sábado, 24 de janeiro de 2009

NUMEROLOGIA


Resgatando a Semana Temática “Coincidência... ou Não?”, fiz uma descoberta no mínimo curiosa esses dias. O famigerado ECAD possui unidades espalhadas pelo país. Em São Paulo, fica na Avenida Paulista. Alguém arrisca o número? 171, meus amigos.

Pra bom entendedor...
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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

ENTREVISTA DANIELONE



É impossível falar da produção gráfica de Daniel Cacciatore sem que a conversa desemboque no universo musical.

Formado em desenho industrial pela FAAP, é envolvido com graffiti e tatuagem desde 1995. Conhecido como Danielone, desenha desde criança influenciado por filmes de gangues, fliperamas e capas de disco de punk, hardcore e heavy metal (mistura conhecida como crossover).

Faz estampas para marcas de surf e skate e algumas de suas telas podem ser vistas na galeria Choque Cultural. É também vocalista das bandas Presto? e R.H.D.

ZINISMO: É difícil falar de seu trabalho e separar a música da arte, como você começou em cada uma dessas atividades e como essas atividades convivem entre si?
DANIELONE: Pra mim a música é um meio de informação muito forte. Quando eu era moleque eu devorava os LP´s, pirava nas artes, lia as letras e traduzia quando era em inglês. Além disso, olhava nas listas de agradecimento pra conhecer outras bandas, o que antes da internet era o melhor meio de conhecer bandas hahaha. E eu sempre fiz artes pras bandas, logos, capas, cartazes etc... Foi uma puta escola pra mim.



ZINISMO: Em seu trabalho percebo uma influência (do artista americano) Pushead. Você citaria a influência de quais artistas além desse?

DANIELONE: Sem dúvida quando eu vi as artes do Pushead aquilo mudou a minha vida hahaha. Aliás, eu tenho uma foto de 93 que tá eu e meu irmão com camisa do Metallica do Pushead. Todo mundo que cresceu na década de 80 e começo dos 90 sabe que na época quanto mais agressivo, mais nojento, melhor! No shape, na camisa, na jaqueta e nos quadrinhos. A mulecada queria “cavera” vomitando, aranhas, teia, explosão, essas coisas caóticas, hahaha. Eu sempre pirei nas artes do Jim Philips, nos quadrinhos de terror, nas paradas do Marcatti, na revista Animal, Thrasher, nos shapes do Billy Argel... É uma pena que a maioria da mulecada hoje em dia nem sabe o que é isso.




ZINISMO: Quais técnicas você prefere? Muro, tela, papel ou shape?

DANIELONE: Eu gosto de todas, mas no papel pra mim é onde dá pra fazer as paradas mais detalhadas, com mais calma. Eu costumo dizer que um papel canson e uma caneta nanquim já me deixam feliz.



ZINISMO: Como você visualiza a cena da música e das artes independentes no Brasil e São Paulo?
DANIELONE: Comparada com Estados Unidos e Europa tá engatinhando ainda, mais não dá nem pra comparar porque os caras tem muito mais bala. Mas tá crescendo bastante, tem cada vez mais galerias, mais picos de show, mais canais de comunicação etc... Mas eu acho que tem pouco colecionador de arte no Brasil e a maioria dos artistas é duro e não tem dinheiro pra comprar as artes dos “broders”, nos gringo eu tenho a impressão que é meio que auto suficiente, os artistas compram as obras dos outros artistas. No Brasil, acho que por ser um país em que praticamente não tem classe média, é tudo 8 ou 80. Ou você faz uma parada popular que se encaixa no mercado e ganha uma puta grana ou você faz uma parada underground, fora do padrão e ganha merreca ou porra nenhuma.




ZINISMO:Fale dos trabalhos e eventos que participou e que lhe renderam mais satisfação:

DANIELONE: O final do ano de 2008 foi bem legal pra mim, rolo a exposição bits na Coletivo galeria que foi muito loca porque rolou vários shows e workshops. A expo bumbarte também onde eu e uma galera pintamos peles de bateria e a expo ilustradores na choque cultural.



ZINISMO: Fale o pouco sobre sua banda, e afinal: O que significa Presto?
DANIELONE: O Presto? começou em agosto de 99 e foi a banda que a gente fez depois que nossas bandas antigas acabaram e a gente queria continuar tocando. Apesar dos pesares tamo aê tocando até hoje. Presto? vem de prestar, é uma pergunta, eu presto?... Acho que não, hahaha.

ZINISMO: Percebo que o skate está presente tantos nos motivos de suas ilustrações como no suporte (pintura sobre shapes). Fale um pouco sobre essa influência e sobre a arte que envolve essa cultura.
DANIELONE: O skate é um esporte que envolve várias culturas, desde o skate punk ao rap, graffiti, arte, sempre andaram lado a lado. Acho que quase todo mundo que é envolvido nessas paradas começou com skate. As primeiras paradas de graffiti e arte que eu vi e li eram em revistas de skate, antes de existirem revistas de graffiti e arte underground. E fora que as pistas de skate eram sempre forradas de graffti. Acho que os primeiros graffitis bem feitos em termos de letras e personagens foi na finada pista Prestige na Lapa.




ZINISMO: Recentemente você participou da exposição Ilustradores na galeria Choque Cultural e seus trabalhos formaram um dueto com o ET (também músico e desenhista). Fale sobre esse Crossover:

DANIELONE: Pô foi muito foda!!! Porque eu e o Etê temos a mesma pegada de desenho e fomos influenciados pelas mesmas coisas. Foi loco porque agente ficou um dia inteiro pintando uma sala lá da choque só trocando idéia das bandas, dos shows... Levamos vários cartazes antigos pra colar na parede, eu fazia umas paradas na parede dele e ele fazia umas paradas na minha, até pintamos um quadro meio a meio, “mezzo alicce mezzo muzzarella”, hahaha... E engraçado que nós dois chamamos Daniel e somos descendentes de italianos, eu sou Cacciatore Angelucci e ele é Pacetta Giometti: Pura máfia...hahaha.



ZINISMO: Para finalizar fale sobre seus projetos musicais e artísticos para 2009:
DANIELONE: Ah num tem muito projeto não, o que aparecer nois tá fazendo.Tamo ai remando contra a maré sem deitar o cabelo, hahaha . Valeu Grão pelo espaço, qualquer coisa liga nóis.

Para conhecer mais do trabalho gráfico ou musical de Danielone, confira os links:

Artes gráficas:
http://www.flickr.com/danielone
http://www.myspace.com/brutalmundocao

Música:
http://www.youtube.com/user/rhdcrossover
http://www.myspace.com/paunasualontra

Videos de Danielone:





Presto:


RHD Crossover:


sábado, 17 de janeiro de 2009

RESOLUÇÕES

Marco Butcher, Lu Riot e Marcelo Fusco. Nomes conhecidos para aqueles que convivem com a cena alternativa brasileira. Conversamos com os três, para saber quais suas resoluções para 2009. Confira!

MARCO BUTCHER


Bom, parar de fumar está definitivamente no meu top. Cigarros, é claro (risos). Além disso, quero trabalhar o máximo possível com minha música e montar um estúdio em casa. Ah sim, gastar menos grana com sapatos, tocar em Moscou ou, sei lá, ir ao Japão. Adoraria fazer isso esse ano.

Marco Butcher, 40 anos, é músico. Tocou em bandas fundamentais do rock brazuca, como Pin Ups, Garage Fuzz e Thee Butchers´ Orchestra. Hoje mora em Floripa e segue tocando sem parar, seja ao lado de Rob K (Jam Messengers), no novo projeto The Solid Soul Disciples ou ainda como Uncle Butcher, sua one-man-band.


DJ LU RIOT


Promessas de ano novo? O de sempre... Quem sabe fazer academia, pois a idade tá chegando e a gravidade também (risos). Quem sabe ter um filho, tentar sair da noite... Tentar... E aproveitar cada minuto sem ficar viajando no futuro ou remoendo o passado, pois isso faz com que se viva menos. Essas coisas...

Lu Riot, 34 anos, é arquiteta e DJ. Durante o dia trabalha na Intarco - Arquitetura e Engenharia, e a noite assume mais uma penca de atividades no CB Bar, em São Paulo, onde é DJ, promoter, gerente e assessora de imprensa. Tá bom ou quer mais?


MARCELO FUSCO



Olha, sinceramente, a única coisa que encarei como promessa de verdade é fazer todo o possível para sair de São Paulo. Esta merda já deu! Estou atrás de um espaço com qualidade de vida e menos filhos da puta por metro quadrado!

Marcelo Fusco, 38 anos, é arquiteto e baterista. Comandou as baquetas do Tube Screamers, Againe, Auto e Objeto Amarelo. Hoje é proprietário da loja de discos Trezeta (ocupação de paixão) e faz montagens e produção em artes plásticas (ocupação que paga as contas).


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

“BEM, VOCÊ SE LEVANTA A CADA MANHÃ...”





“Bem, você se levanta a cada manhã
E você vê, tudo permanece igual.
Todos os pisos e todos os muros
E todo o resto permanece
E nada muda rápido o suficiente
Para apressar, dias preocupantes
Isso faz com que você sinta vontade de desistir
E derrapar em uma névoa...

Expectativas apenas significam que você pensa que você sabe
O que virá, e você não sabe...”

Em 1987 o Hüsker Dü lançou “Warehouse: Songs and Stories” pela Warner Bros Records. Mesmo ano que tocaram no Pink Pop Festival. Na minha opinião tudo que surgiu naquela época dentro do hardcore/punk irá soar por muito tempo nos tímpanos de amantes dessa sonoridade. Hoje é algum dia na teia de dias que arquitetam esse ano de 2009. E o que será que está acontecendo no mesmo nível? Será que existe alguma espécie de Hüsker Dü confinado entre 4 paredes? Ou mesmo gravando algum discasso que daqui uns 22 anos alguém ouvirá e escreverá algo sobre, apresentando um sorriso do tamanho da crise ecônomica americana no semblante, huh?

Gostaria muito de acreditar nessa possibilidade! Não pelo bem geral da nação, mas pelo bem geral da unção. Todavia a história jamais vai parir um outro Hüsker Dü. Contudo, nesse disco há uma música de nome: “ These Important Years”. Qual inicia o meu primeiro post no Zinismo em 2009 emergindo na sensação corriqueira de todo mês de janeiro: reflexões disléxicas sobre os anos e sobre quem estamos nos tornando.

No entanto, eis que a lucidez democrática desse corpo de zínicos decidiu que o tema dessa semana seria relacionado à promessas de ano novo. Eu fiz algumas promessas e ao menos uma já estou cumprindo.

Não me doar tanto ao trabalho: Tive o ano mais workaholic da minha vida em 2008 e não quero repetir o feito nesse ano. Não da mesma forma. Se for para trabalhar duro, será por algum foco a curto prazo. Organização e planejamento nunca fizeram mal a ninguém. Tendo em vista que não somos como uma geladeira nova que com o tempo chega num completo estado de desuso, somos uma versão melhorada do que o “ontem” ofereceu. E o processo de upgrade de cada um de nós soa constante desde que nós tenhamos ciência. E quando você trabalha demais, você assume responsabilidades demais e caso não esteja preparado para passar pelo processo que o mercado rege, então não faça parte do grande e tenebroso sistema. Busque apenas a evolução espiritual. E abrace se quiser o sarcasmo de Tom Jobim ao afirmar: “ O dinheiro não é tudo. Não se esqueça também do ouro, os diamantes, da platina e das propriedades." Estou de férias e pretendo começar especialização em linguagem quanto antes.

Aprender a língua das garças: Quem aqui conhece o antigo Duque, atual Parque Prefeito Celso Daniel? Fica em Santo André. Excelente parque para práticas esportivas e - poderia dizer – um antro onde casais apaixonados marcam presença ao usufruir da arte do romance a céu aberto. Infelizmente não tem uma área pra skate por lá. Não encontrei uma explicação para isso ainda. Todavia, eu costumo ir lá para ver patos, peixes muito doidos que gostaria de saber o nome de cada um e garças. E tem uma garça lá, na verdade, eu nem sei se é uma garça ou um pterodátilo! É um troço branco muito doido, de asas e bico... Fica numa perna só as vezes, toda maluca aquela ave. Fico conversando com ela, mas pelo que notei até hoje parece que ela não entende o que eu digo. E o pior de tudo é que não faço ideia de como fazê-la compreender-me. Depois dou uma “googleada” nesse lance.

Não comprar tanto Diário Lance: Não tá com nada ficar comprando jornal de esportes todos os dias. Eu sei que é muito mais importante ler sei lá a revista capricho ou a “VEJA” que mostra realmente uma visão muito coerente da sociedade que vivemos (hmmm... okay!)... Para bom entendedor!

Beber menos, fumar de vez em quando e pirar moderadamente: Eis a grande missão. Não há uma explicação muito boa pra isso, mas de certo modo chegou um momento em 2008 que pensei que estava indo dessa pra uma melhor por causa da tríade fazendo ciranda que se encontra acima. Bebida, fumo e piração. Acordar em lugares que você não sabe o nome e em algumas situações alucinantes não poderá ser a pedida acompanhada de “ mais uma aí, China!” para este ano. Já tenho histórias demais dessa no estoque por umas três encarnações.

Voltar a 99: Não estou querendo ser nostálgico e nem poderia, mas dá uma saudade do final dos nineties. Não me lembro última vez que pisei num skate, e nem um skate deve lembrar dos meus pés. Todavia, é um desafio legal tentar buscar um tempo pra aprender tudo denovo sob o carrinho. Passando numa loja de skate na galeria, fui pesquisando uns shapes, trucks, rodinhas, etc. Até o final do ano quem sabe?

Voltar a viajar: Não há melhor sensação do que olhar pela janela e ver a geografia sendo construída e destruída pelos kilômetros afora. O plano é auspicioso. Terminando especialização posso trabalhar com uma mochila nas costas, deslocando-me para onde o nariz apontar.

Racionar melhor meu tempo livre: Além de escrever aqui quando sobra um tempo, acompanhar meus amigos atuando aqui e em outros lances. Comecei a pintar quadros, fazer histórias em quadrinhos, fazer arte de merch para bandas de thrashcore e jogar futebol. Ainda tem mais algumas coisas que a fumaça do último haxixe não me permite relembrar, mas algumas atividades consomem meu tempo num piscar de olhos. E nada como organização para que nuvenzinhas negras afastem-se do céu dos meus dias. Meu tempo será uma tangerina em 2009.

Terminar esse texto: Isso é fácil. Que 2009 não seja apenas feliz, mas seja prolífero, harmonioso e evolutivo. Luz fluorescente!!! E força, Eterno. Melhoras!!!!


PS: Felipe Eterno estava observando cometas, depois de ter lido “ O pequenino principito” e um cometa acertou seu olho em cheio. Em virtude disso não tivemos seu post nessa semana. :/

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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A ÚLTIMA PROMESSA


(por Edu Zambetti)

Não era viciado em jogo, mas Epaminondas Duran nutria grande admiração pela iconografia das cartas e pela surreal lógica típica das mesas de jogatina. Na verdade era admirador também de desafios absurdos, apostas sem fundamento e fezinhas no jogo do bicho.
Pensando melhor, Epaminondas era sim, um viciado em jogo. Mas disfarçava bem, pelo menos tentava. Dizia ele: Há coisas em nós que são mais fortes do que nós mesmos.

Fazia alguns meses, precisamente um ano, havia perdido para o velho Diego Figura ( Dom Figura ou Figurão como também era conhecido) toda a grana que ganhara como músico nos anos setenta e quase tudo o que herdara de seu pai, com exceção de um surrado, porém excelente violão, e da quase misteriosa mala de partituras raras. Foi deprimente, mas isto feriu mais seu íntimo do que o seu bolso, afinal, nunca teve uma vida cheia de ostentações materiais.

Dizem que até hoje ele é dono de um grande carisma, de um bom humor inabalável e da rara fobia que consiste em nunca cumprir o prometido. Aliás, todos os seus amigos, verdadeiros ou falsos, sempre caçoaram dele por esta característica, mais do que isto, sempre comentaram pelas suas costas, sempre o tiveram como um grande perdedor, um homem sem metas, gente boa, mas perdedor.

Faltava um dia para terminar o ano e Epaminondas procurou Diego Figura com uma aposta absurdamente ousada, se fosse para frente, ele poderia recuperar a grana perdida e curaria aquele buraco negro em seu íntimo.

Chegou decidido, despejando palavras para espanto de seu interlocutor:


- Dom Figura. Tenho uma aposta irrecusável para propor, mas será do meu jeito ou não faremos.


O Figurão deu um gole rápido no seu gim tonica e, com o olhar de uma cobra velha que aponta para sua presa fácil, respondeu utilizando só um lado dos lábios:



- Mas olha só quem veio me procurar! Não aprendeu ainda? Seu negócio é rock de bicho grilo, já não basta ter perdido toda sua grana no ano passado e você vem me propor outra aposta. Gosta de perder uma vez por ano? Bom...Como sou generoso, diga logo o que quer apostar...Vamos ver o que sua mente planejou desta vez. Vai tentar pular de pára-quedas ordenhando uma cabra novamente? Nesta eu lucrei bastante...e como lucrei.

- Não, eu estava completamente chapado quando propus esta doideira...Você me conhece né Figura? Todos dizem que, embora sempre honre minhas dívidas de jogo, nunca cumpro minhas promessas. Na verdade sinto pavor ao pensar em cumprir o prometido e é justamente aí que está minha aposta.

- Conheço você muito bem Epaminondas, desembucha logo!

- Farei quatro promessas neste final de ano. Escreverei as quatro, colocarei em envelopes separados e revelarei duas apenas. As outras duas nós guardaremos dentro daquele cofre em formato de pirâmide e será aberto um dia antes do final do ano que vem. Eu garanto que consigo cumprir pelo menos uma das quatro promessas e, se fizer isto, o senhor me devolve aqueles “um milhão e setecentos mil” que perdi no ano passado. Se eu não conseguir cumprir nenhuma delas, garanto lhe entregar os bens mais valiosos de minha vida. Eu, Epaminondas Duran, perderei o meu velho violão e a mala de partituras que o senhor sabe muito bem o valor.

Diego Figura sentiu o estômago ferver. Desde sempre cobiçou aquela mala de partituras como se fosse o elixir da longa vida. Fora isto, o tal violão, dizia a lenda local, teria passado pelas mãos dos maiores violinistas do mundo antes de chegar até o pai de Epaminondas. Antes de responder, deveria esconder sua emoção e manter o seu clássico olhar peçonhento.

- Olha aqui seu roqueiro aposentado. Eu sei que você tem esta tal fobia e sei que é um perdedor nato, mas cumprir uma promessinha de merda não vale esta grana toda. Terá que cumprir pelo menos duas das promessas, e não me venha com promessinhas do tipo “vou me matricular na academia” ou “vou estudar uma língua estrangeira”. Mesmo assim, só vou topar por causa do grande gênio da música que seu pai foi. Por você, talvez eu nunca fizesse esta generosidade.

- Dom Figura. Garanto que consigo cumprir duas das promessas escritas. O senhor está aceitando a aposta agora?

- Epaminondas. Garanto que você não consegue cumprir promessa alguma, nem que tivesse cem anos para tentar. Aceito a aposta. Já me sinto dedilhando aquele violão.

Na capa dos envelopes lia-se: Promessa Um. Promessa Dois. Promessa Três. Promessa Quatro.

Todas foram escritas ali mesmo, com letras trêmulas e caneta barata.
Duas foram reveladas e provocaram risos em Dom Figura.
Na primeira, Epaminondas cortaria por completo a barba cultivada desde junho de 1969, sua marca registrada na época de sucesso. Na segunda, tocaria, sem erro algum, uma música que tanto seu pai como Diego Figura admiravam muito. Sarabanda Variada de Haendel seria executada, dedilhada, servida com alma de maestro e sem falhas.

Conforme o combinado, as outras duas foram diretamente para o cofre piramidal e os envelopes ficariam intocáveis até o dia D. Só Epaminondas sabia seu conteúdo.


No decorrer do ano os calendários passaram de forma diferente para cada um deles. Lento demais para a ganância de Dom Figura e rápido demais para a fobia de Epaminondas Duran. De qualquer forma, independente das fases da Lua, crises econômicas, capítulos de novelas ou conflitos internacionais, o tal dia chegou. O olhar de perdedor encontraria o olhar venenoso, a aposta seria julgada e, naquela altura do campeonato, todos os viciados e admiradores da jogatina local estavam lá naquela sala escura da casa clandestina de apostas para presenciarem a derrota. A vitória seria notada também, mas só a derrota viraria história definitiva.

Epaminondas apareceu de banho tomado, expressão leve e barba feita, mas não totalmente.O Bigode descia pelas laterais do rosto dando um ar de cantor country ao roqueiro aposentado.
Sua fobia não permitiu, impediu assustadoramente que o bigode fosse raspado. Alguns chegaram a tremer de raiva ao ver tamanha fraqueza.


Sentou em um banquinho, sacou uma partitura amarrotada do bolso, pegou um violão fabricado em Taiwan e tocou os dois primeiros compassos da música combinada. Executou com toda a alma que a arte merece, mas antes do terceiro compasso, atirou longe o violão e cuspiu na parede enquanto todos gargalhavam, todos, inclusive ele próprio, que ria mais de sua fobia do que de si mesmo.


O Figurão teve que falar...


- Amigos. Como vocês podem ver, este perdedor não conseguiu nem fazer a barba direito, está parecendo o Leôncio dos desenhos animados. Epaminondas, porque você insiste em fazer as coisas pela metade? E a música? Eu lhe pagaria a aposta com prazer se você executasse Sarabanda Variada de Haendel na integra, e olha que você começou bem...As promessas não foram cumpridas!!!

- Dom Figura, ainda faltam aquelas promessas do cofre...Posso abrir?

Promessa número três: Prometo que não cumprirei a promessa número um, nem a promessa número dois, ou seja, as duas promessas reveladas.

Promessa número quatro: Prometo que ganharei, com louvor, um milhão e setecentos mil de Dom Figura.

Tanto Diego Figura quanto os falsos e verdadeiros amigos de Epaminondas Duran nunca haviam presenciado resultado tão peculiar. E, para um homem de olhar peçonhento como o do Figurão, até que ele aceitou bem a derrota. Pagou centavo por centavo, o que não lhe fez tanta falta, afinal, morreria três dias depois do ocorrido.

É claro que muitos tentaram anular a aposta e argumentar com esta ou aquela desculpa, mas o jogo é assim; não há espaço para meias verdades ou, no caso, meios resultados. Epaminondas cumpriu na integra duas das promessas e levou a grana conforme o combinado.


Em casa, afinou precisamente o surrado e cobiçado violão, respirou fundo, bebeu um gole de vinho tinto de mesa e executou Sarabanda Variada de Haendel de acordo com uma antiga partitura e quase com a inspiração mágica de seu pai.
Em seguida, tirou calmamente do bolso mais um envelope com letras trêmulas:

Promessa número cinco: Prometo driblar, enganar, ludibriar aquele idiota do Diego Figura.


Três dias depois, num ato de nobreza, pagou todas as despesas do funeral do peçonhento jogador.


(Epaminondas Duran fez muito sucesso nos anos 70 com seu grupo " Epoxydurê e as Hippies de Shangri-lá")

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

PROMESSAS DE ANO NOVO – A FRALDA GERIÁTRICA

Já faz uns três anos que esse é um pensamento recorrente. Toda vez que, no auge da cervejada (geralmente no melhor da conversa), pinta aquela vontade de ir ao banheiro dar uma mijada, eu sempre comento que na virada do ano minha promessa será usar fraldas geriátricas!
Acho um saco para de trocar idéia pra ir ao banheiro!
Pra aumentar ainda mais meu ímpeto nessa questão, logo depois das primeiras vezes que eu comentei isso com alguns amigos, vi em um desenho no “Adult Swin” que o cara bebia a noite inteira sem ir ao banheiro uma vez sequer, o segredo: Claro! Uma fralda geriátrica! Eu sinceramente acho que isso seria um facilitador da vida moderna!
Bom, algumas pessoas não gostam disso. Preferem sugerir que eu pare de beber. Talvez eles estejam certos, mas eu prefiro o fraldão!
Porém a bebida e o fraldão criaram um paradoxo em relação às promessas de ano novo. O fato é que pra mim, a promessa só vale se for feita ali na virada. O problema é que nos últimos réveillons, geralmente eu estava bêbado demais pra me lembrar da promessa e do fraldão, e não foi diferente nessa última virada!
Droga, mais um ano inteiro interrompendo as conversas para ir ao banheiro mijar! Que saco!

Fora isso, o de sempre: Eu vou continuar mentindo, eu prometo!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

PROMESSAS DE ANO NOVO - A JAQUETA BUDISTA



Quero uma jaqueta budista.
Confeccionada com tecidos sintetizados a partir de plantas do Tibet.
Com seu ziper hermeticamente isolo-me das intempéries mundanas da cidade.
E mantenho meu ego menor do que eu.
E poderei praticar no ano que começa:
A sabedoria, a benevolência, a justiça, a cortesia e a fé.
São minhas promessas para o ano novo.
( mas só se eu ganhar a jaqueta budista ).

domingo, 11 de janeiro de 2009

ZINISTA LANÇA NOVO DJ SET


Ricardo Rossini, aka Idéia, nosso nobre companheiro de Zinismo, acaba de lançar seu segundo DJ Set, “Have You Seen Michael Cane?”. O nome do projeto é Frigideira DJ Set e dá pra ver o bom gosto da criança na escolha das músicas, bem como em viradas bem executadas. Baixe, escute e dance!

Frigideira DJ Set - Have You Seen Michael Cane?

Tracklist:

1 – The Bloody Beetroots – Cornelius
2 – Boyz Noize – Shine Shine (Shadow Dancer Unreleased Remix)
3 – AC Slater – Party Like Us (Udachi Remix)
4 – Don Rimini – Ohow?
5 – Reset! – Gasa (Dub Version)
6 – Mr. Oizo – Two Takes It feat. Carmen Castro
7 – Steed Lord – It's What U Do 2 Me (Jack Beats Remix)
8 – The Prodigy – Invaders Must Die

Artist: Frigideira DJ Set
Title: Have You Seen Michael Cane?
Released: 09 Jan 2009
Playtime: 27:57 min
Filesize: 25,0 Mb
Bitrate: 128 kbps










QUARTA SEMANA TEMÁTICA ZINISMO - PROMESSAS DE ANO NOVO



Muntazer al-Zaidi promete treinar sua pontaria para o ano de 2009...



E por incrível que pareça você pode ajudá-lo nessa missão.

QUARTA SEMANA TEMÁTICA ZINISMO -PROMESSAS DE ANO NOVO
DE 12 à 19 DE JANEIRO DE 2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

OBAMA ARANHA


O novo presidente dos Estados Unidos Barack Obama participa da edição número 583 do Homem Aranha, personagem do qual é fã declarado.

A edição está prevista para o dia 14 de janeiro e a trama gira em torno dos bastidores da posse de Obama que corre o risco de ser sabotada pelo vilão Camaleão que age a mando de uma liga de vilões liderada por George Bush, Sarah Pallin e o Zumbi Hitler.

Um gibi para ler, guardar e vender. Daqui a algumas décadas valerá um bom dinheiro.

Desconsidere a parte em itálico. Isso aconteceria se esse gibi saísse pelo Zinismo, e não pela Marvel.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

ALMA MATER - MOVEMENTS EP

Shoegazer e post rock numa pegada de rock progressivo! É mais ou menos assim o som do Alma Mater em “Movements”. Com nova formação (agora um sexteto) que inclui cello e violino, a banda de Ribeirão Preto (SP) mostra uma grande evolução nesse segundo EP. Lindas melodias, explosões, barulho, climas etéreos e muitas viagens fazem de “Movements” um álbum ambicioso e maduro, muito superior ao anterior “Biodestruct”. Segundo o pessoal do Alma Mater, “Movements” traduz a fase atual da banda: uma viagem ao interior da alma de cada um de seus integrantes.


Tracklist:

01. Intrapanic I
02. Intrapanic II - Don't Quit
03. Midnight in Heaven
04. Sky Kissing Cowboy
05. Blue Banks Case
06. Morningstar



Movements” foi lançado em formato digital simutaneamente pelos selos Sinewave e Groselha Fuzz.

Para baixar o seu, clique AQUI.

Ah! Vale lembrar que o baterista Gustavo AZ e o guitarrista Thiago Fuzz também tocam no Pale Sunday, banda que faz parte do casting do selo californiano Matinée Recordings, a Meca do guittar rock!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O GUITARRERO



Toda cidade pequena que se preze já teve um Guitarrero em sua praça. Balneário Fantasma não era diferente.

Naquele domingo de manhã Rodolfo passava pela praça voltando da feira do centro, quando viu aquela tradicional multidão que sempre se formava em torno de alguma atração na praça da matriz.
Como estava sem pressa para cozinhar o frango depenado que carregava consigo, parou para ver do que se tratava.
Lá estava. Um Guitarrero debulhando uma guitarra plugada em um pequeno amplificador.
Rodolfo sabia que ouvir um Guitarrero era uma questão de sorte. Geralmente não eram nada virtuosos, mas cantavam com fé digna de comoção. Se você tivesse a sorte de pegar um que tivesse um repertório cantarolável valia a pena vê-lo.

Rodolfo procurou uma brecha no meio das cabeças dos curiosos e começou a observar o pequeno show.
Era um homem de seus quarenta e cinco anos portando um belo “mullet” e bigode castanhos. Possuía um sorriso de cigano e rugas charmosas e sinceras em tornos dos olhos. Vestia jeans, camiseta florida e colete.

Rodolfo não gostava de hippies, mas resolveu dar crédito e audiência ao Guitarrero, pois o público parecia atento.

A música que o Guitarrero cantava era desconhecida, porém familiar.
A melodia tinha algo de conhecido, mas Rodolfo não especificar exatamente o quê. Começou a entender o porquê de tantas pessoas prestarem atenção ao hippie. Ele tinha carisma: cantava, sorria, babava com fúria na gaita - um show sincero. Valia a pena até despejar umas moedas naquele chapéu que estava no chão.

Rodolfo percebeu que a multidão se empolgava com o som ao ponto de perder a vergonha e acompanhar cantando em altas vozes as canções do Guitarrero. Para sua maior surpresa ele também se pegou cantarolando com o povo.

Dedilhados comparáveis ao dos Eagles, solos do Dire Straits, um vocal à la Creedence Revival. E as letras? Que letras eram aquelas? Músicas inéditas, sem dúvida. Mas como assim? Porque Rodolfo se percebeu cantando se nunca ouvira tais músicas? Porque lhes eram familiares?

E cantava. Cantava e parecia não dominar sua boca que abria e fechava num ritmo gostoso. Embora as letras parecessem claras, Rodolfo não sabia seus significados. “Foda-se” pensou, o que poderia haver de errado se sentia tão bem?

Começou a olhar um casal ao lado e estranhou algo, eles pareciam felizes também, mas cantavam outra música, que ao mesmo tempo era executada pelo Guitarrero, mais sensual e de vocal sussurrado. Reconheceu certa semelhança com o estilo de Marvin Gaye.
Voltou à sua canção e cantarolava, muito feliz.
Uma adolescente ao lado também lhe chamou atenção, ela berrava histericamente outra letra, outra música, um tanto boba, que também era executada pelo Guitarrero.
Rodolfo retornou o olhar para o casal vizinho e percebeu que eles se beijavam de modo lascivo e constrangedor. A música que eles cantavam era sensual demais para se restringir ao verbo.

De repente, as várias músicas se tornaram uma só, num refrão crescente e linear que se metamorfoseou enfim em um mantra.
E a roda abriu-se. Com seu sorriso largo o Guitarrero saiu tocando, conduzindo a multidão que recitava o mantra na qual a música se tornara.

Todos estavam muito felizes, satisfeitos e realizados. Não havia outra coisa a se fazer a não ser seguir o Guitarrero com seus acordes maravilhosos e porque não dizê-lo: celestiais!
Eis que o Guitarrero subiu na traseira de sua caminhonete velha e começou a bater palmas e formou-se um coro à capela.

Foi então natural: todos começaram a jogar seus valores no Guitarrero que batia palmas com seu sorriso cada vez mais largo, Rodolfo percebeu que seus dentes eram amarelos, mas que pensamento besta... Tirou sua carteira, seu relógio e até sua aliança e jogou na caçamba do Guitarrero, também era a única coisa certa a se fazer. E assim todos fizeram cantando e batendo palmas.

De repente a caminhonete começou a se mover e foi sumindo na poeira da rua principal de Balneário Fantasma. Todos deram adeus para o Guitarrero que sumia no horizonte, acenando de volta na caçamba do veículo– muitos tinham lágrimas nos olhos.
Alguns ficaram mais tempo – Rodolfo foi embora depois de vinte minutos. Pegou sua sacolinha de frango que jazia tristemente no chão empoeirado e começou seus passos para casa.

Foi andando mudo tentando digerir o que fora aquilo. À medida que se afastava do lugar onde estava a caminhonete e se aproximava de sua casa se sentia mais triste e crescia o abismo em si mesmo.

Como explicaria para Dinah a ausência de sua aliança.
-Maldito hippie!

sábado, 3 de janeiro de 2009

PAÍS SEM MEMÓRIA

Por Marcelo Viegas

O governo brasileiro tem um site oficial, e nele há uma galeria dos presidentes da república. No texto “oficial” sobre João Goulart, um trecho chama a atenção: “O Movimento Militar vitorioso de 31.03.1964, depôs o Presidente João Goulart, que deixou imediatamente o País. No dia 02 de abril de 1964 o Congresso Nacional declarou a vacância da Presidência da República, assumindo-a o Presidente da Câmara dos Deputados, senhor Ranieri Mazzilli.”

Mentira. Mentira! João Goulart não deixou o país imediatamente. Quando o desgraçado do Auro Moura Andrade (senador) declarou “vaga” a presidência da república, ele mentiu. Mentiu para um país inteiro. Fez todos nós de bobos. Jango estava em Porto Alegre, pois no Rio Grande do Sul (seu estado natal) ele sabia que tinha mais segurança, graças principalmente a fidelidade do III Exército ao seu cunhado Leonel Brizola, que “depusera o governador Ildo Meneguetti e, mais uma vez, tentava levantar o povo para resistir ao golpe de Estado.” (Moniz Bandeira, em “O Governo João Goulart – As lutas sociais no Brasil 1961-1964”, Ed. Civilização Brasileira)

Um site oficial da presidência deveria ser um instrumento de lembrança num país sem memória. Mas transmite informação equivocada. O que é pior? Um país sem memória ou um país com memória mentirosa?