Fuçando nos arquivos, encontrei essa entrevista com o Nekro (Boom Boom Kid), publicada na extinta Revista da MTV, no distante ano de 2006.
Recordar é viver.
Boa leitura.
Boom Boom Kid
Histórias de um cantor latino-americano
Texto e Entrevista por Marcelo Viegas
Colaborou na tradução: Patrícia Larsen
Ele atende pelo pseudônimo de Boom Boom Kid, mas você também pode chamá-lo de Nekro, de Miss Muerte ou ainda Il Carlo. Pouco importa o nome, o que vocês precisam saber é que BBKid é um dos artistas mais ativos do circuito underground latino-americano, e quiçá mundial! Fundou o Fun People, e conseguiu transformá-lo em uma referência para o hardcore feito na América do Sul. Sim, Buenos Aires é muito pequena para ele. Lá ele é cultuado, mas não é diferente no resto do planeta. Carismático e talentoso, fez com que o final das atividades do Fun People não fosse assim tão traumático, e ainda carregou uma porção de fãs quando mudou de nome e de banda. Ele propagou: “Nekro esta muerto! Viva Boom Boom Kid!!” – e ninguém questionou... E seguiu sua trilha skate new wave punk + doces melodias com os dois álbuns oficiais, além do recém-lançado The Many... Many Moods of... Boom Boom Kid!, uma mistura de b-sides, temas inéditos, versões acústicas e algumas faixas ao vivo.
Seja com o Fun People, seja como BBKid, o fato é que ele rodou o mundo: Ásia, Europa, América do Norte e Latina, sempre no esquema do it yourself e sempre deixando boas impressões (e vibrações) por onde passa. Um pouco dessas experiências ele relata no seu livro Ocurrencias de um cantor em desarrollo, inclusive com menções as suas muitas passagens pelo Brasil. Conheça nessa entrevista um pouco mais sobre os muitos, muitos humores de Boom Boom Kid.
Viegas: Você pode começar falando um pouco sobre suas origens, sua formação educacional e religiosa, infância, família...
BBKID: Meu pai escutava rock & roll e assistia filmes de terror em preto e branco. Eu adorava ver Bela Lugosi e odiava ver as cruzes. Estudava em escola católica, mas também odiava! Minha mãe queria me transformar em um católico. Ela tentou e tentou, mas desistiu quando tentei colocar fogo na igreja do meu pequeno povoado. O fogo pegou, mas sem muitos estragos. Então íamos cagar na porta da igreja no sábado de madrugada e as pessoas mandavam a polícia atrás da gente. Era engraçado.
Durante a semana andava muito de skate e foi por meio dele que fiz grandes amigos: os Big Boys. Nós escutávamos muito metal, Suicidal Tendencies, Dio, Black Sabbath...
Quando minha avó morreu mudamos de cidade e andei de um lado pelo outro pelas ruas e squats. Até que montei uma banda chamada Fun People, gravei discos, viajei pelo Brasil, provei o guaraná e nada mais foi igual.
Viegas: E de que forma esse background influenciou na sua formação de caráter, naquilo que você é hoje?
BBKID: Viver em um lugar cheio de seres malditos me fez perceber que não queria crescer e viver como eles, queria tentar fazer algo diferente desse meu pequeno mundo...
Viegas: Tanto com o Fun People, quanto agora como BBKid, você rodou diversas vezes a América Latina. Como você enxerga o Brasil quando o assunto em questão é a chamada “identidade latino-americana”, afinal é um país de dimensão continental e que não fala a língua oficial (espanhol) da América do Sul...
BBKID: Olha, esse assunto é muito extenso... Imagine se todos nós falássemos a mesma língua? Seria fantástico! E não só na América do Sul, mas sim no mundo todo! Mesmo sabendo que isso é triste, eu tenho que admitir que o inglês cumpre um pouco esse papel. O Esperanto tentou, mas não conseguiu... Tanto o português quanto o espanhol são línguas cheias de sangue! Bom, mas mesmo assim eu ainda prefiro o português ao espanhol.
Viegas: De onde surgiu a idéia do nome Boom Boom Kid?
BBKID: Eu gosto muito de mudar de nome: Miss Muerte, Nekro, Il Carlo... E Boom Boom Kid é uma mescla de Boom Boom Mancini (boxeador) com o meu guitarrista predileto Kid Congo Powers, do Gun Club, Cramps, etc...
Na verdade é minha eterna competição com Lee ‘Scratch’ Perry: quando chegar na idade dele eu espero ter ainda mais apelidos que ele... (risos)
Viegas: E o que muda de fato da fase Fun People para a fase BBKid? Ou é simplesmente um novo desafio?
BBKID: Eu continuo o mesmo, mas com outro nome. E isso é um desafio porque o mundo underground é um mundo de bandas, feito para bandas, e sair como solista para alguns é um problema. Muitas pessoas estão cheias de preconceitos. Mas o rock and roll está aí para romper com toda essa merda! E o BBKid está aqui para tirar toda a porcaria dos seus corações!!
Viegas: Voltando um pouco no tempo: Reza a lenda que o nome Fun People nasceu aqui no Brasil, quando vocês estavam de férias em Ubatuba... É verdade ou boato?
BBKID: Essa lenda é verdade. Eu tocava no Anesthesia, mas estava desiludido. Quando estava no Guarujá, Chuli (baixista do Fun People) conheceu o Gato (baterista do Fun People) e fomos para Ubatuba. Voltamos para a Argentina e começamos a tocar, e nós não tínhamos nem guitarra (como sempre). Aí apareceu um convite para gravar um LP. O Lucas entrou na banda e em três meses nosso primeiro álbum estava pronto.
Viegas: Você tem outro projeto também, chamado Il Carlo. Como as pessoas tem encarado um punk rocker interpretando temas de Phil Spector ou Henri Mancini? Você parece bem à vontade nesse território... Alcançou um novo público ou apenas fãs mais cabeça aberta de Fun People e BBKid?
BBKID: O bom de fazer as coisas sozinho e ter o seu próprio selo é que você tem liberdade para fazer muitas coisas. Não penso se as pessoas gostam ou não, senão estaria morto. Podem chamar meu som de Punk, Skate, Hardcore, Rockabilly, Metal, Pop, Ska, mas isso tudo é apenas um tipo de etiqueta para rotular o rock. Eu gosto da música porque ela é um remédio para a alma e me divirto em tocá-la e gravá-la. Sempre toco com a mesma intensidade e paixão.
Viegas: No primeiro disco do BBKid (Okey Dokey) você se refere a um dialeto, chamado Tum Tum Lunfardo. O que diabos é isso?
BBKID: (risos) Na realidade este é um idioma que eu uso para cantar, porque ninguém no mundo me entende, nem os que falam espanhol, nem os gringos... Então que tal misturar uruguaio, francês? Saiu o Tum Tum Lunfardo! Isso é verdade e não estou louco!
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sexta-feira, 6 de maio de 2011
REVIRANDO O ARQUIVO: BOOM BOOM KID
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