segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

NUMA SEGUNDA FEIRA QUALQUER...

por Edu Zambetti

Gostaria muito de saber o por quê das segundas-feiras serem o marco do meu quase drama contra um insistente estado de amortecimento permanente.
Parece que as pilhas acabam, como se eu fosse um robô ou um andróide qualquer e estivesse sujeito a uma recarga rara de energia numa época em que o fim do mundo estivesse quase concluído. Neste caso, o projeto da minha carcaça e de minha máquina já estaria desbotado em um papel A2 cheio de pontos de bolor...
O primeiro protótipo (que não sou eu) seria uma forma metálica e fria, algo muito próximo do produto final, mas sem as cores, ajustes e outros pequenos detalhes que me fariam parecer real. Talvez fosse uma segunda feira triste lá pelos anos 2045 ou depois, um dia comum e lento onde qualquer um estaria se locomovendo com extrema dificuldade, pés, patas ou rodas estariam praticamente emperradas e eu, pobre criatura, ainda estaria me perguntando sobre a origem do gênio, cientista, engenheiro ou designer que haveria me imaginado, elaborado, criado e, como se não bastasse esta pergunta sem resposta, queria saber sobre quais os pensamentos e sensações dominavam o artista, mecânico ou técnico no momento em que minhas peças eram encaixadas, soldadas e parafusadas conforme aquele velho projeto.
Em meio a tantas perguntas, surgiriam as piores delas:


-Será que, antes de ficar pensando sobre quem seria o criador do criador de mim mesmo, não seria melhor questionar sobre a origem da minha capacidade de elaborar tamanhas perguntas?
-Não seria melhor que minha mente se ocupasse em saber o motivo de todas estas questões?
–Realmente não sei quem ou o que me tornou um ser, mas sei que luto cada dia para permanecer sendo, e isto é realmente importante.

O céu estaria escuro, chuva fina, guarda chuvas cinzas e coloridos funcionando perfeitamente ou precariamente, cada hora pareceria o segundo perdido da eternidade, o sentido das coisas não seria mais nítido do que as minhas questões, e uma visão coletiva e míope tornaria a razão uma dimensão inabitada. Mas o que estaria fazendo um robô como eu, na captura de pilhas novas, portando um guarda chuva quebrado nas mãos e lançando perguntas num momento próximo ao final dos tempos? Ora...Ora...Como já disse:

Estaria tentando saber o motivo que me leva a permanecer amortecido numa segunda-feira como essa...

(texto e ilustração publicado no blog “Anotações da Caixa Craniana” em 2004)

4 comentários:

  1. Imagino um visual meio Blade Runner pra essa história, e trilha sonora com Fântomas!

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  2. Já eu imagino o visual meio Futurama, e trilha sonora com DEVO fora de rotação, meio walkman acabando a pilha.

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  3. Eu imaginei um robo do Garfield, criado por alguem Gepeto do mal...

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  4. Nossa...Eu imaginei aquele BAMBO ROBÔ DA ESTRELA, aquele que virava cambalhotas...O restante veio da paisagem que via pela janela no dia.

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