sábado, 14 de novembro de 2009

ANONYMOUS OU A TRILHA SONORA DE UM FILME DE BANG-BANG ÀS AVESSAS


Por Marcelo Viegas


Eu posso mentir ou falar a verdade. Mentindo, eu posso dizer que Anonymous é simplesmente o novo disco do Tomahawk. Mas se eu preferir a verdade, então eu teria que dizer que se trata da trilha sonora de um filme indígena imaginário. Indígena, pois o “cara pálida” nele é vilão. Imaginário, pois esse filme não existe. Ou melhor, existe apenas nas cabeças de Mike Patton, Duane Denison e John Stanier.

Tomahawk é um dos inúmeros projetos/bandas de Mr Mike Patton, aquele mesmo que - à frente do Faith No More - botou o Guns n´ Roses no bolso naquele histórico show do Rock in Rio 91.
E antes que me perguntem, eu prefiro a verdade.

O veredicto, portanto, é: Anonymous é a trilha de um bang-bang às avessas. A perspectiva nele é a perspectiva das vítimas. Mas sem vitimização. Com orgulho, bravura, cabeça erguida...

1. war song
2. mescal rite 1 (sugestivo, né Ideia?)
3. ghost dance

No começo (do disco e da história) há a preparação para a batalha. Os rituais, cânticos e batidas que buscam a elevação do espírito e o condicionamento físico/psicológico para o derramamento de sangue.

4. red fox
5. cradle song
6. antelope ceremony

De repente parece que estamos ouvindo a trilha caótica/cibernética de um desenho do Pica Pau ambientado no faroeste. Mike Patton não solta a voz, e nem os freios da banda: tudo a seu tempo... Dá angústia esperar pela “explosão” que pode ou não acontecer. Mike Patton não quer exibição gratuita. Ele já teve isso. Todos sabemos do que ele é capaz. Hoje sua voz está a serviço de algo maior: da música, do disco, da história, do filme.

7. song of victory
8. omaha dance
9. sun dance

Cabeças rolam. Escalpe. “Sangue branco”, sangue impuro. Patton dá dinâmica a batalha com seu vocal insano... Os guerreiros retornam a aldeia. Haverá uma noite de celebração. Espíritos brincam no céu, crianças brincam em volta da fogueira.

Mike solta a voz. Parece new metal o refrão, mas aí eu lembro que foi ele que inventou essa porra no Angel Dust. Ele pode. Deixa o menino brincar...

Num determinado momento aparece uma dúvida: os brancos invadiram a aldeia para revidar ou é apenas uma celebração exagerada, com mescal em demasia?

Paira a dúvida.

10. Mescal Rite 2
11. Totem
12. Crow Dance

Mais um dia amanhece. O cheiro do mato, o barulho da água do rio. A sensação de que a vida é boa e continua. Sempre continua... Outras batalhas virão, outras doenças virão, outras vitórias virão, outras derrotas virão, outros filhos virão. Sempre há vida. Porque sempre há amanhã.
Tem algo oriental no ar, como num filme do Tarantino, que mistura as referências e confunde o expectador.

E mais mescal. Um segundo ritual. Preparação para outra batalha? Mike capricha nos graves de sua voz. O mantra ressoa e parece anunciar algo... para o bem ou para o mal.

Mas tudo fica claro: são os cânticos pelos mortos. As tristezas que sucedem mesmo após a mais gloriosa das vitórias. O ritmo acelera e de repente você se pega batendo os pés e dançando em círculos... Como os nossos ancestrais...

13. long, long weary day

O disco chega ao fim. O filme chega ao fim. Um dedilhado triste e solitário destoa do resto do disco... é a única canção que não faz referência ao universo nativo estadunidense.

Créditos sobem.
Silêncio.
Final.



Obs. Mike Patton conseguiu surpreender mais uma vez. Filho da puta!

*essa resenha é dedicada ao amigo Fábio A, discípulo da seita Ipecac e difusor de idéias subversivas em geral.

[Texto originalmente publicado no fotolog /o_livro em 29/05/07]

8 comentários:

  1. Não conheço.
    Me convencei a procurar para ouvir.
    Abraços.

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  2. Queria saber por que quando meus amigos escrevem algo sobre mescal, maconha, LSD sempre terminam com uma referência a minha pessoa?

    huahauhauahuahuahauhauhauahuahau!!!!

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  3. Mera coincidência, Ideia, mera coincidência... rs

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  4. Vo caçar agora esse disco!
    Vida longa ao Zinismo!
    abração
    Rg

    *também membro da seita Ipecac hehehe

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  5. Falando em peiote e a relação entre o funguinho de Deus e meu nome, sabia que eu e o Viola somos brothasso do Presidente da Ipecac??? e Presidente dos Xamãs da América do Sul????

    Aliás, o Marcos Fraga foi o cara que me fez ler "Aerva do Diabo" e todos os livros do Castañeda que seguiram depois! Na época ele e o irmão dele me iniciaram na arte Timothy Learyana de estado alterado da realidade e me levaram na minha primeira Rave. O irmão dele no caso, é o Dula que na época, circa 95, era o baixista do Marshmallow Pies!!!!


    isso sim é SUR RE AL!!!!

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  6. eu comi um espaço ali porque eu tô anêmico!!!

    *A Erva do Diabo!

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Andarilhos do Underground: ZINAI-VOS!!!