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terça-feira, 10 de abril de 2012

NÚMERO ÚNICO: REVISTA VIRTUAL DE COLAGENS


Uma das atividades mais corriqueiras na vida de um zineiro dos anos 90 era resenhar outros zines. Mas, e já transferindo pro meu caso, não era hábito escrever sobre fanzines de arte. Ainda que todo zine seja uma pequena obra de arte, falo aqui do conteúdo mesmo: zines cujas páginas eram preenchidas por trabalhos artísticos. Não, nunca topei com muitos desses. Costumava receber o OLIX, do grande Lauro Roberto, mas aquilo não era pra explicar, era pra sentir, tocar, cheirar. Parada de arte mesmo, “tá entendendo”? A verdade-verdadeira é que explicar a arte por palavras é sempre uma tarefa ingrata. Mas, pra aliviar o peso da missão, existe sempre a (boa) desculpa da divulgação. E, por mais under-pride que seja o artista, ele sabe que sua obra, nome e estilo precisam ser divulgados. A obra, na minha humilde opinião, só faz sentido quando compartilhada, apreciada, dividida com outro vivente.

Prólogo longo demais para dizer o seguinte: segue nas próximas linhas uma tentativa de resenha do novo zine virtual (PDF) do nosso camarada Fábio A., que já deu as caras aqui no Zinismo noutras oportunidades.

Here we go...

Número Único (Entartete kunst) é o nome do brinquedo. Entartete kunst é “arte degenerada” em alemão, uma política/campanha de depreciação artística (da arte moderna) empreendida pelo regime nazista. Tem um livro muito bom sobre esse tema, chamado “O Modernismo Reacionário”, escrito por Jeffrey Herf e lançado no Brasil em 1994 pela Ed. Ensaio. Fora de catálogo, mas mole de achar em sebos físicos e virtuais, o livro mostra as raízes (República de Weimar) desse pensamento contraditório da direita alemã, que abraçava com fervor o modernismo técnico, ao mesmo tempo que propunha um retorno ao passado cultural. Daí o bem bolado titulo do livro, Modernismo Reacionário. De certo modo, uma compilação de colagens feitas a mão e disponibilizadas num arquivo PDF pela internet, não deixa de carregar um pouco desse espírito de misturar o moderno e o arcaico. Livre de qualquer menção nazista, fique claro!

O arquivo PDF traz 11 artistas. Colagem é a palavra-chave pra definir o conteúdo. Vou comentar na ordem da barra de rolagem.

Fred Free. Estadunidense da terra do Bruce Springsteen. Com um padrão de cores bem definido e ao mesmo tempo indefinível (bege, marrom, vermelho, cinza), suas colagens usam muitos recortes dos anos 60. Sabe usar o vazio. Resulta em obras bonitas. Retrô. Eu colocaria na parede (acho).

Rogério Geo. Conheci através do Grão. Já entrevistei pra Cemporcento. Suas obras selecionadas pra essa revista virtual fazem jus à sua principal característica: misturar temas históricos/políticos com pop art/grunge/rock. Entretanto, é legal ver colagens que se afastam um pouco desse padrão, como no estilo mais clean/sixtie do trampo da página 19. Gostei bastante da página 17, e algo me diz que “In Circles” faz referência ao Sunny Day Real Estate. Tô errado, Geo?

Um tal de Flávio Grão. Dizem que faz parte de um blog chamado Zinismo. Dizem que fez curso de HQ na ASBA. Dizem que suas telas (pinturas à óleo) são belíssimas. Dizem também que seu forte é desenhar, mas que sempre está manuseando tesouras e gastando dinheiro no Xerox. Dizem ainda que artistas são assim mesmo, inquietos e curiosos, atacando em diferentes áreas/estilos. Mas eu não sei de nada, não conheço direito o trampo do cara e por isso apenas reproduzo aquilo que ouvi falar. É o que dizem...

Sara Serna, colombiana, 22 anos. Colagens que retratam o universo feminino. Delicadeza (isso eu vi) e questionamento do atual papel da mulher no mundo (isso confesso que não consegui captar, mas aí é meu limite e não o dela).

Da sutileza da Sara pra depravação do Rael Brian. Velho conhecido aqui da casa. Sujeira, construção/desconstrução (ou o contrário, sei lá), hardcore, skate. O momento capa do Carcass (Reek of Putrefaction) dessa revista virtual.

Luiz Carioca. Como o apelido faz imaginar, é carioca. Não conhecia. Achei muito style descobrir uma caveira-monstro do ETE (Muzzarelas) no meio das suas colagens. Por outro lado, acho muito clichê recortes da Mona Lisa. O favorito é o trampo da página 52, que mistura uma marcha militar (os nazistas em Paris?) na Champs-Élysées com algum morro do Brasa. Bem legal.

Fábio A. Não vou falar desse cabra. Já falamos muito dele aqui. Teve até entrevista!

Rufus. Ele também usou recorte da Mona Lisa. Não é “da boca pra fora” quando digo que isso é clichê. Pessoal das colagens: chega de Mona Lisa! Mao, Hitler e Guevara também estão na lista dos famosos que devem ser evitados, ok?

Guilherme Adami. 17 anos, morador de Brusque (SC) e adepto das colagens. O que isso quer dizer? Só pode ser um reflexo de outro morador ilustre da cidade, o Rael Brian! Rael fazendo escola! O estilo do jovem Adami, no entanto, parece ser bem diferente da desgraceira do Rael. Mais limpo, mais baseado no PB, com utilização de imagens/fotos antigas.

Lucas Pires. De Niterói. Não conhecia. Trabalha com PB também. Tem geometria envolvida, alguma geometria pelo menos, afinal seus recortes são regulares/retos. Através de imagens, conta como foi a semana (qualquer semana ou uma semana específica? Isso não dá pra saber). Do tédio a maconha.

Alex Vieira, da revista Prego, encerra o Número Único com uma única obra. Trata do embate Copyright x Copyleft.

Baixe aqui o seu Número Único.

...

terça-feira, 20 de março de 2012

ENTREVISTA ROGERIO GEO - INDIE IS DEAD!


Não é novidade para ninguém que a internet se estabeceu como uma ferramenta poderosa para o aparecimento e divulgação de artistas plásticos jovens, dentre eles muitos oriundos das culturas punks e hardcore: fazedores de zines, de cartazes, de capas de cds, graffiti e tatuagem.

Muitos destes artistas resolvem extrapolar o suporte virtual, ganhando assim espaços em publicações impressas, fazendo exposições,fabricando seus próprios zines e livretos e entrando numa rede de correspondências e troca de materiais via correio que circula no submundo postal brasileiro.

É o caso do artista baiano Rogério Geo, cujas colagens estampam além da net, publicações nacionais e estrangeiras. Recentemente lançou seu zine de colagem Fell Paper e está com a exposição individual Atrofiando a Teoria (Em papel em Espirito) em sua terra natal, Lauro de Freitas, até o final de março.

Conversamos com o Geo sobre suas influências, zines, punk rock, espiritualidade, a cena de arte independente e etc.

Confira!


ZINISMO: Conte sobre a sua constituição enquanto artista e o porquê de sua opção pela colagem.
Rogério Geo: Tive meu primeiro contato com a arte na infância quando fazia desenhos enormes no chão e em tudo que achava. Costumava sujar tudo com canetas e tintas. Desenho desde que me entendo por “gente” e sempre recebia diversas reclamações (risos)! Mas foi só na adolescência, digamos assim, que tive um envolvimento mais profundo com arte. Foi quando comecei a me envolver com o punk rock e comecei a procurar saber dessa cultura e dos artistas das capas de discos.

Eu amava a capa do Incesticide do Nirvana e achava aquilo a melhor coisa do mundo, a combinação da fúria e da arte! Queria produzir algo naquela pegada. Aí com base nessa banda fui conhecendo tanta coisa e recebendo tanta informação de arte que fui desenvolvendo meu gosto pelas collages, que vieram com as primeiras capas do Green Day, os discos do DK da galera que eu conhecia e era mais velha no punk (ficava de queixo caído quando via aqueles encartes podres cheios de collage,uma por cima da outra).

Durante o período que tive banda produzi muita coisa de letras e collage mais dadaísta para nossas capas. Com o fim da banda fiquei me sentido péssimo por não poder me expressar da forma que eu queria e foi daí que comecei a fazer esse estilo de collage que venho produzindo até os dias de hoje.


No seu trabalho, as influências parecem vir de outros lugares além das artes gráficas. De onde elas elas surgem?
Sem me delongar, tenho bastante influência de literatura e poesia regional, mas a maior referência vem do punk rock e do “faça você mesmo” que é o que motiva uma juventude a se voltar para um lado mais sentimental e artístico ao invés de bobagens e alienação juvenil. Me sinto muito feliz por não fazer parte de todos esses estereótipos de gente bem sucedida socialmente, que são empurradas garganta abaixo. Sou fã de gente como Kurt Cobain, John Frusciante, Greg Sage e Ian Mackaye. São pessoas que na minha concepção levaram o “faça você mesmo” a níveis de entendimento que nenhum intelectual metido a romancista entenderia e que fizerem jovens como eu produzir o que podem e dar o melhor de si nisso, independente da opinião alheia.


Os artistas que têm sua origem no punk ou hardcore geralmente trabalham com uma estética mais agressiva, irônica e impactante. Percebo que sua linguagem caminha por algo mais sutil e sereno. Fale um pouco sobre isso.
Sou muito fissurado em surrealismo e poesias mais singelas. Também gosto da forma com que as pessoas extraem a raiva na arte mas não sei se isso é saudável ou mesmo o mais importante. Entendo e tento respeitar que alguns se expressem melhor xingando e murmurando em sites/trabalhos ou sei lá o quê. Uma vez um certo amigo meu disse o seguinte "quem grita mais alto, normalmente é ouvido mais fácilmente". Eu assino em baixo desta afirmação. Não sei, mas não combina comigo ser ANARCHY AND DESTROY. Para agregar um público fiel e tal, prefiro ser do meu jeito mesmo( cara de cidade pequena) e procurar conhecer novos amigos do que priorizar um lado Ruim do ser humano que infelizmente já vem de natureza. Raiva e frustração fazem parte na arte, mas publico fiel ao ódio é coisa para o SEX PISTOLS (risos). Penso assim, eu tenho é amigos que não tive ainda o prazer de conhecer( isso não é um clichê). Daí a serenidade da coisa.

Recentemente você lançou o (zine) Fell Paper que está afinado com uma tendência que se estabelece no Brasil de alguns artistas mais jovens encararem naturalmente os zines como suporte para suas artes e também de se envolverem na rede de troca de cartas e publicações. Fale sobre o Fell Paper e sobre este movimento.
O fell paper é um sonho antigo na verdade, porém materializado recentemente com bastante suor e a ajuda de alguns amigos como o Raom B e a Karin Cristina, que ajudaram na edição.

Antes dele já tive alguns outros mais “punks”. Sem querer pagar de Old school, esse não é o primeiro zine e nem vai ser o último. Assim espero. Já fiz alguns antes e tudo mais e falando sobre esse ”movimento” acho muito bonito. Acho romântico você receber um zine em tua casa nos tempos de hoje. Com cartinha então é de chorar cara! Eu tenho uma pá de zine de amigos aqui e também uns antigos de anarco punk/libertário, feminismo e etc, tem também uns de collage gringa que os amigos estrangeiros mandam. Curto muito ter publicações em zines e dou maior valor a quem faz essa intervenção, acho muita atitude pensar nessa forma de produção como divulgação pessoal e acho mais lindo ainda quando essa produção se torna coletiva.


Você é um artista que tem transitado por publicações impressas e também utiliza muito a internet. Como você lida com ambos os suportes?
Gosto de ambos, mas para ser sincero fico muito feliz quando rola impresso, o fato de tocar sentir o cheiro e ver que vai gerar uma agregação de mão em mão e entre amigos e amigos é muito agradável. Porém, publicações como a (Numero Único) do Fábio A e a SoLocos entre outras me deixam emocionado, porque ali tem tanta amizade e coletividade que conseguem derrubar a concepção de impresso que tenho. Acredito que deveria ser assim cara, as pessoas dão pouco valor para a produção virtual, é entendido como algo banal, que qualquer um pode editar com um programa vagabundo, mas no futuro essa galera acostumada com esse facilidade "de tudo muito rápido" vai dar valor a nomes como Fábio A dentre outros.


Como é o seu processo de criação?
Meio caótico: um bolo de papel amontoado no chão e nas cadeiras, tinta pra caramba e um monte de material. Daí começo fazendo muitas camadas de texturas a fio pra depois pensar na constituição dos personagens. As vezes fico dias, semanas e só consigo finalizar quando me sinto bem espiritualmente.

Você está com uma exposição em cartaz em Lauro de Freitas, sua cidade natal. Como foi expor pela primeira vez seus trabalhos numa individual?
Emocionante! Todo mundo que eu esperava foi e também muita gente que nem sonhava conhecer. Valeu muita a pena pois abriu algumas portas que só estavam fechadas por falta de uma ação mais direta da minha parte. Rolaram inclusive alguns convites que só posso divulgar futuramente, mas uma coisa é certa, logo, logo vou materializar alguns papos com amigos de longe e conhecer a natureza de certos lugares que só pude ver em filmes e fotos.


Compartilhe conosco um pouco da cena de colagem punk que assola o
Brasil.

A produção nacional de colagens sem duvidas está de parabéns. Aqui estão alguns dos melhores. Tem tanta gente boa que me perco na lista, mas ai vai: Fábio A, Rael Brian, Bá, Mauricio Planel, Marcia Albuquerque ,Camila Martins, Marcel Lisboa, Kauê Garcia, Alex Vieira,Gustavo Rocha, Abu entre tantos outros que colam, literalmente na cena. Espero que cresça cada dia mais e mais e que não precisemos ficar ouvindo ressaltes de vanguardas da “arte punk”. Que possamos criar nossa cena de forma sincera e jovem, não me importo com o termo “jovem”, acho que ser “jovem” é um estado espiritual, alguns são jovens demais para se entregar a arte e outros estão de corpo e alma nela, cabe a cada um fazer sua escolha.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

EXPO DETURPAÇÃO !



No próximo sábado abre a exposição Deturpação na loja Hotel em São Paulo.

A expo traz quatro artistas que têm em comum, além do uso da técnica da colagem, a idade e o gosto pela boa música (punk, hardcore e afins): Lucas Cabu, Eduardo Vaz, Kaue Garcia e Rael Brian .

Nesta exposição vão ser apresentadas diferentes técnicas de colagem, que são usadas como parte de um processo do desenho, ou como finalidade. Deturpação no dicionario significa: "não dar o verdadeiro sentido a"; alterar; corromper; desfigurar; estragar. 
Por isso o nome da expo. Destruindo, modificando, transformando, livros, revistas, papéis, em uma nova história, estamos deturpando seu significado inicial, para o fim que convir.

"DETURPAÇÃO" from lucas cabu on Vimeo.



Conversamos com o Cabu que falou um pouco mais da idéia da exposição, do seu trabalho e de seus comparsas:

"É a primeira vez que mostro colagens, é algo novo pra mim, um estudo. Sempre desenho de forma descompromissada e mostro os desenhos em zines ou uso eles em videos. Agora misturei esses desenhos com colagens e acho que curti o resultado.

O Kaue faz colagens há uns 7 anos, e o trabalho dele é especificamente isso. Usa revistas dos anos 60 e 70 e tem referências de arte-xerox, neo-expressionismo e outras manifestações de grupos de vanguarda de anti-arte.

O Rael é mais novo, ele estudou fotografia e pira em retratos, então ele faz uns rostos deformados com tanta camada de papel que as colagens muitas horas lembram pinturas a óleo. O Eduardo é o mais crânio, ele usa a colagem muitas vezes como parte de um processo de desenho. Pra essa exposição ele está montando uma instalação na parede.

O lugar lá é pequeno, despretensioso, é diferente de expor em uma galeria. Em um espaço assim você fica mais tranquilo pra mostrar trabalhos mais experimentais. Se tudo correr bem, essa vai ser a primeira de varias exposições no espaço.

Além da exposição, cada sabado de março vai ter um evento diferente.

Sábado dia 10, vai o Carlinhos (Carlos Dias), silkar adesivos e vai ter a radio Metanol, ao vivo de lá.

Dia 17, vai ter show da banda Deriva e dia 24 vai ter festa de encerramento da exposição. Estamos fechando a banda que vai tocar esse dia ainda
."

No dia da abertura haverá show com a banda Twinpinnes que estará lançando o EP "Beige". Os primeiros 50 que chegarem ganham o disco.



No dia haverá venda de zines, camisetas e gravuras dos artistas.





Serviço:
Exposição Deturpação.
De 03 ao 24 de março na Hotel Tees.
Rua Matias Aires, 78. Consolação.

Abertura dia 03.03 das 16 as 22 hs





quarta-feira, 9 de novembro de 2011

RAEL BRIAN = EXPO DESTRUINDO ROSTOS + ENTREVISTA



Rael Brian é um artista de Brusque (Santa Catarina) que se expressa através das colagens e circula pelo mesmo universo que o Zinismo, traduzindo: Skate, punk rock, hardcore, faça-você-mesmo e arte.

Por esta sintonia já passou por aqui algumas vezes e temos a grata satisfação de informar que sábado agora (dia 12 de novembro) haverá a abertura de sua exposição "Destruindo Rostos" no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso. Além da exposição, o artista dará uma oficina de colagem no domingo, dia 13.



O Zinismo conversou com o jovem niilista sobre arte, inspiração, processo de trabalho e nossa decadente sociedade.

No ano passado rolou uma exposição sua em Balneário Camboriú, com o sugestivo título “Raiva Espiritual". O que mudou da Raiva Espiritual para a "Destruindo Rostos"?
Não mudou muita coisa não (risos), a raiva e o nivel de perturbação continuam os mesmos. O que eu creio que mudou foi meu trabalho estar mais maduro por influência da faculdade de fotografia que fiz e ter dado uma outra direção com enfase no retrato. Cada dia mais emo e agressivo (risos).

Vivemos numa sociedade em que a valorização de um ideal de beleza faz com que as pessoas se submetam à (dolorosas) cirurgias plásticas para se sentirem bem. Esse tipo bizarro de comportamento é uma inspiração para sua arte?
Pode se dizer que sim, as pessoas estão sempre correndo atras de um status perante a sociedade que é baseado em cima da mentira, como ter uma aparência que agrade aos outros e que a ponha em um determinado grupo social. Tem um rosto e uma aparência bonita, mas por tras a historia é outra. Não posso falar muito porque tambem me incluo nessa crítica.



Embora o título de sua nova exposição seja Destruindo Rostos, seu processo de trabalho se dá também através da reconstrução de novos rostos através dos recortes de faces anteriormente destruídas. Na sua arte e crítica, o que prevalece para você: a esperança ou a descrença social?
Descrença total em tudo e em todos. Isso me tira muitas noites de sono (risos), não acreditar em nada e muitas vezes nem em mim mesmo. Os valores que imperam na cabeça das pessoas como crenças falidas e o lucro a qualquer preço me fazem ter uma descrença em qualquer coisa.

O que te influencia (tanto esteticamente quanto em termos de postura ou atitude)?
A estética suja e sincera de artistas como Mikey Welsh que infelizmente faleceu esses dias, que tinha uma arte completamente sincera e que não tinha medo de expor seus sentimentos. Gente como Thurston Moore, Tim Kinsella, Glen Friedman, Carlos Dias, Redson, me influenciam pela postura de sempre se renovarem sem perder sua identidade. Acho que é isso que procuro. DIY e sinceridade.

Por que colagem? Como é o seu processo de criação e construção dos trabalhos?
Porque nunca tive afinidade com desenho e pintura (risos). Não sei, o negócio pra mim tem um ar marginal, uma arte que simplesmente é uma transformação de algo que já existe e já tem função como uma imagem qualquer de uma revista e essa trasnformação vira arte (risos). Isso é muito doido pra mim. Meu processo é sempre o mesmo ou quase sempre. Chego no meu estúdio e vejo aquela bagunça, cheio de revista jogada no chão, poeira, mofo e penso "puta que merda" uhauhauha, que vontade de voltar pra casa e dormir (risos). Ponho um som, esse ano ouvi muito o Bitches Brew do Miles Davis e bastante rock emo como Elliott Smith, Joan of Arc, Braid para criar e faço uma pesquisa rápida nas revistas e começo a experimentar: camada por cima de camada, olho por cima de olho, boca por cima de boca e vai ficando uma coisa sem pé nem cabeça (risos). Até que a parada tome um rumo. É um processo lento pelo fato de eu ser bem seletivo com as imagens que uso.



Acredito que estamos vivendo no Brasil, uma cena forte de colagem com artistas influenciados pela cultura punk. Fale um pouco de seus comparsas nesta cena:
Acho que é uma galera que tem os mesmos ideais e uma vontade muito grande de fazer algo, de criar algo e dizer algo. A maioria se conhece e se ajuda como o Kauê Garcia e a Carol que sempre me ajudaram e apoiaram. Tem neguinho que tá numa pegada cabreira como o Alex Vieira, Geo, ... Acho que essa nossa geração tem muito ainda o que mostrar, isso é só o começo, muita coisa ainda está por vir.

O Rael foi um dos entrevistados na edição do ZINISMO impresso que saiu no ano passado e pode ser baixada aqui!



Serviço:

DESTRUINDO ROSTOS - Exposição de RAEL BRIAN
Abertura: dia 12/11, sábado 19h.
Visitação: de 13 a 30/11.
Oficina de colagem: 13/11, domingo 14h.

CCJ-Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso
Av. Deputado Emilio Carlos-3.641-Vila Nova Cachoeirinha-São Paulo -SP.

...

Blog do Rael.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

4 PERGUNTAS PARA FABIO A.



Recebemos estes dias o link do e-book Pensamentos aleatórios e outras coisas do artista paulistano Fábio A. e ficamos um tanto intrigados...

Devido ao seu surpreendente volume e qualidade de produção Fábio A. é um daqueles seres humanos que parecem contar com dias de mais de 24 horas. Seja com suas colagens e desenhos, com suas escritas ou com seu projeto (anti) musical Ajax Free, Fábio A. está sempre com alguma novidade “na agulha”. Em 2011, por exemplo, promete lançar 24 álbuns com o Ajax Free...
O ZINISMO não se conformou e foi tirar um pouco desta produção a limpo:




ZINISMO: Você produz arte em três frentes: Música, escrita e artes gráficas (colagem).
Como estas três frentes se equilibram (ou não) e como direciona suas forças criativas para cada uma delas?

Fábio A. Hmmmmmm... eu nem acho que deva haver um equilibrio. As coisas têm que ser muito soltas, muito livres na hora de criar.
Se eu definir que deva ser equilibrado então eu já criei uma imposição. Por exemplo:
Pra este ano de 2011 (de vosso sr. "Jésus Cristo"), me propus a lançar 24 albuns com o AjaxFree.
Alguns em parceria com outros ruidistas ao redor do mundo e outros somente eu. Isto não quer dizer que tenho que lançar uma certa quantidade de albuns por mês para cumprir minha meta.
4 albuns já estão prontos e disponíveis pra download (dê um search no 4shared.com) ou no meu blog.
Neste meio tempo tenho preparado mais uma série de colagens e um projeto para a Pinacoteca de São Caetano do Sul,
onde pretendo expôr com outros colagistas.
Na escrita tenho alguns textos inéditos e outros em processo de maturação.



Quais são suas influências artísticas? Cite alguns artistas contemporâneos que recomendaria para os leitores do ZINISMO:
Gosto muito do dadaismo, do início do surrealismo, de algumas coisas do grupo Fluxus e do cubismo de Pablo Picasso mas não me sinto influenciado por estes artistas/ movimentos pois não concordo com alguns parâmetros criados por eles.
Eu recomendo: rael brian, Sesper (Farofa), Tisborroinfaccia e Goya.

Como foi o processo de escrita de "Pensamentos aleatórios e outras coisas"?
O e- book foi escrito aos poucos. Nele existem textos do final dos anos 80, então resolvi montá-lo digitalmente e distribuí-lo na internet em 2002.
E ele sempre foi um e-book, nunca um livro impresso.
Em 2001/ 2002 eu tinha uns 3 sites: Artandfusion (pôsteres), Arte e Ofício (só de links legais) e o Caos666BR (gifs animados onde eu disponibilizava o e-book.
Hoje está tudo no desde69.zioanza.com.



Percebo neste e-book que você procura refletir sobre a situação do homem com o caos contemporâneo representado muitas vezes pela tecnologia. Qual sua visão sobre isso?
Eu amo tecnologia e quanto mais, melhor!
Se a tecnologia vai nos destruir?
Pode ser que sim e pode ser que não mas, uma coisa eu garanto: será um humano sem qualificação para o gênero humano o culpado pela cagada,e o pior de tudo é que seremos cúmplices!



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