Texto originalmente publicado no meu bobolog, em março de 2005. Segue - sem alterações, emendas ou atualizações - tal qual foi postado na época.
Recuerdos
Ontem fui dormir pensando em dois defuntos: José Chasin e Paulo Freire, e não necessariamente nessa ordem. Muito mais do que dois defuntos, são dois gigantes do pensamento e dois brasileiros ilustres, que servem de exemplo e estímulo ao mesmo tempo: exemplo de vida dedicada a causa revolucionária (Freire mais no campo da pedagogia e Chasin mais no campo da filosofia), e estímulo para as futuras gerações, na medida em que sempre mantiveram o nível alto de combatividade mesmo diante das piores adversidades.
Com Chasin minha relação foi muito mais próxima e efetiva, afinal militávamos no mesmo movimento (Ensaio) e tive o privilégio, portanto, de conhecê-lo pessoalmente. Foram poucos os encontros, mas foram marcantes. Afinal, eu considerava Chasin tão importante quanto Mészáros, Lukács ou Lênin para a continuidade do projeto teórico marxista. Ainda o considero, afinal sua obra permanece viva e atual. Então, eis o ponto, estar frente a frente com Chasin, era o mesmo que estar frente a frente com Lukács, por exemplo. Infelizmente conheci José Chasin nos seus últimos anos de vida, mesmo assim guardo com orgulho a lembrança das conversas que tivemos, dos conselhos que recebi, das piadas, do bom humor, da ironia, dos incalculáveis maços de cigarro que ele fumava durante as palestras e, sobretudo, da influência positiva e definitiva na maneira como escrevo, na maneira como penso e na maneira como encaro o mundo.
Chasin morreu em 31 de dezembro de 1998. Eu estava na praia e recebi a notícia por telefone. Foi o pior ano novo de minha vida.
Com Freire minha relação se deu com certo distanciamento, o que não significa ausência de respeito. Sabe a admiração que você tem pelo bisavô que não chegou a conhecer? Então, mais ou menos por aí. Até porque a própria figura humana de Paulo Freire evoca esse tipo de sentimento, uma coisa mais fraterna, mais familiar, mais nordestina. Paulo Freire é a síntese do Nordeste pra mim (junto com Jorge Amado, é claro): inteligente e acessível, um verdadeiro intelectual da classe trabalhadora. Dedicou sua vida a questão da alfabetização, e não mediu esforços na defesa da importância do ato de ler e escrever. Seria leviano da minha parte ocultar que – de fato – existem certos pontos onde eu me distancio de Paulo Freire, na medida em que me aproximo mais e mais do Marx como ele realmente é, na sua raiz, por mais radical que seja. Mas eu já havia dito que Freire é quase um bisavô, portanto as diferenças são naturais, e o respeito permanece o mesmo: grande e intocável.
Freire morreu em 2 de maio de 1997. Eu estava na praia e recebi a notícia através da Folha de SP. Foi o pior feriado de dia do trabalho da minha vida.
“...a pretensa esquerda de hoje vive no universo evanescente do simulacro. É autista como agente político, mas não perde de vista a satisfação pessoal: trata antes de tudo de viver, só depois de revolucionar, o mal é que quer viver às custas da revolução. É do que consiste sua dedicação e sacrifício.” (José Chasin)
“Para mim a virtude da tolerância é uma coisa difícil de ser apreendida e não é só teologal, e eu nem sei se posso dizer assim, mas ela é revolucionária! Ela nada mais é que conviver com o diferente para brigar com o antagônico. Mas aqui, no Brasil, a gente se acaba entre os diferentes e deixa o antagônico em paz!” (Paulo Freire)
Sobre Chasin.
Sobre Freire.
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terça-feira, 17 de maio de 2011
REVIRANDO O ARQUIVO: RECUERDOS
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Só os mestres!
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