarde esse mesmo desenho virou estampa de uma camiseta única e exclusiva que só eu tive coragem de usar.
Nessa edição sairam bandas como Scum Noise, Intense Manner of Living, Anjo dos Becos, Ñrü, Flesh Temptation, entre outras. Claro, a maioria era releases, mas eu estava feliz em entrar com o pé direito nesse estranho e enigmático universo dos fanzines...


"Aaah!! - n° 2 - 1993"


Depois do lançamento do meu primogênito, passei a conhecer mais pessoas do meio dos zines. Muitos por carta e pouquinhos pessoalmente.
Uma vez teve uma feira de fanzines na Livraria Belas Artes, na Paulista quase esquina com a Consolação, que não pensava em acessibilidade universal, já que tinha uns degrauzões gigantes para entrar nela. Essa livraria era bastante conhecida pelos seus livros de arte e histórias em quadrinhos.

Um dos organizadores, Guto Galli, que era funcionário da livraria, me apresentou o grande ilustrador MZK (até então eu desconhecia a grandeza desse cara no meio das HQs). Conheci também, o Carneiro que na época era vocalista da badalada Mickey Junkies (que aliás saiu na primeira edição do Aaah!!). Mas a pessoa mais importante que conheci nesse dia, meio que "se ofereceu" a me conhecer, já que ele conhecia a banda que estava estampada na minha camiseta: Soutien Xiita (sim, aquela que tem o cachorro comendo um guarda - polêmica!). Hugo Leta é seu nome. Trocamos muitas ideias e fizemos juras de amor eterno. E nessa história toda, ele acabou me emprestrando alguns desenhos originais (veja só, tinha acabado de conhecer o cara e ele me emprestou todos os originais dele!). Xeroquei tudo e usei nesse zine e nos que vieram depois. Quando peguei esse que virou capa, eu já tinha certeza que o lugar dele seria ali mesmo: na frente de tudo, puxando a segunda edição do zine. Se olhar com certa atenção (na verdade, nem precisa muita!), onde está o logo do zine, eu fiz uma emenda, pois o desenho dele acabava ali mesmo.

Nessa edição saiu muuuuuuitos releases, entrevista com Penitence, Carnal Desire (numa das minhas idas ao Der Temple para um show com o Anarchy Solid Sound e Soutien Xiita, conheci o fantástico Tarso Carnal), Death Hate, a clássica Dezakato, Hirkania, A minha primeira grande entrevista com Ñrü, com o fanzineiro Danúbio Aguiar (nesse caso, ele havia respondido impresso em uma impressora matricial, e como eu só usava máquina de escrever, aproveitei a impressão, mesmo saindo quase transparente).

Tinha também entrevistas com o Flesh Temptation, uma banda death de Brasília, que era uma das únicas que tinha disco de vinil lançado, com o recém formado White Frogs, vejam vocês!

Ah, nessa edição, também contei com a colaboração de textos do grande amigo Alcir, que na época tocava na banda grind Hinfamy.

Sei lá. Só sei que depois desse zine meu círculo de amizades passou a aumentar a cada dia...