quinta-feira, 27 de novembro de 2008

FRUTAS FRESCAS E VEGETAIS PODRES



Por Ricardo Idéia

Confesso que tremi quando foi decidido o tema dessa semana. “Coincidência... ou não?” pode dar belos contos como os do Grão e do Zambetti, mas contos definitivamente não é o meu forte.
Pensei em algo mais parecido com a reflexão do Eterno, até porque aconteceram fatos, digamos, intrigantes desde que o tema foi decidido.
Primeiro o Zambetti postou por aqui um texto sobre softwares para produção musical caseira, exatamente no mesmo dia que meu “Vuze” (programinha similar ao SoulSeek, Kazaa, etc, mas destinado a baixar arquivos em torrents, geralmente gigantescos!) bufava com downloads de vários softwares para produção musical.
Dias depois disso enquanto eu e o Zambetti falávamos um monte sobre tais softwares, o Sapo Banjo banda do Zambetti fez um show aqui em Pira, bem perto de casa, mais que coincidência, nesse caso, conveniência!
Pra fechar o ciclo, mandei um rascunho da primeira brincadeirinha que fiz com os softwares que havia baixado no mesmo dia em que o Zambetti subiu um texto sobre o Subsapiens, projeto de Eden Silveira que também é voltado a música eletrônica assim como o meu.

Mas esse monte de acontecimentos envolvendo eu e o Zambetti não seria o suficiente para um post. Não aqui no Zinismo. Assim, apesar de maltratar meus neurônios durante anos a fio, foram eles que me socorreram nesse post.

Final da década de oitenta. No bairro do Ipiranga em São Paulo uma enorme molecada acompanhava a cena punk rock e metal e dividia tudo que podia (menos os punks xixi extremistas e os true metals de direita!). Dessa forma, discos eram emprestados e quase nunca devolvidos, mas no geral eles rodavam na mão de todos aqueles garotos afoitos por música.
Com um álbum específico criou-se até uma tradição. Aquele que uma vez teve o “Fresh Fruits for Rotting Vegetables” do Dead Kennedys, o adquiriu “surrupiando” seja na loja da velhinha ali no Sacomã, seja tomando o disco de outro “amigo” da galera.
Eu até tenho a teoria que existiam apenas três exemplares do vinilzão branco do DK no Ipiranga, mas esses três foram de umas quarenta pessoas!
É claro que eu mesmo tive um desses por um tempo. Numa das inúmeras festas que rolavam na minha casa, o vinil foi esquecido. Não marquei bobeira e logo fiz uns desenhos e escrevi “idéia” no rótulo com uma esperança ingênua de que com esses sinais ninguém iria roubá-lo mais de mim. Também não posso reclamar, o disco ficou um bom tempo em casa, e eu teria sido egoísta se “quebrasse a corrente”! Inevitavelmente o disco acabou sendo furtado de minha casa. Beleza! Havia cumprido minha parte na tradição do “Fresh Fruits...”
Alguns meses se passaram e de repente me bateu uma saudade daquele vinil, precisava arrumar um jeito (um trouxa) pra roubar o disco de novo. Fiquei sabendo que o Ratão, um playboy que morava duas ruas atrás da minha e que eu não ia muito com a cara, estava com um Fresh Fruits na mão. Passei umas três semanas amaciando o playboy na conversa. Foi difícil e quanto mais ele negava, mais decidido eu ficava que teria o disco de novo. Dei mole quando deixei roubar o meu. Porra! Tinha até identificação, meu nome no rótulo, que vacilo! A persistência foi grande e por fim o Ratão cedeu. Fiquei no portão da casa dele esperando enquanto o otário, quer dizer, o Ratão buscava o disco que eu nunca mais iria devolver. Catei o LP e nem dei muita idéia, já fui saindo, só queria saber de chegar em casa, fazer novos desenhos e escrever “idéia” no rótulo de novo. Corri na descida da Rua Bamboré pra chegar em casa, em frente a pracinha reparei que a capa estava toda danificada, rasgada, gasta e faltava uns pedaços, mas não tinha problema, o disco estava lá. Se não desse pra eu fazer uns desenhos no pouco espaço que sobrou da capa, o nome no rótulo já seria suficiente. Cheguei em casa, corri pro quarto, já estava com o canetão na mão, tirei o disco de dentro do resto da capa, aquele vinil branco, lindo, saindo do papelão estragado. Apreciei cada milímetro que aparecia até chegar o rótulo onde se via escrito “idéia”!
Foi roubando exatamente o mesmo “Fresh Fruits...” duas vezes que eu desenvolvi a teoria que no Ipiranga só existiram três cópias do Fresh Fruits for Rotting Vegetables!
E, só pra saber: Alguém aí tem o Fresh Fruits pra me emprestar?

15 comentários:

  1. Perfeito!
    Aliás esse é um disco perfeito! Uma aula de hardcore.
    Eu já emprestei esse disco... Mas não roubei porque provavelmente deva ter emprestado outro em troca.
    O Edu (zambetti) provavelmente deve ter muita história com esse disco, porque em muitas das bandas antigas que ele tinha era clara a influência dos Dead Kennedys. Aliás em uma das demos (acho que do Slush gods) tem uma cover perfeita de "Let´s linch the landlord"...
    Enfim meu caro... o Ratão não tinha esse apelido à toa...

    Abraço

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  2. Nossa!!!!
    em Mauá isso tbm era lei!! do meu (q foi rubado)sobrou apenas o poster que era classico tbm....e que foi surrupiado em umas das minhas mudanças.E só pra fechar andei procurando meu cd desse album e adivinha ...não sei onde ele foi parar!!!! a saga continua....

    “Coincidência... ou não?”

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  3. Boa, Idea!

    Tá vendo? É por isso que não empresto discos! hehehe

    A pergunta que não quer calar: por onde andariam essas 3 cópias do Fresh Fruits hoje em dia?

    abs

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  4. Nossa!!! Idéia...Muito bem observado...nunca fui tão citado num texto...eehehhe
    E o Grão tem razão...tenho inúmeras ligações com este “play”.


    Tive que preparar esta “sub postagem” de última hora...

    Uma das histórias foi mais ou menos assim...(não castiguei tanto minha mente como o Idéia...mas falha hora ou outra)

    Chegaria numa sexta ou num sábado a encomenda tão esperada.O encarte do “Fresh Fruit For Rotten Vegetables” seria retirado na lojinha de metal da Rua. Senador Flaquer. Meu amigo já havia retirado o LP, mas a gráfica atrasou a entrega do encarte...Minha mesada tinha acabado e não comprei o disco (quem sabe não peguei um lá na vila do Idéia).Cheguei a ouvir uns dois skatistas falando que nem iriam retirar o deles, só queriam o “play”.Acho que nem sabiam como era a arte e todo o contexto por traz daquela preciosidade gráfica e nem vem ao caso agora, só digo que era muito mais interessante do que o do Frankenchrist...Vocês sabem o que aconteceu por causa deste último não é mesmo?
    Voltando.
    Eu e o meu amigo estávamos voltando da loja, ele todo feliz com o encarte, vestindo sua camiseta do DK e cheio de buttons...Neste dia eu estava com agasalho de educação física, parecia um garoto comum, do tipo que nunca teve banda de punk rock.
    Avistamos um grupo de punks toscos de tudo... Os toscos idiotas nos enxergaram...Como tínhamos banda, cumprimentávamos todo mundo e fomos fazer o mesmo com eles...Só que ao invés disto, os caras distribuíram socos, rasgaram a camiseta, mas não mexeram no encarte...felizmente...
    Prestaram atenção...Socaram meu amigo e nem perceberam que eu estava do lado dele...Os caras perceberam que éramos da banda e colegas de um monte de outros punks nada toscos...Nem reagimos pois pararam as agressões logo que sacaram isto.., ou melhor, logo depois da boca do meu amigo ter crescido uns bons milímetros e os buttos serem esmagados pelos carros que passavam na rua. O Encarte ainda deve estar lá casa dele...Isto se não foi surrupiado por alguém.

    A coincidência é que este meu amigo atende sob o nome de Subsapiens...Leiam novamente o texto do Idéia e vejam como as coincidências não param de aumentar...

    UFA...escrevi muito para uma mensagem.

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  5. assim como não teve nada de coincidência você ter sido tão sitado em um texto que fala justamente de DK!

    Bom Viegas, pelo jeito esses três disco que estavam no Ipiranga foram parar em Mauá e Sto. André! O terceiro, tenho quase certeza que está em alguma casa pros lados de Balneário Fantasma!

    O comentário/post complementar do Zambetti já responde o Grão tb!

    Mas até agora ninguém me falou o que eu quero saber?

    Fresh Fruits pra me emprestar? Alguém? Alguém??

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  6. Eu falei...o Subsapiens AKA Eden...tem, se não foi surrupiado, é claro.

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  7. nossa!!!! "sitado" foi foda!!!!

    CITADO!!!!

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  8. nossa!!! É que na vibe das mensagens acabamos nem ligando para a forma correta da escrita...no caso acho melhor manter a vibe do que ter tudo correto né?
    Aliás...

    Fresh Fruit for Rotting (não rotten como escrevi) Vegetables

    para ser correto...

    e é isto..eheheh

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  9. Idéia, desista!
    Ninguém vai te emprestar esse disco depois dessa confissão de intenção de sumir com a bolacha!
    Vai ter que baixar em MP3!
    rsrsr

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  10. poxa, como vcs são maus!!!
    eu tenho em mp3, mas aí não dá graça, roubar da internet não tem o mesmo gosto!

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  11. HAHAHAHAHAH... Ah, meu caro Idéia, tu precisa apenas da fonética: Clap, clap, clap!!!

    Rapaz, que história boa sobre esse disco tão fodido!

    Hoje a molecada "hardcore" é desprovida desses lances aí, sem essas coisas de roubar discos, sem o lado sujo mesmo. Fez-me lembrar do dia que peguei esse disco pela primeira vez. E eu estive ali do lado do Ipiranga, morei próximo da Vila Prudente, sabe?

    Mesma época que eu pirava muito em Rage Against The Machine. Minha trilha para sessions de skate naquele bairro podre era " Holiday em cambodia" que COINCIDENTEMENTE anos depois no vi presente na trilha de "Tony Hawk's pro Skater" do play 1 mesmo. Belo post!!!!


    Graças e louvores à nós;
    Eduardo/Qaabo/Boqaa

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  12. tks Boqaa!!!
    Aquela região tem alguma coisa na água que faz as pessoas seguirem caminhos bastante parecidos. E olha que a gente veio se encontrar aqui, anos depois!
    muito massa isso!

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  13. ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão....

    por falar em roubar e DK, roubaram os óculos do guitarrista quando eles tocaram aqui, mas depois devolveram!

    só não sei se apareceu com um "Idéia" escrito em alguma parte dele!
    ;-)

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  14. issae Tibix!
    Isso é justiça!
    agora sobre o óculos, eu juro que não tenho nada a ver com isso, mesmo que os caras do DK até tenham mesmo aparecido no Ipiranga e tal, mas dessa vez não fui eu!

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