terça-feira, 20 de março de 2012
ENTREVISTA ROGERIO GEO - INDIE IS DEAD!
Não é novidade para ninguém que a internet se estabeceu como uma ferramenta poderosa para o aparecimento e divulgação de artistas plásticos jovens, dentre eles muitos oriundos das culturas punks e hardcore: fazedores de zines, de cartazes, de capas de cds, graffiti e tatuagem.
Muitos destes artistas resolvem extrapolar o suporte virtual, ganhando assim espaços em publicações impressas, fazendo exposições,fabricando seus próprios zines e livretos e entrando numa rede de correspondências e troca de materiais via correio que circula no submundo postal brasileiro.
É o caso do artista baiano Rogério Geo, cujas colagens estampam além da net, publicações nacionais e estrangeiras. Recentemente lançou seu zine de colagem Fell Paper e está com a exposição individual Atrofiando a Teoria (Em papel em Espirito) em sua terra natal, Lauro de Freitas, até o final de março.
Conversamos com o Geo sobre suas influências, zines, punk rock, espiritualidade, a cena de arte independente e etc.
Confira!
ZINISMO: Conte sobre a sua constituição enquanto artista e o porquê de sua opção pela colagem.
Rogério Geo: Tive meu primeiro contato com a arte na infância quando fazia desenhos enormes no chão e em tudo que achava. Costumava sujar tudo com canetas e tintas. Desenho desde que me entendo por “gente” e sempre recebia diversas reclamações (risos)! Mas foi só na adolescência, digamos assim, que tive um envolvimento mais profundo com arte. Foi quando comecei a me envolver com o punk rock e comecei a procurar saber dessa cultura e dos artistas das capas de discos.
Eu amava a capa do Incesticide do Nirvana e achava aquilo a melhor coisa do mundo, a combinação da fúria e da arte! Queria produzir algo naquela pegada. Aí com base nessa banda fui conhecendo tanta coisa e recebendo tanta informação de arte que fui desenvolvendo meu gosto pelas collages, que vieram com as primeiras capas do Green Day, os discos do DK da galera que eu conhecia e era mais velha no punk (ficava de queixo caído quando via aqueles encartes podres cheios de collage,uma por cima da outra).
Durante o período que tive banda produzi muita coisa de letras e collage mais dadaísta para nossas capas. Com o fim da banda fiquei me sentido péssimo por não poder me expressar da forma que eu queria e foi daí que comecei a fazer esse estilo de collage que venho produzindo até os dias de hoje.
No seu trabalho, as influências parecem vir de outros lugares além das artes gráficas. De onde elas elas surgem?
Sem me delongar, tenho bastante influência de literatura e poesia regional, mas a maior referência vem do punk rock e do “faça você mesmo” que é o que motiva uma juventude a se voltar para um lado mais sentimental e artístico ao invés de bobagens e alienação juvenil. Me sinto muito feliz por não fazer parte de todos esses estereótipos de gente bem sucedida socialmente, que são empurradas garganta abaixo. Sou fã de gente como Kurt Cobain, John Frusciante, Greg Sage e Ian Mackaye. São pessoas que na minha concepção levaram o “faça você mesmo” a níveis de entendimento que nenhum intelectual metido a romancista entenderia e que fizerem jovens como eu produzir o que podem e dar o melhor de si nisso, independente da opinião alheia.
Os artistas que têm sua origem no punk ou hardcore geralmente trabalham com uma estética mais agressiva, irônica e impactante. Percebo que sua linguagem caminha por algo mais sutil e sereno. Fale um pouco sobre isso.
Sou muito fissurado em surrealismo e poesias mais singelas. Também gosto da forma com que as pessoas extraem a raiva na arte mas não sei se isso é saudável ou mesmo o mais importante. Entendo e tento respeitar que alguns se expressem melhor xingando e murmurando em sites/trabalhos ou sei lá o quê. Uma vez um certo amigo meu disse o seguinte "quem grita mais alto, normalmente é ouvido mais fácilmente". Eu assino em baixo desta afirmação. Não sei, mas não combina comigo ser ANARCHY AND DESTROY. Para agregar um público fiel e tal, prefiro ser do meu jeito mesmo( cara de cidade pequena) e procurar conhecer novos amigos do que priorizar um lado Ruim do ser humano que infelizmente já vem de natureza. Raiva e frustração fazem parte na arte, mas publico fiel ao ódio é coisa para o SEX PISTOLS (risos). Penso assim, eu tenho é amigos que não tive ainda o prazer de conhecer( isso não é um clichê). Daí a serenidade da coisa.
Recentemente você lançou o (zine) Fell Paper que está afinado com uma tendência que se estabelece no Brasil de alguns artistas mais jovens encararem naturalmente os zines como suporte para suas artes e também de se envolverem na rede de troca de cartas e publicações. Fale sobre o Fell Paper e sobre este movimento.
O fell paper é um sonho antigo na verdade, porém materializado recentemente com bastante suor e a ajuda de alguns amigos como o Raom B e a Karin Cristina, que ajudaram na edição.
Antes dele já tive alguns outros mais “punks”. Sem querer pagar de Old school, esse não é o primeiro zine e nem vai ser o último. Assim espero. Já fiz alguns antes e tudo mais e falando sobre esse ”movimento” acho muito bonito. Acho romântico você receber um zine em tua casa nos tempos de hoje. Com cartinha então é de chorar cara! Eu tenho uma pá de zine de amigos aqui e também uns antigos de anarco punk/libertário, feminismo e etc, tem também uns de collage gringa que os amigos estrangeiros mandam. Curto muito ter publicações em zines e dou maior valor a quem faz essa intervenção, acho muita atitude pensar nessa forma de produção como divulgação pessoal e acho mais lindo ainda quando essa produção se torna coletiva.
Você é um artista que tem transitado por publicações impressas e também utiliza muito a internet. Como você lida com ambos os suportes?
Gosto de ambos, mas para ser sincero fico muito feliz quando rola impresso, o fato de tocar sentir o cheiro e ver que vai gerar uma agregação de mão em mão e entre amigos e amigos é muito agradável. Porém, publicações como a (Numero Único) do Fábio A e a SoLocos entre outras me deixam emocionado, porque ali tem tanta amizade e coletividade que conseguem derrubar a concepção de impresso que tenho. Acredito que deveria ser assim cara, as pessoas dão pouco valor para a produção virtual, é entendido como algo banal, que qualquer um pode editar com um programa vagabundo, mas no futuro essa galera acostumada com esse facilidade "de tudo muito rápido" vai dar valor a nomes como Fábio A dentre outros.
Como é o seu processo de criação?
Meio caótico: um bolo de papel amontoado no chão e nas cadeiras, tinta pra caramba e um monte de material. Daí começo fazendo muitas camadas de texturas a fio pra depois pensar na constituição dos personagens. As vezes fico dias, semanas e só consigo finalizar quando me sinto bem espiritualmente.
Você está com uma exposição em cartaz em Lauro de Freitas, sua cidade natal. Como foi expor pela primeira vez seus trabalhos numa individual?
Emocionante! Todo mundo que eu esperava foi e também muita gente que nem sonhava conhecer. Valeu muita a pena pois abriu algumas portas que só estavam fechadas por falta de uma ação mais direta da minha parte. Rolaram inclusive alguns convites que só posso divulgar futuramente, mas uma coisa é certa, logo, logo vou materializar alguns papos com amigos de longe e conhecer a natureza de certos lugares que só pude ver em filmes e fotos.
Compartilhe conosco um pouco da cena de colagem punk que assola o
Brasil.
A produção nacional de colagens sem duvidas está de parabéns. Aqui estão alguns dos melhores. Tem tanta gente boa que me perco na lista, mas ai vai: Fábio A, Rael Brian, Bá, Mauricio Planel, Marcia Albuquerque ,Camila Martins, Marcel Lisboa, Kauê Garcia, Alex Vieira,Gustavo Rocha, Abu entre tantos outros que colam, literalmente na cena. Espero que cresça cada dia mais e mais e que não precisemos ficar ouvindo ressaltes de vanguardas da “arte punk”. Que possamos criar nossa cena de forma sincera e jovem, não me importo com o termo “jovem”, acho que ser “jovem” é um estado espiritual, alguns são jovens demais para se entregar a arte e outros estão de corpo e alma nela, cabe a cada um fazer sua escolha.
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grande geo, moleque firmeza q faz um puta trampo legal! qria o zine!
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