segunda-feira, 10 de novembro de 2008

THE LEMONHEADS & THE FUTUREHEADS

Por Marcelo Viegas

É um privilégio ver um show em Paris. Um privilégio ainda maior assistir um show do Lemonheads. Para abrir, nada menos que The Futureheads, uma banda inglesa das mais interessantes. Um clube pequeno, La Maroquinerie, foi o palco dessas apresentações, no dia 18 de setembro de 2008.

Com casa cheia o Futureheads subiu no palco. Um esporro do começo ao fim, sem trégua. Competentes ao extremo, os ingleses desfilaram um set baseado – majoritariamente – no seu disco novo, “This is not the World”. Mas também tocaram coisas do antecessor, “News and Tributes”, como “fallout” e a ótima “skip to the end”, acompanhada com palmas e cantoria pelo público. Quem já era fã da banda saiu rindo à toa, e quem não era foi visto comprando o disco no final do show. Agora era esperar pelo Lemonheads...

Sem firulas ou ego, Evan Dando entrou no palco como quem entra na sala de casa. Foi tão anti-star que muitos acharam que era um roadie. Apenas uns poucos quilinhos acima do peso, Evan é o mesmo relaxado de sempre, a começar pelo cabelo, idêntico aos áureos tempos da banda. Camiseta do Iron Maiden, calça jeans rasgada e um All Star branco, velho e surrado, completavam o visual do ex (ex?) símbolo sexual do rock alternativo.


Com uma nova formação (uma pena, daquelas bem lastimáveis, o fato de Karl Alvarez e Bill Stevenson, do Descendents/ALL, não estarem mais ao seu lado), o Lemonheads presenteou os fãs com um set list saudosista. Abriram com “rockin stroll” e tocaram o clássico álbum “It´s a Shame About Ray” na ordem e inteiro. Isso mesmo, na ordem do disco e de ponta a ponta, com exceção do cover de “mrs robinson”, que ficou de fora. Ainda bem.

A platéia, mezzo atônita (“cadê as músicas novas?”), mezzo realizada, entrava num túnel do tempo surreal, de volta a 1992. Evan estava doidão? Claro que estava, mas esse é o seu modus operandi há vinte anos. Talvez por isso, reflexo dos abusos, sua voz não seja mais a mesma. Aliás, na primeira metade do show estava sofrível. Ele colocou a culpa no ar condicionado do avião (“desculpem pela minha voz de avião”), e de fato sua voz foi esquentando e melhorando no decorrer do show.


Outras pérolas do set: “it´s about time”, “hospital”, “if I could talk i´d tell you” e “the great big no”. Por duas vezes a banda saiu do palco, e Evan encarou os parisienses sozinho. Por sorte, sua voz já estava recuperada nessa altura do campeonato. “Into your arms” foi apresentada assim, acústica e linda. De arrepiar. A única música do álbum mais recente (auto-intitulado) foi justamente a última do set, no bis, fechando esse show histórico: a fantástica “no backbone”, cantada em coro por um brasileiro que assistia o show bem em frente ao palco.

Evan sorriu. Talvez tenha pensado: “Ufa, alguém conhece as novas”. Disse adeus, virou as costas e deixou o palco, com a mesma simplicidade com que havia entrado. Ele sabe que não precisa provar mais nada pra ninguém. Ele já fez história, e às vezes pode brincar de visitá-la, como nesse show, numa fria noite em Paris.





Fotos: Oliver Peel e Anjali Knebworth

4 comentários:

  1. Cara, se eu fosse nesse show ia ficar pilhado para ouvir as músicas novas que são foda!
    É engraçado... para mim as músicas antigas representam um "eu" que não existe mais... Já com as do último disco me identifiquei muito, inclusive com as letras.
    Freud Explica, eu acho.

    ResponderExcluir
  2. Eu até concordo com o Grão, mas nem ia reclamar desse set, até porque ainda amo "Confetti"!
    Agora o Viegas é um sortudo da porra!!!
    Dois puta show classudos!!!
    Cheers mate!

    ResponderExcluir
  3. No começo do show eu fiquei pilhado, ainda mais qdo saquei o plano maquiavélico do Evan de tocar o "it´s a shame" inteiro. Lá pela metade do show comecei a sentir falta das novas, que - concordo com o grão - são cabreiras de verdade! Por isso fiquei o show todo gritando "No Backbone!"

    Consegui ver o set list, e "No Backbone" constava. Relaxei...

    Mas nada de musicas novas no decorrer do show. Minha teoria: o batera e o baixista novos são fraquinhos e ainda estão desentrosados (primeira tour deles), e tocar musicas feitas pela cozinha karl alvarez e bill stevenson não é pra qualquer um. Talvez por isso o Evan tenha apostado nas velharias, mais simples.

    Pra minha alegria, fechou com "No Backbone", uma das melhores músicas feitas nesse começo de milênio.

    Cheers, bros!

    ResponderExcluir

Andarilhos do Underground: ZINAI-VOS!!!