quarta-feira, 13 de outubro de 2010

MAIS SWU!

Recebi hoje o e-mail de uma amiga jornalista que, como muita gente, passou estes últimos dias no SWU. Achei interessante compartilhar suas observações aqui no Zinismo, assim, depois da devida permissão, fiz um "copia e cola" no seu texto que segue na integra:

O QUE NÃO FOI DITO SOBRE O SWU

por Juliana Sassi

Que o SWU foi divertidíssimo me parece ser um consenso entre os participantes, mas o que incomoda é quando a organização do evento, jornalistas e alguns músicos querem dar um ar de “engajamento” à iniciativa.Como justificativa, cita-se como exemplo o fórum que ocorreu durante os três dias – do meio dia às 15horas – em uma das tendas do festival. Lá os convidados não enfrentavam fila para entrar, como ocorria com o público pagante, e ganhavam chocolates, bolachas e águas da Nestlé, uma das patrocinadoras do evento. A água vinha em pequenas garrafinhas de 300 ml, o que forçava um maior consumo e acumulava grande quantidade de lixo. A plateia era formada, em sua maioria, por estudantes universitários que trouxeram, muitas vezes, esses questionamentos à tona na parte final do fórum destinada às perguntas. Questionaram a grande concentração de lixo gerada pela estrutura organizacional do evento, não se podia beber a cerveja na latinha, então o conteúdo era transferido para um copo plástico descartável, não havia bebedouros, não era permitido levar comida, mesmo quem ficasse por três dias no camping, e quem era pego com comida na revista tinha que jogar no lixo.

A comida vendida no festival era cara e ruim – salvo a do restaurante vegetariano. Um hambúrguer, pão e carne, custava dez reais, e uma pizza brotinho – que diminuíra consideravelmente de tamanho no segundo dia – era vendida a oito reais. Tomar banho também era complicado, sete minutos no chuveiro e cerca de uma hora na fila. O chuveiro ligava e desligava sozinho, não podendo ser desligado caso o banho durasse menos do que o tempo determinado. O tempo do banho gerou um mercado paralelo e alguns campistas vendiam sua cota diária a outros que queriam um banho mais demorado. No camping Premium, que custava 500 reais, funcionava da mesma forma, não havendo favorecimento a quem pagara mais, como sucedeu em outras situações no SWU.

O primeiro a desfechar sua crítica aos privilégios concedidos no festival foi Zack de La Rocha, do RATM, por meio do blog da banda. Durante o show do Rage a pista Premium foi ocupada e o som dos microfones acabou sendo cortado diversas vezes. Aliás, o corte de microfones foi prática comum no evento. No último dia do fórum o Sr. Fisher, publicitário e empresário idealizador do SWU, foi vaiado pelos presentes após a exibição de um vídeo de conscientização feito pela modelo-manequim Ellen Jabour e outros colegas de profissão. Após o vídeo, o animo se exaltou e foi quando a apresentadora abriu para perguntas. Um estudante perguntou ao Sr. Fisher se ele achava o evento sustentável e citou alguns pontos observados durante o festival, dentre eles, se era sustentável um trabalhador receber 40 reais pelo dia de trabalho no SWU, momento no qual o microfone foi cortado e seguiu-se um coro de vaias. A apresentadora tomou as dores do Sr. Fisher e disse que não existiam bonzinhos e malvados, mas que o que importava era a intenção – o que fez feliz o pobre diabo. A sequente resposta do publicitário foi previsível, a promessa que no próximo ano o festival seria construído de forma democrática acalmou os ânimos e o Sr. Fisher saiu aplaudido. Lamentei por minha impressão inicial não estar errada, as palmas eram mais por instinto do que por convicção.

Hoje, nada disso parece ter importância, a mídia já divulgou o sucesso do evento, o Sr. Fisher está pensando nos próximos sete festivais já acertados. Mas preocupa pensar que qualquer iniciativa sob o manto da defesa ambiental e da sustentabilidade vende como água no deserto, criando um novo nicho de mercado, que cresce na medida em que o chamado marketing verde é introduzido nas grandes corporações – incluindo a mídia – vindo de brinde ao produto final a chamada “consciência do consumidor”.

O que se coloca como alternativa para salvar o planeta é a mudança no consumo, de forma individual – start with you – não a produção, e nunca o modo de produção. Inverte-se causa e consequência, sendo impossível, sobre essas bases, pensar em uma conscientização efetiva.

9 comentários:

  1. Coisas nefastas acontecem quando a rede globo está envolvida.

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  2. passei por td isso. mas ainda assim não me arrependo de ter ido devido a qualidade da maioria dos shows. bandas que eu realmente adimiro. mas politicamente acho uma merda um evento patrocinado por empresas como a nestle e a coca-cola querer falar de sustentabilidade, não faz sentido. capitalismo selvagem.

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  3. Ótimo texto, demonstra bem as contradições destes discursos ecocapitalistas. Espero que haja mais contribuições como esta.

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  4. Gostei da análise. Algo me diz que além de jornalista essa Juliana também deve ser cientista social. Algo me diz... hehehe

    Estive no último dia do SWU. E não vi nada que justificasse o gancho da sustentabilidade. Parecia um festival qualquer, com preços abusivos, tumulto, muito lixo no chão, o de sempre.

    Du, boa ideia de postar esse texto aqui!
    Juliana, valeu pela permissão!

    is we.

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  5. Muito boa a análise Juliana!

    Estive nos três dias e também tive a impressão de que muitas coisas deveriam ser diferentes se relmente houvesse a preocupação com a sustentabilidade. O que mais me fez refletir foi a questão da integração. Quem esteve presente no forum ouviu de diversos palestrantes o discurso quanto a necessidade de integrar as áreas dos saberes para conseguir transformar a realidade de forma mais concreta, porém o que presenciamos foi um festival totalmente desintegrado e desorganizado. Se entre os shows ao invés de passar propagandas dos patrocinadores tivessem passado vídeos de conscientização quanto ao consumo dos recursos naturais já seria um pequeno passo, mas não nada disso!

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  6. Logo que li o texto da Ju pensei...ZINISMO!

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  7. FU DI DO!

    Mas, aí... Aqui vai um toque de um vélhinho do rock!

    O CAMPING-
    Tava na cara que esse tal de ECO CAMPING era uma puta ECO ROUBADA! Quando soube do lance do temporizador no banho (gelado) já havia previsto num papo com minha mãe esse lance de comércio de banho!
    Agora, vejamos: O camping custava 80,00 cabeça/dia.
    Um casal que eu conheci no onibus que levou a gente da rodoviária até a Chácara Maeda, me contou que eles fecharam com um hotel em Itu, 100,00 cabeça/dia com café da manhã, banho quente, tv, internet, cama de casal e o gerente, sabendo do SWU, pelo fato de eles irem todos os dias, e que o festival acabaria já na terça de manhã, liberou o uso do quarto na terça até as 21:00 e não ao 12:00 como é o normal de uma diária, apenas para que eles tivessem um tempo para descansar!
    Tenho amigos mais abusados ainda, alguns ficaram na casa de uns brothers em Porto Feliz sem pagar nada, e o irmão do cara ainda levava e buscava eles todos os dias, outros, mais nijas, aproveitaram o feriadão e alugaram uma puta chácara com piscina, sauna, quadra e o cacete a quatro a menos de um kilometro da chácara Maeda.

    Enfim, o camping vale mesmo pra quem vem de longe, mas o que mais tinha era gente de São Paulo. Isso foi vacilo! Sério, o povo de Sampa podia ter se esquematizado de forma mais esperta. Camping em festival sempre foi roubada, desde Rock'n'Rio em 85!

    Quanto ao lance da reciclagem, sei lá, ví o povo da coperativa selecionando, processando e enfardando muito lixo, não vou entrar na questão de valores, porque já trabalhei com lixo, e ao contrário do que a gente pensa, LIXO É CARO!
    Ao menos no sábado ví vários caminhões sendo carregados com muitos fardos de material pronto para o reciclo, e na boa, tinha uma grana graúda alí.

    De qualquer forma, o relato da Ju ainda assim tem muito sentido, ainda existe muito o que melhorar, muito mesmo!!!!

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  8. Perspicaz esse Viegas heheh
    mas é isso, minha crítica é em relaçao a estrutura que foi montada, que não perspectivava ser sustentável. Não fosse o oportunismo do discurso, eu nem discutiria o festival - os shows foram ótimos.
    d474.r0307,sobre a reciclagem, vejo como um problema quando ela se torna desculpa para o aumento do consumo. Fomos bombardeados por marcas e produtos no evento, e marcas com práticas condenáveis e desvendadas há tempos. Como você disse, o lixo custa caro e tem enriquecido muita gente. Me ocorreu agora que seria interessante verificar se as próprias empresas que geram muito lixo – como as patrocinadoras do swu- não criam suas próprias empresas de reciclagem e lucram duplamente...
    Agradeço o convite e a oportunidade, gostei muito.
    Um abraço, Juliana

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