Por Marcelo Viegas
No ano passado, comprei finalmente o “Sketches for My Sweetheart The Drunk”, o disco inacabado de Jeff Buckley. “Finalmente” porque o álbum duplo foi lançado em 1998, um ano após a morte do músico. Com o CD e a arte na mão, vem aquela parte deliciosa da experiência musical (e que representa, ao mesmo tempo, o limite do mp3), de colocar o disco pra tocar, deitar no sofá e degustar o encarte, com todos seus detalhes e revelações.
O encarte do “Sketches...”, além dos detalhes e revelações, traz também muita emoção, seja no excelente texto de Bill Flanagan, na tocante carta da mãe de Jeff Buckley, nas anotações do próprio Jeff ou através das suas letras. Para os fãs, é sem dúvida uma experiência que mistura alegria e tristeza. E, até por isso mesmo, indispensável.
Como já disse, trata-se de um álbum inacabado. Jeff estava trabalhando nele quando morreu. Já haviam se passado mais de quatro anos desde “Grace”, seu aclamado debut, e o mundo aguardava ansioso pelo novo material. Mas, a tragédia impediu que fôssemos agraciados com o verdadeiro “My Sweetheart The Drunk”. Temos os “sketches”, principalmente o disco 1, que traz as músicas mais próximas do que deveriam ser.
Sem overdubbing. Essa foi a regra definida. Com produção de Tom Verlaine (Television), o álbum não traz nenhum lado B de “Grace” ou material ao vivo. Apenas as canções que deveriam ser gravadas por Jeff e banda em junho de 97 (ele morreu em 29 de maio). Um detalhe da tragédia, que só conheci através do texto de Bill Flanagan, é que a banda iria se encontrar com Jeff justamente no dia 29 de maio. O avião que levava a banda de New York para o Tennessee estava na metade do trajeto quando Jeff entrou no rio. Quando aterrissaram, as equipes de busca já estavam trabalhando.
A mãe de Jeff tomou a decisão: nenhum material seria lançado de imediato. Ela queria um trabalho cuidadoso e bem feito, e foi isso que aconteceu. Além das sessões principais, com a banda, havia muito material bruto, gravado de modo caseiro, apenas por Jeff. Se comparado com as demos principais (do disco 1), é de fato um material bem rudimentar, mas que, todavia, representa o embrião de algumas canções que poderiam ser incluídas no álbum. Para o trabalho de ouvir e selecionar quais faixas entrariam no “Sketches...” foi convocado Chris Cornell (Soundgarden).
O disco 1 foi mixado por Andy Wallace (o mesmo de “Grace”), com exceção da faixa “You and I”, que ele achou melhor deixar como Jeff e Tom haviam mixado. Há músicas maravilhosas, como “The Sky is a Landfill”, “Everybody Here Wants You”, “Nightmares by the Sea”, “Witche´s Rave” (com sua guitarrinha à la Smiths, que Jeff adorava), “Morning Theft”, “Vancouver”… Se elas já são maravilhosas assim, com a alcunha de rascunhos, fico imaginando o que seria a gravação definitiva desse material.
O disco 2, como já foi dito, traz algumas mixagens originais (Jeff e Tom), esboços gravados em 4-tracks por Jeff, e o ponto alto é a versão para “Satisfied Mind”, música que encerrou o funeral de Jeff Buckley, e que também encerra “Sketches...”, à pedido da sua mãe. Segue um trecho da letra: “When my life is over and my time has run out / my friend and my love ones, i´ll leave them no doubt / but, one thing´s for certain, when it comes my time / i´ll leave this old world with a satisfied mind”. Pesado, não?
A MENSAGEM DE MARY
O encarte traz um texto escrito pela mãe do músico, que arrepia até o mais insensível dos mortais. Tomo a liberdade de transcrever um trecho, que sempre me emociona, e escrevo isso com os olhos marejados:
“Eu daria tudo para tê-lo aqui comigo... para ajudá-lo a celebrar o lançamento do VERDADEIRO My Sweetheart The Drunk, o álbum que só ele poderia fazer. Se Jeff estivesse vivo e decidisse apagar esses Sketches, essa seria uma perda relativamente menor. Ele poderia ter escrito centenas de músicas e feito uma dúzia de álbuns no lugar desse. Infelizmente, Deus tinha outra coisa em mente para o meu filho, e para mim”.
Para os fãs, recomendo: vale muito a pena ler esse texto na íntegra.
O encarte traz um texto escrito pela mãe do músico, que arrepia até o mais insensível dos mortais. Tomo a liberdade de transcrever um trecho, que sempre me emociona, e escrevo isso com os olhos marejados:
“Eu daria tudo para tê-lo aqui comigo... para ajudá-lo a celebrar o lançamento do VERDADEIRO My Sweetheart The Drunk, o álbum que só ele poderia fazer. Se Jeff estivesse vivo e decidisse apagar esses Sketches, essa seria uma perda relativamente menor. Ele poderia ter escrito centenas de músicas e feito uma dúzia de álbuns no lugar desse. Infelizmente, Deus tinha outra coisa em mente para o meu filho, e para mim”.
Para os fãs, recomendo: vale muito a pena ler esse texto na íntegra.
O BILHETE DE JEFF
Uma das coisas que a sua mãe afirma no texto, é que Jeff nunca foi um “elitista”, do tipo que gosta de compartilhar sua música com poucos. Segundo ela, Jeff tinha um imenso prazer em tocar e mostrar sua música para seus fãs (“essas pessoas que agora estão escutando “Grace” sem parar, porque é tudo que eles têm dele para ouvir”, escreve Mary). Um dos bilhetes escritos à mão pelo músico, e que constam no encarte, traz uma anotação que vai de encontro à afirmação de sua mãe.
Aqui está:
PRA TERMINAR
Por último, quero dizer que isso não é uma resenha. São apenas coisas que me agradam/emocionam nesse disco, e que quis dividir com vocês. Tomem como anotações de um fã. Um desses inúmeros fãs que colocam as músicas de Jeff Buckley para tocar no carro, com o volume no talo, e que se emociona toda vez que faz isso. Um desses inúmeros fãs que têm plena certeza que, caso estivesse vivo, J. Buckley seria o grande nome do rock mundial. Um gênio, que não teve tempo de disseminar sua genialidade.
...
Cara, resenhas são frias e nem sempre convencem alguém a ouvir, ou ler algo...
ResponderExcluirJá seu texto me fez ter vontade de ouvir Jeff Buckley novamente.
Lembrou-me das vezes que você mostrou-me cds e me "obrigou" a ler a letra das músicas e depois acabei me tornando fã das bandas também...
Obrigado pela generosidade cara!
O que é bom deve ser compartilhado com os amigos (primeiro) e com o mundo também.
ResponderExcluirTamo junto, Grão!
nunca deixei de ouvir desde o dia em que conheci..
ResponderExcluirmto bom o texto!